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18/06/2021 às 10h36min - Atualizada em 18/06/2021 às 10h20min

Adultos também leem livros infantis

Como a leitura infantil pode ser essencial no autoconhecimento de 'gente grande'

Ianna Oliveira Ardisson - Brenda Freire
Fonte/Reprodução: Google
Será que livros infantis são materiais exclusivos para crianças? Recentemente Lázaro Ramos, conhecido ator global, declarou em uma entrevista o interesse dele pela literatura infantil, “leio livros infantis mais para mim do que para meus filhos”, afirmou. Esse tipo de literatura, classificada como infantil, possui um encanto que alcança as crianças, mas também toca de forma especial os adultos dispostos a se aventurar sem medo de julgamentos.
 
Quando crianças, o que desperta a atenção primeiramente, são as ilustrações, a começar pelo desenho de capa do livro. O estímulo visual é algo muito forte na nossa sociedade. Dos cinco sentidos, a visão é, possivelmente, o mais explorado no dia a dia e é por meio dela que estabelecemos o primeiro contato em várias situações diárias. Olhar para as gravuras de um livro nos leva a passear pela história e acende a imaginação. Como crianças, livres de qualquer julgamento, também podemos nos apropriar desse tipo de material para, simplesmente, admirar a beleza das cores e dos desenhos. Para um contato completo com as obras acredito que o primeiro passo é se permitir admirar as ilustrações como em nossas primeiras experiências da infância.
 
A riqueza dos livros infantis não se limita às ilustrações. Para além das imagens, muitos autores conseguem abordar temas profundos de forma simples e tocante. Um material que é feito para atingir as crianças e tem uma capacidade de sensibilizar adultos. Tenho alguns livros dessa categoria e recorro a eles para uma releitura em momentos conflitantes. “Chapeuzinho Amarelo”, de Chico Buarque, é uma obra que trata do tema medo e, vez ou outra, mergulho nessa história e encontro coragem para tomar certas decisões. Quando me vejo paralisada pelo medo, lembro da personagem que teve coragem e enfrentou o lobo. Na minha vida, é forte essa representação de coragem de Chapeuzinho Amarelo e essa história, simples e infantil, é capaz de despertar força dentro de mim. 
 
Daniela de Alcântara, psicóloga, explica a importância da literatura infantil na vida adulta e o que essa experiência pode nos proporcionar:
 
“Ler criar memórias sensoriais: as imagens, o cheiro, o barulho das páginas sendo passadas... Tudo isso remete às sensações que temos durante a nossa infância. Nesse sentido os livros infantis atingem a inocência e a época que toda criança sonhava em ser alguém e transformar o mundo. Por isso os livros infantis resgatam a esperança e sentimentos de acolhimento e de afeto infantis.”, afirma.
Percebo em minha experiência, que ler livros infantis me transporta para a infância, em um tempo de preocupações menores, no qual a ajuda e apoio dos adultos era sempre presente nos momentos em que não conseguia realizar algo sozinha. Muitas vezes, para mim, o que renasce no contato com o infantil é o sentimento de acolhimento mencionado pela psicóloga anteriormente. Além disso, é gostoso ler esses livros porque, são histórias com linguagem simples e direta que nos fazem entender o que se passa sem grande esforço de interpretações. Outra contribuição relevante, é que de forma leve são trabalhados temas profundos como faz Rubem Alves em “A menina e o pássaro encantado”. Ele consegue tratar de separação e saudades em uma história curta que nos envolve e faz refletir sobre sentimentos tão difíceis de lidar. É uma literatura delicada que nos toca sem machucar assim como fazemos ao nos aproximar de uma frágil criança. Sobre a relação pessoal de Daniela com os livros infantis ela conta:
“Gosto muito de livros infantis e tenho dois preferidos: O pote vazio (Demi) e Você é Especial (Max Lucado).”
 
 “Alguns terapeutas relacionam a afinidade dos adultos com livros infantis, com a criança interior. Mas essa criança interior nada mais é, do que a memória que o adulto tem de quem ele foi quando era criança. Assim, para algumas pessoas, ler histórias infantis as aproximam de sensações afetivas muito positivas vividas na infância, na época que se formou a criança que que elas eram”, explica a psicóloga Daniela.
 
Ela acrescenta que “as teorias que trabalham com a criança interior, usam de instrumentos lúdicos como livro infantil para ressignificar memórias antigas ou até mesmo acolher as vivências que a pessoa teve de uma forma mais saudável.”, conta.

Lázaro Ramos, um amante dos livros infantis, tem também a capacidade de expressar sua sensibilidade por meio da escrita dessa categoria literária. Ele é autor da obra infantil “Edith e a velha sentada”. Sobre a menina Edith, por ser tão sem energia, questionou-se na trama, se teria “uma velha sentada dentro da cabeça”, e então, é dada a ela a oportunidade de fazer uma viagem fantástica em busca de autoconhecimento. Nós precisamos parar de tempos em tempos e embarcar nessa viagem proposta. De forma singela Lázaro nos faz olhar para nós mesmos e questionar nossas atitudes diárias, perceber como temos levado nossas vidas, quais têm sido nossas escolhas cotidianas. Lázaro Ramos lançou neste ano mais um livro infantil, “O Pulo do Coelho”, e tem também outras obras do gênero publicadas como “Caderno de rimas do João” e “Sinto o que sinto: e a incrível história de Asta e Jaser”.

A literatura infantil produzida com propósito, é capaz de atingir a todo tipo de público e está disponível para todos que estejam dispostos a viver uma experiência simples e profunda. Daniela de Alcântara  relata utilizar  livros infantis como instrumento em seus atendimentos adultos com muita frequência. Como consequência ela observa que “invariavelmente, eles são instrumentos poderosos para criar consciência e mudança”. Vivenciar o universo infantil, por meio da leitura,  é também uma oportunidade de aprendizado, crescimento e autoconhecimento.
  

 

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