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06/06/2021 às 00h00min - Atualizada em 06/06/2021 às 00h01min

Nova coalizão é formada e Netanyahu deve deixar o poder em Israel após 12 anos

A mudança aprofunda o isolamento político de Bolsonaro no mundo

Pedro Pupulim - Editado por Júlio Sousa
Benjamin Netanyahu. Foto: Oded Balilty/EFE/Reprodução: Google.
Na última quarta-feira (2), opositores políticos do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, confirmaram a formação de uma coalizão que assumirá o poder do país. O Parlamento deve autorizar a aliança durante essa semana, dando fim aos 12 anos de permanência de Netanyahu no cargo.
 
O principal articulador da nova coalizão é o centrista Yair Lapid, ex-apresentador de televisão e opositor de longa data do Premiê de Israel. Lapid conseguiu o apoio do direitista Naftali Bennet e também da Lista Árabe Unida, configurando um grupo bastante heterogêneo do ponto de vista ideológico.
 
O acordo prevê uma gestão rotativa entre Lapid e Bennet. Primeiro, Bennet ocupará o cargo de premiê por dois anos. Depois é a vez de Lapid, que o fará por igual período. É uma situação semelhante ao que ocorreu entre 1984 e 1988: Shimon Peres governou o primeiro período do mandato e Yitzhak Shamir, do partido Likud, concluiu o governo.

 



POR QUE ISSO É POSSÍVEL?

A formação do governo em Israel é, de fato, estranha aos olhos dos brasileiros. Mas compreendê-la é crucial para entender o impasse político daquele país.
 
A cada eleição, 120 congressistas são eleitos para compor o Knesset (nome dado ao Parlamento). O partido que conseguir 61 cadeiras recebe do presidente de Israel - cujo poder é meramente cerimonial - o direito de nomear um primeiro-ministro.
 
Quando um partido está próximo de conseguir a maioria parlamentar, o presidente do país estabelece um prazo para que isso se concretize. Caso não ocorra, o mesmo presidente pode convocar um líder da oposição para tentar formar o governo, ou então reivindicar novas eleições.
 
O estado hebreu celebrou quatro eleições nos últimos dois anos, mas nenhuma delas separou Netanyahu do poder ou resultou num governo estável. Em todas essas situações, Netanyahu teve dificuldades em manter uma coalizão majoritária no Parlamento. Escândalos e acusações de corrupção contra o premiê tiveram grande influência nesse contexto.
 
Após o último processo eleitoral, em março, o partido do primeiro-ministro recebeu um terço dos votos totais e ganhou a chance de formar o governo, mas não reuniu os 61 deputados necessários. Assim, o segundo candidato mais votado, Lapid, foi convocado para formar um novo governo.
 
 
IMPLICAÇÃO NA RELAÇÃO ENTRE ISRAEL E PALESTINA

O grupo formado por Yair Lapid conta com políticos que flutuam por diversos espectros políticos. Dos 61 reunidos, quatro são árabes, o que é considerado inédito, segundo o cientista político João Lucas Moreira Pires, bacharel em políticas públicas pela Universidade Federal do ABC (UFABC) e mestrando em sociologia pela Universidade de Minho, em Portugal.

 
“É inovador. Eles [árabes] nunca compuseram nenhum governo de Israel diretamente, o que pode indicar uma abertura de diálogo com a comunidade árabe, que representa um quinto da população de Israel”, afirmou Pires.
 

Cerca de 1,6 bilhões de pessoas (23,4% da população mundial) se declaram muçulmanas. Isso pode representar um grande interesse sobre as questões que envolvem a região, seja de forma simbólica ou concreta.



 
 
BOLSONARO CADA VEZ MAIS ISOLADO

Mais uma vez Jair Bolsonaro (sem partido) se vê órfão de um de seus padrinhos políticos internacionais. Se há pouco menos de um ano Donald Trump deixava o governo estadunidense dando lugar a Joe Biden, agora é a vez de Benjamin Netanyahu se despedir do mais alto cargo político israelense.
 
Bolsonaro chegou a tratar o premiê como “irmão”, e frequentemente trocou elogios e palavras de apoio ao primeiro-ministro de Israel. Agora, o presidente brasileiro se vê mais isolado do que nunca no tabuleiro político internacional.
 
De acordo com João Lucas Pires, o alinhamento entre os dois chefes de estado era político, mas sobretudo ideológico.

 
Jair Bolsonaro tinha com Netanyahu uma relação pessoal, e não de Estado. Muito mais ideológica dentro de uma concepção de mundo, do que uma parceria estratégica para o país Brasil”, analisou Moreira Pires.
 

Para o cientista, o presidente da República também faz uso de sua afinidade com o governo israelense para estreitar relações com a comunidade evangélica do Brasil. “Eles [evangélicos] concebem Israel como um símbolo bíblico, profético. Há um alinhamento de interesses muito bem organizado nessa perspectiva”, salientou.
 
Analistas estrangeiros ouvidos pela BBC News Brasil avaliam a situação de forma muito similar. “Esse é o problema de ter uma política externa que não é uma política de Estado, mas partidária e ideológica. Antes de se dar conta, seus aliados podem sair do cargo e você sobra sozinho”, disse o professor Christopher Sabatini, pesquisador sênior para América Latina da Chatham House, instituto real de pesquisa mais prestigiado do Reino Unido.
 
Fato é que o governo brasileiro já está isolado inclusive na própria região. Hungria, Polônia, Turquia e Índia são os únicos estados com quem o governo federal ainda manteria proximidade, segundo seus próprios critérios. Mas nenhum deles apresenta estabilidade. Resta, portanto, mensurar quão importantes são estes países para os interesses geopolíticos brasileiros.





REFERÊNCIAS:

G1. Opositores de Netanyahu conseguem formar coalizão para novo governo de Israel. G1. 2/6/2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/mundo/noticia/2021/06/02/opositores-de-netanyahu-conseguem-formar-coalizao-para-novo-governo-de-israel-diz-presidente.ghtml>. Acesso em: 4 de jun. de 2021.

SENRA, Ricardo. Governo de Netanyahu se aproxima do fim e aprofunda isolamento de Bolsonaro no mundo. BBC News Brasil. 2/6/2021. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/geral-57338025>. Acesso em: 4 de jun. de 2021.

Estado de Minas. Mais de dois anos de crise política em Israel. Estado de Minas. 2/6/2021. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/internacional/2021/05/30/interna_internacional,1271809/mais-de-dois-anos-de-crise-politica-em-israel.shtml>. Acesso em: 5 de jun. de 2021.

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