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09/05/2021 às 00h00min - Atualizada em 09/05/2021 às 00h01min

Mandetta, Teich e Queiroga depõem na CPI da Covid

Vacinação e tratamento precoce são os temas mais abordados

Pedro Pupulim - Editado por Júlio Sousa
Randolfe Rodrigues, Omar Aziz e Renan Calheiros. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado
A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Covid interrogou nesta semana os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e o atual chefe da pasta, Marcelo Queiroga.
 
Mandetta, o primeiro convocado pela Comissão, foi ouvido na terça-feira (4) e falou por mais de sete horas. Visando blindar-se da culpabilização pela catástrofe sanitária que vive o país, o médico apresentou uma carta que teria enviado ao presidente Jair Bolsonaro ainda em 2020.
 
Na epístola, Mandetta alertava o presidente sobre o risco de “colapso do sistema de saúde e gravíssimas consequências à saúde da população brasileira”. Ainda, o ex-ministro afirmou que não foram oferecidas vacinas ao Brasil enquanto ele ocupava a chefia da Saúde, e que se isso tivesse ocorrido teria “ido atrás delas como se fossem um prato de comida”.


 
Adotando posição defensiva e sem subir o tom, o ex-ministro afirmou que durante todo o tempo em que esteve no Ministério seguiu as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), e que sempre pautou suas decisões com base na ciência.
 
Em sua declaração mais impactante, Mandetta relatou que Bolsonaro teve a intenção de, por meio de decreto presidencial, incluir a Covid-19 na bula da cloroquina (medicamento comprovadamente ineficaz no combate à doença).
 
Ele também não poupou críticas ao Presidente da República. Segundo Mandetta, Bolsonaro foi alertado por ele sobre a gravidade da pandemia, e mesmo assim o governo federal se recusou a fazer campanha nacional contra a Covid, o que refletiu nos números de mortos e infectados pela doença.
 

Sem autonomia
 
Na quarta-feira (5), o segundo a depor foi o ex-ministro Nelson Teich, que chefiou a pasta da Saúde por apenas 28 dias, em 2020. Em suas declarações, falou sobre medicamentos ineficazes, e relatou que Bolsonaro lhe retirou toda a autonomia de atuação no Ministério da Saúde.
 
O ex-ministro afirmou que decidiu deixar o governo quando foi pressionado por Bolsonaro a recomendar Cloroquina no combate à Covid. O médico reiterou diversas vezes ter tido conduta “técnica” durante sua gestão, apesar das investidas do presidente para que fizesse o contrário.

 
“Não teria autonomia necessária para conduzir da forma mais correta. Isso refletia uma falta de autonomia e liderança. Sem a liberdade para conduzir o Ministério conforme as minhas convicções, optei por deixar o cargo”, destacou Nelson Teich.



 
Quanto às estratégias do governo federal no combate à pandemia, o médico afirmou ser um “erro” apostar na imunidade de rebanho, tese já defendida por governistas.Também cutucou seu sucessor no cargo, o general Eduardo Pazuello, afirmando que seria mais adequado alguém com “conhecimento maior” em saúde para ocupar a chefia da pasta.

Durante o tempo em que foi ouvido, o ex-ministro evitou críticas mais diretas à pessoa de Jair Bolsonaro, e questionado sobre a postura do presidente, disse que não é capaz de mensurar o quanto ela influenciou no agravamento da pandemia no Brasil. “Honestamente não sou capaz de fazer, acredito que isso é papel da CPI”, afirmou.
 
Sobre a vacinação, o médico ressaltou que o Brasil poderia ter acesso facilitado aos imunizantes caso houvesse um plano focado nisso.
 

Em cima do muro
 
O atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi o terceiro a depor na CPI da Covid. Desde o início da oitiva, o chefe da pasta evitou se posicionar quanto às questões que pudessem colocá-lo em conflito com Bolsonaro, irritando alguns senadores. Seu depoimento foi realizado nesta quinta-feira (6), e durou aproximadamente nove horas.
 
No início de sua fala, Queiroga defendeu a vacinação da população e o fortalecimento do SUS (Sistema Único de Saúde). No entanto, ao ser perguntado pelo relator da CPI, o senador Renan Calheiros (MDB-AL), se concordava com o presidente Jair Bolsonaro sobre receitar cloroquina como tratamento precoce para a Covid-19, o médico se esquivou. Segundo ele, não era o momento de fazer “juízo de valor”.
 
O ministro seguiu fazendo uso da estratégia de “neutralidade”, o que aborreceu alguns senadores. O presidente da Comissão, Omar Aziz (PSD-AM), lamentou a falta de objetividade do médico.

 
“Ministro, o senhor está aqui como testemunha. Não tem esse negócio de dizer e jogar para terceiros. O senador Renan fez perguntas simples: faltou o quê? Não faltou o dinheiro. Faltou lockdown, faltou o que? Você está aqui como testemunha, estou aqui para lhe preservar. Não é achismo. É sim ou não”, reclamou o senador.

 
Mais uma vez indagado sobre a efetividade do tratamento precoce através da cloroquina, Queiroga repetiu sua conduta evasiva, afirmou que existem duas correntes na medicina acerca do assunto, e que é necessário chegar a um consenso.
 
Também incomodado com a estratégia do ministro, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), disse que o fato de Queiroga não querer fazer “juízo de valor” demonstra que ele não concorda com Bolsonaro.


 
A reunião foi iniciada às 10h e se estendeu até às 20h30, com intervalos. Ao menos 30 senadores tiveram seus 15 minutos para questionar o ministro.
 

Próxima semana
 
Confira o calendário da próxima semana da CPI da Covid:
 
  • 11/5 – Antônio Barra Torres, presidente da Anvisa;
  • 12/5 Fábio Wajngarten, ex-secretário de Comunicação da Presidência;
  • 13/5 – representante da Pfizer.


Referências:

CALCAGNO, Luiz e col. Confira ponto a ponto do depoimento de Mandetta à CPI da Covid. Correio Braziliense. 5/5/2021. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/politica/2021/05/4922287-confira-ponto-a-ponto-do-depoimento-de-mandetta-a-cpi-da-covid.html>. Acesso em: 6 de mai. de 2021.

GARCIA, Gustavo. Em seis horas de depoimento, Teich expõe à CPI divergências com Bolsonaro. G1. 5/5/2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/politica/noticia/2021/05/05/em-seis-horas-de-depoimento-teich-expoe-a-cpi-divergencias-com-bolsonaro.ghtml>. Acesso em: 7 de mai. de 2021.

MAIA, Mateus. Em 9 horas de depoimento à CPI, Queiroga evita cloroquina e irrita sendores. Poder 360. 6/5/2021. Disponível em: <https://www.poder360.com.br/congresso/em-9-horas-de-depoimento-a-cpi-queiroga-evita-cloroquina-e-irrita-senadores/>. Acesso em: 7 de mai. de 2021.

 

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