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29/07/2021 às 12h57min - Atualizada em 29/07/2021 às 12h44min

Feminismo para mim, para nós, para todos

Se dedicarmos um pouquinho mais de atenção ao movimento, descobriremos que o feminismo luta para libertar mulheres e homens das amarras da sociedade patriarcal

Beatriz Gonçalves Da Silva - Editado por Andrieli Torres
Foto: Reprodução/ Google imagens

Pensava eu que, para falar sobre feminismo era necessário conhecer todas as teorias, saber todos os detalhes das histórias antigas e ter lido os mais diversos livros sobre o movimento. Me enganei. Para falar sobre o feminismo é bem simples, basta sentir na pele as necessidades das políticas feministas. Mas, para ir à luta não é tão fácil, é uma batalha árdua, duradoura e exige firmeza para aguentar o machismo, misoginia, opressão e todos os outros desafios e preconceitos. Longe de romantizar a guerra, mas, batalhas não se vencem facilmente, não é mesmo? É importante que estejamos prontos para ir à luta, sempre que necessário, e com muita força, empatia e coragem. 

 

E essa luta não exige apenas guerreiras mulheres, homens são bem-vindos quando para se tornarem aliados. Caso você não tenha muito contato com o feminismo, deve imaginar que o movimento é anti-homens e que a luta feminista consiste em mulheres dominarem a sociedade e comandarem tudo, mas calma lá, se fosse isso, estariamos falando sobre nos tornarmos um novo patriarcado que, com a mulher tendo posição dominante chamariamos de matriarcado, só que ninguém aqui está em busca de superioridade, nós apenas queremos igualdade, acredita? Queremos algumas outras coisas também, na verdade, muitas outras, que temos direito e merecemos tanto quanto os homens. 

 

O feminismo não se resume apenas a lutar pela igualdade de salários, lutamos pelo fim do sexismo e da violência doméstica, pelo respeito que merecemos e pela liberdade de escolhermos ser e fazer o que quisermos. E, apesar disso tudo, ainda tem gente que reduz esse movimento a odiar homens - de certo que muitas das nossas dores são causadas pela sociedade patriarcal, mas, o feminismo existe para tirar as mulheres desse lugar de opressão e não para transformar o oprimido em opressor. 

 

“Apesar de ser uma causa diretamente das mulheres, tem muita coisa que interfere diretamente na vida dos homens também e, um tópico dentre milhares de outros que tem dentro da pauta é a masculinidade tóxica, que tem sido considerado “normal” entre todos os homens e assim, só com uma ideologia mais feminista que você vai conseguir mudar isso entre os homens. E a masculinidade tóxica é nociva para todo mundo. E pensando nos meus aprendizados, foi isso, de olhar e ter essa percepção de que, como eu tinha mais amigas, existiam conversas com elas que faziam com que eu parasse e olhasse pra mim, repensando minhas atitudes, porque o homem, ele não pensa muito no que está fazendo, ele só faz as coisas e não tem medo das consequências até porque de fato não tem [consequências], ele é um eterno aprendiz, ninguém julga ele, nada acontece e está tudo certo, mas, a gente sabe que não é assim para todo mundo e eu senti que aquelas mulheres me ensinaram muito a pensar sobre o que pode acontecer, sobre as consequências e hoje em dia isso interfere muito no meu trabalho, porque minha líder é uma mulher.” 

 

Esse é o relato do Leonardo Castro, 21, Gastrólogo formado pelo IFSP (Instituto Federal de São Paulo), que passou a ter contato com o feminismo na época do colegial onde em sua classe a figura feminina era predominante. Leonardo relata que antes de entrar na ETEC, onde cursou o ensino médio, ele tinha um perfil molecão e normalizava as “brincadeiras de mal gosto” e foi aprendendo que aquilo não era o correto a partir de embates com suas colegas de sala, que ocupavam 95% da lista de chamada e, sempre mostravam um outro lado da situação. “Surgiram alguns conflitos, algumas faíscas e eu comecei a levar isso pra para casa e quando eu colocava a cabeça no travesseiro começava a me questionar e passei a ver a coisa em outros âmbitos, dentro de casa, meu irmão contado do ambiente de trabalho dele e as coisas que aconteciam, minha mãe falando do trabalho dela, no mercado você via algumas atitudes, na família o tio que falava estranho com a tia”, comenta.

