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19/03/2021 às 09h01min - Atualizada em 19/03/2021 às 08h46min

Anísio Teixeira: defensor de uma educação para todos

50 anos da morte de um importante nome da educação brasileira

Ianna Oliveira Ardisson - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos)
“A nomeação com que me surpreendeu o Dr. Calmon no princípio de seu governo, marcou a minha carreira. E hoje, por gosto e pela orientação que tenho aos meus estudos, pretendo não me afastar mais do campo da educação onde comecei a minha vida.”
 
 
Esse trecho da carta escrita por Anísio Teixeira ao pai, em 1927, expressa sua escolha da educação como profissão. Em 1924 foi convidado pelo governador da Bahia, Goés Calmon, para assumir o cargo de Inspetor Geral de Ensino, equivalente hoje ao de Secretário de Educação. Nessa experiência tem seu contato inicial com a educação, pela qual dedicou sua vida, e da qual não se afastou, como era seu desejo, declarado no trecho da carta acima.

Em 11 de março, completou-se 50 anos, da morte de Anísio Teixeira. Ele desapareceu após uma visita ao amigo Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. Ficou desaparecido por dois dias e depois foi encontrado morto. Nessa época de ditadura militar, várias famílias viviam esse drama de procura de informações por parentes desaparecidos. A versão oficial sobre a morte é a de que foi vítima de um acidente, o corpo dele foi encontrado no fosso do elevador do prédio de Aurélio de Holanda. A família nunca acreditou na versão sobre acidente no elevador, creem que pode ter sido assassinado como um ato de repressão da ditadura.

Uma escola pública, laica e obrigatória, esses princípios eram defendidos por Anísio Teixeira. Ele foi um dos importantes nomes da educação a assinar o Manifesto dos Pioneiros, em 1932, que propunha um novo rumo para a educação do país. Esse manifesto deu força ao movimento da Escola Nova, que, assim como sugere o nome, pretendia algo “novo”, uma renovação que valorizava um aluno ativo e criativo.

Em 1946, Anísio foi convidado por Octávio Mangabeira para ser o Secretário de Educação e Saúde da Bahia. Em 1950 fundou o “Centro Educacional Carneiro Ribeiro", mais conhecido como Escola Parque, lugar para educação em tempo integral. A Escola Parque foi um de seus grandes legados, foi pioneira na questão de educação em tempo integral e serve, ainda hoje, de modelo para implantação desse tipo de política educacional em todo o país. Prezava por uma educação do fazer, na qual trabalhos manuais eram comuns. Outra característica defendida como importante para qualidade da educação era a de um espaço generoso. Em seus estudos nos Estados Unidos, Anísio ficou admirado com os prédios construídos para as escolas, percebeu, então, a falta disso no Brasil, construções adequadas que fossem projetadas para um espaço educativo. Espaço apropriado para a escola era uma de suas proposições para uma boa educação e era algo presente na Escola Parque.

Nos anos 50, Anísio Teixeira atuou na direção do INEP (Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos), e foi também o primeiro dirigente da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (atual CAPES). Ele sofria pressões da igreja com relação a seus ideais educacionais, a questão da escola laica incomodava esse setor. Rubem Braga manifestou-se no jornal Folha da Noite, em 16 de abril de 1958 sobre isso:
“Conta-se que o professor Anísio Teixeira foi convidado a renunciar ao cargo de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INESP) e de secretário-geral da Campanha Nacional de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior (CAPES). Se Anísio Teixeira me permite uma opinião, eu lhe digo que não deve fazê-lo. Que o ministro ou o presidente o demitam. Ele é que não deve e não pode se demitir, porque isso seria reconhecer a legitimidade, de uma campanha que não é dirigida apenas contra ele, mas contra a inteligência brasileira no que ela tem de mais alto e mais digno. Instigados não sabemos por quem, os senhores bispos do Rio Grande do Sul assinaram um documento em que se pede ao governo da República a demissão de Anísio Teixeira. Esse documento é impertinente e injusto. Está claro que os bispos, como quaisquer outros cidadãos, podem opinar sobre o que bem quiserem; mas que o façam coletivamente, como autoridades eclesiásticas, sobre um assunto que foge à sua alçada, isso me parece um precedente perigoso e intolerável, tão intolerável como seria um ministro do governo que amanhã resolvesse opinar sobre a nomeação de um bispo.”

