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27/03/2023 às 13h36min - Atualizada em 27/03/2023 às 12h04min

Especialista diz que políticos não podem fazer nada para que a Selic diminua

Segundo a economista Paula Miyashiro o momento não é bom para realização de empréstimos, mas há um lado positivo

Por Naiane Feitosa - Editada por Uilson Campos
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Na última quarta-feira (22/03), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decidiu, por unanimidade, manter a taxa básica de juros da economia, Selic, em 13,75% ao ano. Com a porcentagem mantida pela 5° vez, o Brasil segue com a maior taxa de juros reais do mundo. Devido o impacto negativo da taxa, o governo Lula segue com pressões ao BC, mas segundo a educadora financeira Ana Paula Miyashiro os políticos não podem fazer nada.

O ministro da Casa Civil, Rui Costa, comentou que o governo irá continuar pressionando o BC pela redução da taxa Selic, porém a pressão pode não adiantar. Em entrevista exclusiva ao Lab Jornalismo, a educadora financeira Paula Miyashiro explicou que a Selic vem para manter um equilíbrio e o que devemos fazer é esperar.

Educadora financeira Ana Paula Miyashiro (Foto: Arquivo Pessoal)


“Os políticos não podem fazer nada para que essa taxa diminua. Ela é calculada com base em vários índices, inclusive a inflação. Você percebeu como as coisas subiram de valor depois da pandemia? A economia ficou fragilizada e tudo mudou. O que temos que fazer é esperar. E também uma taxa baixa não necessariamente quer dizer que seja melhor para o país. Ela vem para manter um equilíbrio”, esclareceu Miyashiro.

Apesar de uma taxa menor não necessariamente significar algo melhor, Miyashiro diz que se a Selic diminuísse seria bom porque aceleraria a economia do país.

“Se a taxa Selic diminuísse, a gente poderia acelerar, as pessoas consumiriam mais, comprariam mais e isso é benéfico para o país como um todo”, pontuou.

Para o vencedor do prêmio Nobel de Economia em 2001 e professor da Universidade de Columbia (EIA), Joseph Stiglitz, a taxa básica de juros do Brasil é “chocante”. Durante o seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século XX1” promovido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e parcerias, Stiglitz também definiu a taxa como equivalente a uma “pena de morte”.

“A taxa de juros de vocês (Brasil) é de fato chocante. Uma taxa de 13,7% ou 8% real é o tipo de taxa de juros que vai matar qualquer economia. É impressionante que o Brasil tenha sobrevivido a isso, que seria uma pena de morte. E parte da razão disso é que vocês têm bancos estatais, como BNDES, que tem feito muito com essas taxas de juros, oferecendo fundos a empresas produtivas para investimentos de longo prazo com juros menores”, comentou Stiglitz.

 

POR QUE A TAXA ESTÁ TÃO ALTA?

Segundo Miyashiro, o motivo da taxa estar tão alta é porque ela acompanha a economia. Um exemplo seria o período da pandemia, em que praticamente quase tudo esteve fechado, as pessoas não podiam trabalhar e a taxa foi diminuída para que a população pudesse comprar.

“Quando a gente estava lá na pandemia, a gente teve um valor menor da taxa Selic, então ela ficou aí em 2,70%, se não me engano, e foi um valor bem baixo. [...] E com a taxa Selic mais baixa é justamente para que as pessoas consumam mais, peguem dinheiro emprestado, tenham um crédito mais facilitado. Depois que acabou a pandemia, a taxa Selic foi aumentando gradualmente, estando aí no valor que está hoje. Então o porquê de ela estar alta é justamente porque ela não é fixa, ela acompanha toda a economia do país”, esclareceu.

LADO POSITIVO

Quem pode ganhar com a Selic alta é o investidor, que terá mais rentabilidade ao investir em renda fixa.

“Para quem investe em renda fixa, onde nós temos os CDBs, os bancos digitais, onde nós temos LCI, LCAs, que utilizam a taxa Selic como base, é uma ótima oportunidade para investir dinheiro porque ali os juros estão mais altos e a gente consegue ter mais rentabilidade em menor tempo”, destacou.

LADO NEGATIVO

“Quando a taxa Selic está alta, ela não é um bom cenário para empréstimo. Então vários bancos utilizam como indexadora a taxa Selic e na hora de fazer o empréstimo você vai acabar pagando juros mais altos também”, explicou Ana Paula Miyashiro.

No ranking de juros reais, segundo levantamento elaborado pela gestora Infinity Asset, o Brasil fica em primeiro lugar com 7,38%, México em segundo com 5,53% e Chile em terceiro com 4,71%.











 

 

Referências:

 

Brasil continua com a maior taxa de juros reais do mundo. G1, 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2023/02/01/brasil-continua-com-a-maior-taxa-de-juros-reais-do-mundo.ghtml. Acesso em: 24 de março de 2023.

 

BC ignora pressão do governo Lula e mantém juros a 13,75%. Uol, 2023. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2023/03/22/copom-juros-selic-banco-central-marco-2023.htm. Acesso em 24 de março de 2023.

 

Juro do Brasil é 'chocante' e equivale a 'pena de morte', diz Nobel de Economia. UOL,2023. Disponível em: https://economia.uol.com.br/noticias/estadao-conteudo/2023/03/20/juro-do-brasil-e-chocante-e-equivale-a-pena-de-morte-diz-nobel-de-economia.htmCARACTER%C3%8DSTICAS/. Acesso em: 24 de março de 2023.

 

Qual país tem o maior juro real do mundo? Confira a posição do Brasil no ranking. Money Times, 2023. Disponível em: https://www.moneytimes.com.br/qual-pais-tem-o-maior-juro-real-do-mundo-confira-a-posicao-do-brasil-no-ranking/. Acesso em 24 de março de 2023.


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