 

Pode parecer raro que homens queiram se juntar à causa, mas é importante que eles lutem a favor do feminismo, que nos respeitem e deixem de alimentar o sexismo. Em seu livro, “o feminismo é para todo mundo”, bell hooks pontua sobre a importância da conscientização feminista para os homens e sobre como teria sido diferente caso eles tivessem tido contato com o feminismo tanto quanto as mulheres, diminuindo assim as chances de apontarem o movimento como anti-homem. 

 

Ainda que sejam poucos, existem homens que apoiam o movimento. O homem pró-feminismo assume um papel de apoio porque apesar de ser parceiro nessa luta, ele não sofreu os diversos abusos e opressões que milhares de mulheres têm sofrido ao longo dos séculos e, além de nos apoiar, ele deve admirar mulheres além da estética, ler mulheres e principalmente ouvi-las. 

 

“A gente tem que encarar a realidade de que nossa voz não é tão ouvida como a deles, ganhar menos salário é indicativo disso, então é uma questão deles nos darem palco, comprar nossa luta, nos assistir falando, nos escutar, quem ta falando agora é ela.”

 

Esse é um trecho da entrevista concedida pela feminista e estudante de Relações Internacionais, Martina Giovanetti, 18, que tem um perfil no TikTok com mais de 300 mil seguidores e usa a plataforma para falar sobre diversas pautas sociais. A jovem vê o seu privilégio de ser uma feminista branca e cis como oportunidade para dar força á outras minorias “Eu reconheço meu privilégio e acho importante usa-lo para apoiar mulheres trans e negras, para dar voz a outras lutas, para que outras mulheres tenham apoio e lugar de fala garantido.”

 

Martina conta que todo sentimento de indignação com relação ao lugar onde colocavam a mulher passou a se transformar em feminismo quando teve contato com as aulas de História, onde precisou analisar uma propaganda antiga de eletrodoméstico onde a mulher era submetida ao machismo e misoginia, “... eu ficava ali escrevendo e escrevendo sobre o que via e fiquei feliz demais quando terminei. Eu sabia que não podia deixar aquele sentimento de indignação de lado, sabia que era alguma coisa.” 

 

A estudante disse que conheceu o feminismo antes mesmo de saber o que ele era, isso porque percebeu que nem todas mulheres tinham o poder e independência que as mulheres de sua família.

 

“Eu via essa questão das mulheres da minha família serem independentes, e não percebia o privilégio disso e de como e a posição que elas assumiam era majoritariamente composta por homens pois, fui criada com a ideia de que esse era o papel de todos nós e não exclusivamente da figura masculina. Depois que entrei na escola percebi que o fato da minha mãe ser formada e bem sucedida se destacava porque o padrão era o homem ser chefe da família mas, chefe da família é quem ocupa aquela posição e não o homem em si e minhas avós, minha mãe e outras mães solo me mostraram isso.” 

 

Há por aí Angélicas, Alines, Emanuelles, Brunas e milhares de outras mulheres que não conhecem seus direitos, que não sabem o que é ser livre, empoderada, independente. E, é por isso que precisamos continuar lutando, é preciso que nos ouçam, para que as políticas feministas cheguem até essas mulheres. Como bem disse Ruth Manus em sua obra “Mulheres não são chatas, mulheres estão exaustas” (2019, p.179): “Enquanto não formos, todas, mulheres livres, teremos, todas, uma liberdade condicionada.” 


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