Em muitos países o mercado imobiliário e a construção civil já estão mais aquecidos do que durante a bolha que causou a crise de 2008. Os estímulos à economia criados pelos governos geraram uma forte recuperação após a crise do coronavírus, mas também contribuiu para a elevação nos preços dos imóveis.
A companhia financeira Bloomberg, chegou a analisar a situação em um de seus relatórios. Nele a economista Niraj Shah concluiu que esses estímulos estão alimentando o risco de uma nova bolha imobiliária. O estudo classificou os países segundo os níveis de riscos. Dentre eles, três se destacaram: Nova Zelândia, Canadá e Suécia, que estão na zona vermelha em quase todos os indicadores.
Para Marcus Barboza, criador do blog Mercado Imobiliário Online, essa alta no mercado é compreensível, afinal o gasto com moradia não é algo supérfluo e sim uma necessidade básica. Na pandemia setores como de turismo, restaurantes, shoppings, dentre outros, sofreram fortes quedas e as pessoas passaram a economizar e adiantar alguns planos de logo prazo, como o da casa própria. Tudo isso diminuiu a movimentação na economia, gerando uma oportunidade para os bancos baixarem os juros, facilitando os empréstimos de longo prazo.
No Brasil a construção civil cresceu 10,7% no ano passado, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Com as construções e pequenas reformas durante a quarentena, as vendas de materiais de construção aumentou 38% no primeiro trimestre deste ano em relação a 2020, segundo um levantamento realizado pela Visa Consulting & Analytics. Já nos Estados Unidos e Canadá o preço da madeira serrada, matéria-prima para construção civil, vem aumentando consideravelmente devido à escassez do produto no mercado.
Dentre as 10 cidades brasileiras com as maiores altas de preços nos últimos 12 meses no Índice FipeZap, seis são do estado de Santa Catarina, a maioria delas no litoral, incluindo Itapema que lidera o ranking com um aumento de 18%. A lista também conta com a cidade catarinense de Balneário Camboriú, que possuí alguns dos maiores edifícios do país, como o Yachthouse by Pininfarina, com duas torres de 81 andares, em construção, quando estiverem prontas elas serão as mais altas do país.
Com o mercado aquecido, muitos investidores estão migrando para o interior. A queda na taxa de juros, abaixo da inflação e tornou os fundos imobiliários mais seguros e rentáveis para os investidores. Isso fez com que os investimentos no setor aumentassem, fazendo com que os fundos deixassem as principais cidades para apostar em projetos no interior do Brasil.
Marcus Barboza demonstra-se descrente quanto a um risco de uma bolha imobiliária. Ele explica que mesmo com a diminuição dos juros e o aumento dos empréstimos, o acesso ao crédito não está fácil. Marcus conclui que com os bancos emprestando para quem pode pagar suas dívidas, o avanço da vacinação e um possível retorno em médio prazo, da renda e do consumo, nós estamos mais próximos de um ajuste no mercado, do que de uma bolha econômica gerada por crédito fácil.
O presidente do Federal Reserve (FED), o banco central norte-americano, Jerome Powell, também descartou a existência de uma bolha no mercado imobiliário. Para ele, se trata de uma série de fatores temporários que estão influenciando o aumento de preços dos imóveis. Powell reconhece que as baixas taxas de juros ajudaram a impulsionar a demanda por imóveis nos EUA, porém não são as únicas responsáveis pelo aumento de preços. O FED vem comprando mensalmente, desde março de 2020, US$ 40 bilhões em títulos hipotecários.
Para Marcus o mercado imobiliário se fortaleceu durante a pandemia, pois teve que se reinventar e se ajustar à realidade. Ele lembra quando um lançamento de empreendimento custava 5% do Valor Geral de Vendas, com campanhas de marketing, na TV, nos jornais, outdoors e rádios. Marcus ressalta que o mercado já conhecia o marketing digital, mas foi na pandemia aprendeu a vender através da consultoria inteligente, com foco na geração de leads e acompanhamento da jornada de compra do cliente através de CRM de vendas. O foco hoje não está mais em lugares movimentados como os shoppings, mas sim em fotos, filmagens e nas redes sociais.
O mercado imobiliário online vem crescendo no país. Hoje temos muitas fintechs nesse mercado. Essas startups vêm inovando o mercado e facilitando as transações. Elas se especializaram em diversas áreas como crédito imobiliário, visitas virtuais, serviços burocráticos, manutenção e decoração, dentre outras. Os contratos virtuais deram mais agilidade nos trâmites burocráticos. Tudo isso eleva os níveis de eficiência do setor e esses avanços devem seguir cada vez mais fortes.
Marcus Barboza conclui que quando a economia e o consumo voltar, a jornada de compra retornará ao padrão anterior à pandemia. Ele afirma que o mercado se ajustara à nova realidade das pessoas, seja ela qual for.