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04/04/2021 às 11h24min - Atualizada em 04/04/2021 às 11h15min

A voz das mulheres surdas

Literatura feminina surda ganha espaço em um lugar que até hoje não é lembrada: a escrita

Yngrid Alves - Editado por Andrieli Torres
Fonte: Reprodução/PinClipart
 Sinais. Gestos. Expressões faciais. Há quem diga que tais mecanismos não é uma linguagem e julgam serem apenas complementos da comunicação. No entanto, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) é reconhecida como a segunda língua oficial do Brasil, desde 2002, pela Lei 10.436. Na prática, vemos que essa lei não é respeitada ou até mesmo conhecida, visto que a comunidade surda é negligenciada e excluída de diversas áreas.
 
A língua de sinais possui sistemas de escrita que possibilita aos surdos o registro de seu idioma, sem o uso de uma línguagem oral. Porém, a baixa abrangência desse sistema em sites, livros, jornais, revistas e quaisquer outros meios de comunicação por escrito, deixa evidente o descaso.
 
Mas, para trazer um pouco de esperança a essa comunidade, principalmente a feminina, sua existência e voz são representadas no texto “Eu sou surda, tenho a minha voz: leituras sobre autoria feminina surda”. Na produção, de acordo com a Revista USP, "a defesa por uma literatura de autoria feminina busca a formação de um espaço próprio dentro do universo da literatura mundial mais ampla, em que a mulher seja o sujeito do discurso e possa construir sua própria representação."
 
Por muito tempo, mulheres na literatura eram descritas de forma objetificada ou para a cobiça do eu-lírico, nunca como protagonista forte e com características que não sejam delicada, frágil, sensual ou doméstica. Nessa ótica de visibilidade à mulher, é possível dar protagonismo a essa figura com outras nuances e aspectos, além de representar a comunidade feminina surda ao inserir em um contexto que não seja sobre seus obstáculos na sociedade.
 
Priscilla Leonnor Ferreira, mulher negra, surda e graduada em Pedagogia e Letras com foco em Libras, em entrevista ao 'Nós Mulheres da Periferia', enfatizou a importância de a ocupação de mulheres surdas ter de ser crescente em diversos âmbitos. “Precisamos lutar e buscar o empoderamento das mulheres surdas e seu protagonismo nas novas modalidade de comunicação. Precisamos dominar nossos espaços e lutar por nosso empoderamento", disse.
 
Ter mulheres surdas contando histórias na literatura sobre vivências e outras óticas traz uma atenção maior ao feminismo surdo. Diminuir a população feminina surda em apenas suas dificuldades de acesso é ignorar que, por trás disso, todas têm visões, sentimentos, sonhos, desejos e, sobretudo, talento. Já passou da hora de largarmos os estereótipos ligados a essa comunidade e darmos a devida importância as suas individualidades.
 
A pedagoga, que também é poeta, compartilhou em sua conta no Instagram a poesia “Luta Autoestima”. Traduzida para os ouvintes, a obra mostra a dificuldade enfrentada por ela enquanto mulher negra e surda, porém com muita força e resistência, ela consegue. 
 
 
Assim como Priscilla, existem muitas que compõem a literatura feminina surda de modo a expressar seus sentimentos, sensações e pensamentos. Há a necessidade de ouvir e reconhecer a voz surda que por muito pouco são abafadas. Não cabe a nós, sermos os porteiros da literatura, onde decidimos quem pode ou não entrar. A literatura é de quem quiser fazer parte. A literatura é das surdas!

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