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30/04/2021 às 16h20min - Atualizada em 30/04/2021 às 16h16min

Rotina de desespero

A pandemia como um agravante para a nomofobia

Sara Moreira - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto/Reprodução: Getty images
De segunda a sexta, o alarme do celular toca às 07h30. Me levanto e vou ler o que aconteceu enquanto dormia, acesso os principais portais jornalísticos, e com isso gasto cerca de 20 minutos. Lembro que preciso comer, pego meu café e entro em minhas redes sociais. Perco o foco e, quando vejo o horário no topo da tela iluminada, já se passaram cerca 30 minutos como se fossem três, me assusto e largo o celular.
 
Pelo notebook faço login no site da faculdade e entro na temível aula online, uma das consequências da pandemia. Durante o aguardo até o professor se conectar, abro um aplicativo de vídeos curtos, fico ali por cinco imperceptíveis minutos. Sou puxada para fora da pequena tela em minha mão ao ouvir pelo fone de ouvido o professor dando "bom dia", solto novamente o aparelho. Tento me manter totalmente atenta ao que ele diz, e minha atenção plena dura menos de 15 minutos, algo parece me chamar e novamente pego meu celular e o fico encarando, são exatamente 08h47.
 
Fico ansiosa ao perceber que não consigo focar no assunto debatido durante a aula, sinto que estou girando digitalmente. Desbloqueio o celular, vejo que se passou apenas dois minutos desde a última vez que aquela tela se iluminou. Volto para a repetição, abro o Whatsapp, nenhuma mensagem. Entro no Twitter, nenhum assunto importante está em alta. Vou para o Instagram e em poucos segundos ele me avisa “isso é tudo, você viu todas as novas publicações dos últimos dois dias”. Irritada, respiro fundo e bloqueio o celular.
 
Minutos depois desisto da aula, desligo o notebook e vou me deitar junto do meu pequeno aparelho. Fecho os olhos e tento dormir um pouco. Não sei ao certo quanto tempo passou, mas o som de notificação do celular me faz abrir os olhos e pegá-lo. Vejo então uma mensagem da minha psicóloga, solicitando a confirmação da nossa sessão, online, para o início daquela tarde. Sinalizo que vou comparecer, bloqueio o aparelho e tento dormir novamente.
 
Desperto com o alarme avisando que faltam 15 minutos para o meu encontro virtual com Rejane Amaral, vulgo minha psicóloga. Assim que iniciamos a sessão ela me pergunta como foi meu dia e relato minha conturbada manhã. Ela então nota que relatos como o desta manhã se tornaram frequentes durante nossas conversas. “O uso em excesso do celular pode trazer malefícios como perda da produtividade e ter um impacto negativo para a saúde mental, como o desenvolvimento da depressão e ansiedade”, afirma Rejane.
 
Ela então me pede para descrever minha relação com o celular antes e durante a pandemia. Começo falando que sinto como se fosse um desespero quando fico sem meu celular mesmo que por pouco tempo, e que é comum para mim entrar em diversos aplicativos para dar uma checadinha no que está acontecendo. Completo dizendo que ir pulando pelos aplicativos costuma me deixar ansiosa em alguns momentos. E que não tenho lembranças de me sentir assim antes da pandemia.
 
Rejane então diz que “esses são alguns sintomas de nomofobia, e infelizmente a pandemia contribui muito para o avanço dessa fobia que nada mais é do que o medo de ficar sem o celular, de não poder se comunicar e se sentir extremamente ansiosa pela perda e ausência desse aparelho”. Dito isso, ela afirma ainda que qualquer um de nós pode desenvolver nomofobia, de jovens até adultos, e principalmente funcionários de empresas que estão em home office.
 
Para previnir que outros sinais desta fobia apareçam, minha psicóloga me recomenda os seguintes passos: o primeiro é uma espécie de “detox digital”, em que eu preciso treinar ficar algumas horas sem o celular, desligar as notificações pode ajudar; sempre relembrar que não sou onipresente, não preciso responder todas as mensagens ou notificações de cada aplicativo; tornar o celular menos otimizado, como, por exemplo, substituir seu alarme por um despertador ou relógio. Além disso, é recomendável tentar dormir um pouco mais cedo a cada dia, evitando usar o celular no escuro, já que ele acaba estimulando o cérebro e pode me deixar acordada durante a noite.
 
Admito que fiquei assustada com o indício de ter nomofobia, mas Rejane me tranquilizou e disse que era preciso um acompanhamento contínuo para conseguir um diagnóstico exato. Por fim, me disse que “o problema é que ter autocontrole não é fácil e, por isso, é importante ter a orientação de práticas terapêuticas”. E esse foi só mais um dia de minha rotina durante o isolamento social.
 

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