Outra importante contribuição de Anísio Teixeira que merece ser destacada é a de ter sido um dos idealizadores do projeto da Universidade de Brasília (UnB), inaugurada em 1961, da qual foi reitor em 1963.

Anísio pensava no povo, em uma educação pública que alcançasse a todos. O valor da escola pública de qualidade para a formação dos cidadãos é expresso no seguinte trecho do livro “Educação para a Democracia”, de 1936:
“Só existirá democracia no Brasil no dia em que se montar no país a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública”.

Educação pública de qualidade precisa ser efetivada no ensino fundamental e médio para que todos possam alcançar a possibilidade de uma formação superior. Investimentos em educação pública são necessários, primeiramente, na educação básica. Quando se pensa em educação não se pode esquecer da valorização dos professores que tanto precisam de atenção no nosso país. Investir na educação passa por investir no profissional que faz a educação acontecer. 

A universidade pública é também uma conquista que possibilita o acesso ao ensino superior àqueles que vieram de uma formação básica na escola pública, e a tantos outros que mesmo com a formação básica em instituições privadas, não teriam recursos financeiros para arcar com a educação superior. A privatização da universidade pública, uma possível cobrança de mensalidade aos estudantes da mesma, é uma preocupante situação que vem sendo discutida no Brasil. Em 2019, em uma entrevista ao “Entre Vistas”, da TVT, o ex-ministro da educação Fernando Haddad afirma que privatizar a universidade pública é uma falsa solução:
“O conselho de reitores soltou uma pesquisa feita com base em indicadores socioeconômicos. E o que demonstra essa pesquisa? Coisas surpreendentes, mas que aconteceram muito recentemente. Nada menos do que 70% dos estudantes das federais têm renda familiar média de um e meio salário-mínimo (...) então, mudou completamente o perfil. 51% são negros, pretos e pardos, segundo autodeclaração, e 60% são egressos de escola pública, portanto não tinham recurso para pagar o colégio, vão ter para pagar a universidade? Então, o banco mundial está fazendo uma conta imaginando que a universidade brasileira tem hoje o perfil que ela tinha no final do século, que era uma universidade branca, elitista, de média e alta renda, excludente, que não dialogava com os problemas nacionais, que não tinha participação das etnias, de todas as raças, de todos os perfis socioeconômicos. A universidade mudou, se você fizer a conta de quem, atualmente, pode pagar a universidade, você vai ver que a arrecadação possível vai dar alguma coisa em torno de 4 e 5% do orçamento da universidade. Estão vendendo uma solução que não existe, que é falsa.”

A criação da escola pública foi de extrema importância para alcançar o maior número de pessoas com a educação formal. A educação escolar, com conhecimentos sistematizados, deixa de ser privilégio da classe dominante e passa a alcançar a todos. Democratização da educação, como propunha Anísio Teixeira, é um grande ideal, educação tem que ser para todos. Muito ainda precisa ser feito pela qualidade da educação pública, mas mesmo com todas as carências existentes, ainda assim a escola pública é uma conquista que não pode ser perdida.

Referências:
Anísio Teixeira: educação não é privilégio. Direção: Mônica Simões. Brasil: TV Escola; TAL, 2007. 1 documentário (44,20 min). (Série Educadores brasileiros). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ls-FoXhfM_Yo . Acesso em: 15 de março de 2021.

BRAGA, Rubem. Impertinência. Folha da Noite. São Paulo, 16 abr. 1958. Localização do documento: Fundação Getúlio Vargas/CPDOC - Arquivo Anísio Teixeira - ATj61. Disponível em: http://www.bvanisioteixeira.ufba.br/artigos/cronica.html



 

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