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25/06/2021 às 10h19min - Atualizada em 25/06/2021 às 09h41min

Violência contra crianças e jovens negros

Balas interrompem sonhos e destroem famílias nas favelas do Rio de Janeiro

Isabelle Gesualdo - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/ Google

Na última sexta-feira (18), Thiago da Conceição, 16, acordou pela manhã e, em sua locomoção do quarto para a sala, foi alvejado por um tiro na cabeça. Thiago, jovem negro, favelado, estudante. O sonho de ser militar foi interrompido por um projétil de bala. 

 

No dia em que Thiago morreu, a Polícia Civil realizou a Operação Coalizão Pelo Bem, no Complexo da Penha, para prender chefes de quadrilha de outros estados que se escondiam na favela. Em entrevista ao G1, Jeovane dos Santos, tio de Thiago, afirmou que o tiro veio de um policial civil, que eram os únicos que estavam na comunidade no momento. 

 

“Não havia nenhum policial naquela localidade. Eles perceberam um tumulto à distância, e obtiveram a informação que o adolescente tinha sido baleado”, disse Rodrigo Oliveira, subsecretário do RJ, durante coletiva de imprensa. 

 

Em entrevista ao G1, o tio de Thiago afirmou que assim que o adolescente foi baleado, a família pediu ajuda aos policiais, os mesmos negaram o pedido de socorro. O jovem foi socorrido pelos familiares e levado ao hospital. Vídeos gravados por moradores mostram carros da polícia na região, no exato momento em que Thiago é resgatado pelo carro do tio. 


As balas quase sempre encontram corpos negros. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), os casos de homicídios contra pessoas negras aumentaram 11,5% em uma década. Por outro lado, os homicídios contra pessoas brancas apresentaram queda de 12,9%. A cada 100 mil habitantes, 13,9 homicídios são contra não negros; a taxa atingida é de 32,8, de acordo com estudos feitos com base no Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.  
 

Thiago da Conceição virou mais um número, mais um sonho interrompido. Casos como este fazem parte da normalidade na vida social dos moradores de favelas. Alguns casos reverberam enquanto notícia quente e logo caem no esquecimento da sociedade, mas nunca no da família.

 

Não esquecemos de: 

 

Marcus Vinicius, 14 anos, estudante, flamenguista, só tirava nota B na escola, segundo a mãe. Foi morto a caminho da escola, em 2018, na favela da Maré, por policiais civis que sobrevoavam em helicópteros. Testemunhas viram o exato momento em que atiraram na direção do garoto, que teve a vida ceifada com o uniforme da escola.

  
 

 

Ágatha Felix, 8 anos, foi alvejada com tiro nas costas, em 2019, enquanto estava dentro de uma kombi com a mãe durante uma operação policial no Complexo do Alemão. O tiro partiu de um policial e testemunhas afirmam que não houve confronto no momento do disparo.

Agatha (8 anos) - foi a 16º criança baleada este ano no Grande Rio - a 5º que não resistiu aos ferimentos e morreu. Ela estava com o avô numa kombi quando foi atingida nas costas, ontem, no Complexo do Alemão. Estas são todas as crianças que foram vítimas em 2019: pic.twitter.com/8wYTOhbLyr — Fogo Cruzado RJ (@FogoCruzadoRJ).


João Pedro, 14 anos, sonhava em ser advogado, era um garoto estudioso.  "Nunca tirou uma nota vermelha, ele era meu orgulho”, disse o pai em entrevista ao G1. O garoto foi assassinado em 2020, no Complexo do Salgueiro, enquanto brincava com amigos na casa do tio. A bala de fuzil que o matou tinha o mesmo calibre das balas usadas por policiais que invadiram a casa. 





 

Kathlen Romeu, 24 anos, designer de interiores, estava grávida do primeiro filho. Foi atingida por uma bala na Comunidade do Lins, em uma operação policial, em junho de 2021. Kathlen era ex-moradora do Lins, tinha ido neste dia visitar a avó, ela e o bebê foram vítimas da violência.

 
 
 

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