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03/05/2021 às 11h35min - Atualizada em 03/05/2021 às 11h17min

Telas

“E outra vez o horror de sempre — o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio”

Thiago de Oliveira - Editado por Andrieli Torres
Foto: Thiago de Oliveira

Os dias não são cinzentos. As cinzas tomam os olhos. 

 

Temo que ano que vem continue assim. Assim é difícil. Assim, do jeito que está, é extremamente difícil. Amiga minha certa vez disse-me que quando tudo melhorar… E eu disse: sim, quando tudo melhorar. Confesso que naquele momento a esperança ainda fagulhava. Mas assim, do jeito que está, é difícil.  

 

Viver olhando para uma tela. Finalizei meu primeiro ano de faculdade vendo pixels formando a imagem de uma pessoa num aplicativo de videochamadas me dizendo que quando tudo melhorar… 

 

Fazemos o que podemos. Não podemos muita coisa. 

 

Não sei como vamos olhar para tudo isso no futuro. “Oi, prof. Acabou que meu pai faleceu. Acontece, né. Mas vou entregar a atividade até o fim da semana sim”. História minha? Não. No meu caso foi “só” um tio.

 

Os dias são cinzentos e as cinzas arrancam os olhos.

 

Meu desempenho no primeiro ano da graduação foi bom tenho medo. Muita coisa tive que ignorar para ter um bom desempenho. Agora que o semestre acabou, não posso fugir do que outrora deixei para depois. O depois chegou. Questionamentos se consegui dar suporte para as pessoas que de mim precisavam são inevitáveis. Não sou só eu que sofro, [quase] todos sofrem. Veja.

 

Produzem a cinza e jogam nos nossos olhos. 

 

Metáforas ruins. Eu adoro a cor cinza. 

 

Ando conversando muito com Fernando Pessoa, e ele sempre me diz que o esquecimento é o que faz a vida continuar. Eu só esqueço quando durmo, e dormir tem sido difícil também. Não o ato de dormir, de conseguir dormir, mas de esquecer enquanto dorme. Sonhos. Sonhos… O início da manhã é a parte mais revigorante do meu dia. Consigo obter um pouco do esquecimento, mas olhar para telas faz eu me lembrar de tudo. Lembrar de mim. 

 

Um dia, Fernando me disse o seguinte: “E outra vez o horror de sempre o dia, a vida, a utilidade fictícia, a atividade sem remédio”. Talvez isso cause identificação em boa parte dos estudantes neste momento. Falo de estudantes porque falo de mim, mas tenho certeza que o que Fernando disse contempla muito mais pessoas. Ele é sábio. 

 

Saber o que acontece é diferente de entender o que acontece e eu não tenho conhecimento de nenhum dos dois. Só não consigo esquecer que algo acontece. Algo muito ruim acontece.  

 

Voltando ao suposto assunto, esta crônica é sobre o fim do meu primeiro ano na graduação de jornalismo. Eu gosto de falar das sensações. Objetivamente, não tenho muito a comentar. Enfim. Olhei para telas. Tive dor de cabeça.

 

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