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17/04/2021 às 23h15min - Atualizada em 17/04/2021 às 22h28min

A literatura vibrante e densa do escritor japonês Haruki Murakami

Com livros que já foram traduzidos para mais de 50 idiomas, o escritor influencia a literatura mundial através da força criativa de sua arte com ideias e diferente linguagem

Bianca Nascimento - Editado por Andrieli Torres
Foto: Divulgação
Numerosas livrarias espalhadas pelo mundo ilustram em suas prateleiras as obras best-sellers de Haruki Murakami, escritor japonês que conquistou a literatura mundial com as características distintas presentes em suas narrativas envolvidas por elementos fantasiosos, música e personagens humanizados, que conduzem o leitor ao cenário irreal e possibilita uma imaginação e possíveis desfechos para os relatos inacabados a cargo da interpretação de cada pessoa.

“Procuro imprimir à minha literatura essa dimensão porque confio na reação corporal como algo autêntico, incontrolável, e se aparece creio que a história está funcionando. Se alguém no livro adoece, gostaria que o leitor vivesse seus sintomas. Esse é o propósito do relato”, disse em entrevista ao jornal El país.

Murakami nasceu em 12 de janeiro de 1949 no Japão, época em que as marcas da Segunda Guerra Mundial ainda deixavam resquícios no país e no universo literário e social japonês. Sua vocação foi desperta ainda na juventude por influência dos seus pais. O autor gosta de citar Franz Kafka como uma referência decisiva para as suas obras, que carregam o mistério e a realidade através das exposições de atmosferas fantásticas. O prestígio por Kafka deu origem ao título de sua obra: Kafka à Beira-Mar, livro narrado em primeira pessoa, que conta a história do adolescente Kafka Tamura e do senhor Sotoru Nakata, dois personagens distintos que apesar de os caminhos serem paralelos se cruzam inevitavelmente. Em 2006, Murakami recebeu o Prêmio Franz Kafka, prêmio internacional de literatura.

“Kafka é um dos meus escritores favoritos e já li suas obras inúmeras vezes. De certo modo, ler suas obras serviram para me introduzir como novelista”, relata durante uma coletiva de imprensa.

Apaixonado por música, principalmente por jazz, insere na literatura as melodias e os ritmos compassados e cria universos próprios de ficção relacionados com a mistura da cultura ocidental e oriental.

O escritor conquistou variados prêmios importantes do meio literário japonês e internacional através das suas inúmeras obras que conquistam o público, dentre elas:
 
Ouça A Canção Do Vento

‘Ouça a canção do vento’ foi o primeiro livro escrito por Haruki Murakami, publicado em 1979, é uma novela com texto de estrutura simples e linguagem direta. O romance de formação narra a história de um estudante que retorna a sua cidade natal nas férias veraneias nos anos 60. O livro se desenvolve nas lembranças do personagem e a busca por significados da vida.

Murakami aproveitava a mesa da cozinha para se desvencilhar de suas imaginações transformando em palavras para construir a sua obra primeira obra, considerada pelo autor apenas como um ‘romance de mesa de cozinha’ por ter sido escrito ainda sua juventude, período em que era dono de um bar de jazz.

Crônica do Pássaro de Corda

Visto como uma obra clássica, o livro apresenta as perdas e a solidão como temas principais das narrativas. Centralizado na história de um senhor japonês chamado Toru Okada, mostra a efemeridade da vida dos personagens que convivem com as angústias proporcionadas pelo cotidiano.

"É um livro que causa um certo estranhamento. O autor mescla fatos do cotidiano com um universo onírico", relata o leitor Thiago Cruz.
 
Sendo um romance distópico com uma trama misteriosa, o livro é inspirado na obra de George Orwell, 1984. O romance é composto por uma trilogia que conta a história de Aomane, instrutora de artes marciais e de Tengo, professor de matemática, jovens que viveram um curto período de amor quando crianças em uma sala de aula. Apesar de seguirem caminhos diferentes, ainda possuem lembranças um do outro e buscam se encontrar. As narrativas são repletas de fantasias, mundos paralelos, pessoas misteriosas e acontecimentos surrealistas, características presentes em todas as obras de Murakami.

"Para mim, 1Q84 é uma história de amor, e que diz que o amor pode vencer qualquer forma de opressão, dor, solidão, mágoa, angústia. O amor liverta. A opressão do mundo do livro não tem rosto e não tem nome, como em 1984 de George Orwell; não tem personificação. A opressão é a própria dinâmica social que torna tudo tão violento, cruel e frio. É uma linda história de duas pessoas que vencem até mesmo a barreira de um mundo paralelo insano e sem sentido para terminarem juntas", descreve o leitor Matheus Vieira. 
 
Minha Querida Sputnik

Publicada em 1999, a obra apresenta a história de um triângulo amoroso narrado em primeira pessoa por K, personagem que não identifica o seu nome. O narrador vive uma paixão platônica por Sumire, uma jovem de 22 anos que vive de maneira solitária e não corresponde ao mesmo sentimento de K, mas no decorrer da narrativa, se apaixona por Miu, uma mulher casada. Recheado de elementos fantasiosos, o livro trata da solidão e de como esse sentimento afeta as pessoas de formas diferentes.  
 
Norwegian Wood

Baseado em uma canção do Beatles, o livro foi publicado em 1987. É escrito na perspectiva de primeira pessoa e pontuado por cartas de três personagens: Naoko, Reiko e Midori. Apresenta como característica a relação das pessoas a lidarem com a solidão e transição da juventude para a vida adulta, com personagens realistas e situações cotidianas.
 
Apesar de ser nomeado como um dos principais autores mais influentes da literatura contemporânea, Haruki por ser discreto, não se surpreende com o sucesso global e prefere ser apenas um escritor do que ser considerado uma celebridade. A solidão criada por ele, em não querer aparecer nas mídias e não conceder entrevistas, permite uma relação mais profunda com os personagens, de modo a observar o contexto social através do que está à margem da existência humana e da sociedade contemporânea que tem como característica a exposição.

“Eu gostaria que me explicassem isso! Aconteceu nos últimos 20 anos. É gratificante, mas é algo que aconteceu com os outros. Continuo igual: escrevo de manhã, quatro ou cinco horas, a mesma quantidade de páginas, e quando me levanto da cadeira, só quero saber onde a história me levará. Por isso, volto no dia seguinte. Escrever é como o ar para mim. Gosto do puro prazer e da alegria de escrever. Esse é o propósito da minha vida. Sou feliz com isso. O resto não é tão importante”, expressa o autor em entrevista.

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