Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
06/08/2021 às 09h15min - Atualizada em 05/08/2021 às 23h51min

Preconceito literário: toda leitura é válida ou só o que você gosta?

No caminho do incentivo à leitura tinha um preconceito literário

Larissa Bispo - Editado por Andrieli Torres
Foto/Reprodução: Google

Eis uma verdade que talvez muitos leitores não gostam de admitir: em algum momento, todos nós, amantes de livros, já surfamos no famoso preconceito literário. Do outro lado dessa onda, qual leitor nunca se sentiu envergonhado com sua leitura em um transporte público por causa dessa problemática? Somos parte de uma natureza julgadora que busca estar sempre validando opiniões e gostos e isso até poderia, mas não é diferente no nicho literário. Afinal, com tantos gêneros e diversidade de livros, por que ainda existe preconceito literário?

 

Se partirmos de como se configura o preconceito linguístico, fica fácil entendermos por qual caminho segue o preconceito literário. Cada vez mais longe de uma norma culta, mais perto você é considerado de ser alguém sem intelecto. Quando colocamos os grandes clássicos, por exemplo, em pedestais de valores culturais inalcançáveis, mais perpetuamos a ideia de que nenhum livro sob ele traz a ideia de ser uma leitura de qualidade.

 

Obviamente, livros clássicos têm valor incontestável. No entanto, o problema desse discurso não está nessa questão, mas sim na maneira como há uma certa busca por validar exatamente a qualidade de um livro fora dessa bolha. Com a crescente publicação de grandes best-sellers, cada vez mais estamos encontrando uma literatura mais diversificada, onde é possível se encontrar e descobrir gêneros favoritos e até mesmo se aventurar entre eles. 

 

O estudante de marketing Vinicius Sousa conta que o maior impedimento para uma leitura de clássicos foi a falta de uma acessibilidade na linguagem. “Já tentei ler clássicos, mas achei maçante e dificultoso. A falta de uma adaptação para um português mais atual é um dos motivos mais relevantes para eu não me sentir atraído por essa parte da literatura”, ele explica.

 

Por outro lado, foi um livro infanto-juvenil que o fez encontrar o prazer na leitura: "Harry Potter foi o primeiro livro que li e o primeiro que tive contato quando entrei numa biblioteca pela primeira vez. Nunca tinha lido nada inteiro antes, e esse livro foi o que mudou totalmente minha visão sobre leitura, foi o que tornou verdade o fato de que ler te transporta, te diverte e abre um leque de oportunidades para imaginação", completa. 

 

Por isso, é importante refletirmos sobre os perigos de espalhar o preconceito literário não apenas fora do nicho da literatura, mas também dentro dele. Em um país que passa longe de ser leitor, com uma estimativa lamentavelmente baixa de leitura, o que é mais importante: ler ou não ler? Não-leitores por aí existem muitos, então por que colocar barreiras onde deveriam existir incentivos? Porque pseudos-intelectuais querem que as pessoas leiam aquilo que eles leem, ou seja, o que consideram bom para eles. 

 

No entanto, o que é bom ou não é de uma relatividade gigantesca na infinidade que é a literatura tem as suas questionáveis, é claro, mas nessa o senso crítico se põe à prova. Alguns livros foram feitos para determinadas pessoas, assim como determinados gêneros sabem como seduzir seu amante favorito. Nesse meio termo, portanto, pode entrar em discussão opiniões, perspectivas, a famigerada “troca de figurinhas”, mas nunca a validação. 

 

Ler por si só é um incentivo. Para o próprio que lê, mas principalmente para o mundo ao redor dele. E quando nos preocupamos sobre o que a pessoa está lendo e não o ato da leitura, damos dez passos para trás na constante busca pela propagação da leitura de todos os tipos.  


Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »