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06/08/2021 às 10h51min - Atualizada em 06/08/2021 às 10h24min

A comunicação se torna prática, mas também fria

Romance epistolar entre avó e neta levanta questionamentos sobre a comunicação atual e de gerações passadas

Hellen Almeida - Brenda Freire
Foto: Escrevendo cartas// Reprodução: Pinterest.

“Querida Katherina,

 

Como vai, amor de vovó? Tem se alimentado bem? Sua mãe me mostrou algumas dessas tais matérias que você tem escrito, que bichinho difícil de fazer, hein?! Estou muito orgulhosa da minha princesa, sempre soube que voaria alto!

 

Estou te enviando esta carta ao invés desse tal de “zap” (que ainda estou aprendendo a usar), pois uma árvore caiu e danificou a linha telefônica e de internet da cidade. Sem falar que percebi que nunca te enviei uma carta, isso era tão comum no meu tempo!

 

Aguardo sua resposta, com amor

Vovó Lica.”

 

Amada vó Lica,

 

Ñ sabe como fiquei feliz com a sua carta! Espero que esse problema técnico seja resolvido logo, estou me alimentando bem e fico muito feliz q esteja gostando do meu trabalho <3.

 

Realmente, nunca havia recebido - ou sequer enviado - uma carta, fiquei animada quando vi a sua. Como estão as coisas por aí? td bem com vc

 

Desculpa pela pequena carta, mas devo admitir: isso ñ é nada prático! Ainda bem que temos a tecnologia agr, não? Aguardo sua resposta.

 

Com carinho e sdds

Sua netinha.”

 

“Minha flor do campo, Katherina,

 

Querida, que carta estranha foi aquela? Não entendi praticamente nada, tive que pedir a ajuda do seu primo para decifrar! É assim que “vosmecê” fala com seus amigos e professores: comendo letras?! Em breve iremos nos falar apenas por aquelas “carinhas” do “zap” (Oh negocinho pra fazer barulho! Toda hora parece que tem um navio dentro de casa!).

 

Na minha época as coisas eram bem diferentes: escrevia cartas para seu avô todos os dias enquanto ele viajava a trabalho e aguardava ansiosamente pelo correio com sua resposta… Sua geração não tem mais isso!

 
Falar com quem se ama se tornou tão fácil ao ponto de ser banal, frio. Lembra de quando chorou pois seu “broto” levou duas horas para te responder? Eu sai rindo para regar minhas flores, como seria se tivesse que esperar duas semanas por uma resposta?!
 

Enfim meu docinho, na próxima, pode se alimentar antes de escrever para não “comer” as letras? Esta senhora agradece!

 

Com sdds (esse seu primo me ensinou!)

Vó Lica.” 

 

“Minha amada vovó,

 

Desculpa por tornar a carta difícil de compreender, já é uma força do hábito! Sem falar que não tenho prática com isso de escrever cartas, nunca tive interesse e não é muito comum hj (hoje) em dia.

 
Mas estive refletindo sobre o que disse em sua última correspondência e realmente, eu não sei como a senhora aguentava mais de duas semanas para falar com vovô! Acho que isso ensinava sobre a paciência diária - coisa que falta na atualidade - e tbm (também) sobre dedicar um tempo a pensar em quem se ama.
 

Falei com meus amigos sobre nossa experiência e acredita que estão fazendo o mesmo com seus familiares distantes?! Tem deixado seus parentes muito felizes e ensinado muito, compartilhar ideais de gerações diferentes, não é top?! <3

 

Estou bem, tendo uma “good vibes” com o feriado, e a senhora? Ah, significa que estou tranquila. Quando vão resolver esse problema da árvore? De qualquer forma, eu gostaria de tornar estas cartas uma rotina nossa, o que acha?

 

Com muito amor e carinho,

Katherina.”

 

“Coisa linda de vovó,

 

Como está? Que bom que seus amigos também gostaram da ideia, os avôs deles devem estar com os corações aquecidos, não se fazem mais correspondências como antes.

 

Sobre o problema da rede telefônica: está resolvido! Agora posso voltar para aquele chato de “zap”, mas ao menos ele me permite ver seu rosto lindo.

 

Claro que quero continuar escrevendo para você, foi nostálgico praticar isso depois de tanto tempo…
 

Fique bem, tá bom? Quando esse vírus irritante for embora preciso que venha até aqui e me dê aquele abraço bem apertado e retome suas aulas de tricô (sou idosa, mas minha memória é boa e a senhora não me escapa!)
 

Com todo o amor do meu coração

Sua avózinha Lica”


 
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