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20/08/2021 às 14h27min - Atualizada em 20/08/2021 às 14h11min

Mil e uma “fés”

Será que num país tão miscigenado é possível que as diferentes crenças convivam em harmonia?

Letícia Aguiar - Editado por Talyta Brito
Reprodução/Faesa Digital
“Veja, não diga que a canção está perdida, tenha fé em Deus, tenha fé na vida, tente outra vez”, cantava Raul. Nessa música existe um substantivo feminino, de grafia pequena, que carrega o acento agudo e muitos significados, a depender de quem a vive. A julgar pelo título, você claramente sabe que eu estou falando dela: da fé!
Mas essa palavrinha não diz respeito somente a uma religião ou religiosidade, ela pode ir além e percorrer nosso caminho de modo muito particular.
Junto de suas tias e avós lá ia ela, a pequena Laura, para mais um domingo de missa. Hoje, aos seus 21 anos, a missa aos domingos não deixou de fazer parte de sua rotina, pois foi no catolicismo que Laura Maria encontrou seu caminho. Muito mais que criar uma identidade com a religião, a estudante de Relações Públicas ancorou a sua fé na Igreja Católica.

Porém, ainda que Laura já tenha encontrado seu destino, ela entende e respeita pessoas que vivam a fé de maneira diferente. “Mesmo que uma pessoa não acredite no catolicismo é preciso que a gente se respeite e dialogue”, declara a moça.
Infelizmente, o respeito de Laura não é uma realidade de toda a sociedade, e nós ainda precisamos dividir espaço com a intolerância religiosa. No primeiro semestre de 2019, as denúncias de intolerância religiosa pelo país haviam aumentado em 56%, de acordo com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Os casos chegavam ao número de 354, destes, 61 casos foram denunciados por pessoas de religião de matriz africana.
Esse preconceito que vai além de razões lógicas, foi visto de perto por Mellany Lohana, 20. A avó de “Mel” é do Candomblé e já foi ridicularizada por usar roupas tradicionais da religião. Tristemente, os olhos de Mellany já acompanham esse preconceito desde a infância. Mesmo diante dessa intolerância de toda uma vida, a estudante de Relações Públicas também tem a sua história com a fé, apesar de vivenciá-la um pouco diferente da avó. Ela é Agnóstica, frequenta um centro espírita Kardecista e sempre conviveu com “fés” distintas, já que sua mãe é evangélica, seu avô é católico e sua avó do Candomblé.
Segundo o psicólogo Luiz Eduardo, o convívio entre pessoas de diferentes religiões e religiosidades, é, para muito além das barreiras do preconceito, um convívio possível e que deveria ser naturalizado pela sociedade. “A fé em si é muito direcionada para a religiosidade, contudo, cada um crê de uma forma. O que deve prevalecer é o respeito ao outro, independente da religião”, afirmou.

FÉ NA CIÊNCIA
Embora nós façamos a associação da fé à religião, elas não necessariamente precisam andar juntas para existirem. Amante da Ciência, da Física, da Astronomia e da lógica, Inessa Barros, de 21 anos, deposita toda sua fé na razão e a tudo aquilo que pode ser explicado pela racionalidade. Desde os seus 12 anos, a vestibulanda é ateia.

Mas Inessa não vivencia o ateísmo porque teve alguma decepção com a religião, muito pelo contrário, desde a infância ela sempre foi norteada pelas questões, as perguntas e a dúvida. Quando criança, lidou com morte pela primeira vez, com a partida de sua avó. Nesse momento, como a boa curiosa e questionadora que sempre fora, a estudante começou a se perguntar “para onde nós iríamos após a morte?”, chegando à conclusão que somente a lógica poderia trazer uma resposta.
Desde então, é na Ciência que está toda a fé de Inessa Barros, e, sem dúvida, é nesse mesmo barco onde está ancorada toda a sua felicidade. “Ser ateia é encarar as coisas com ceticismo, mas saber apreciar as belezas da vida, é não aceitar nada e sempre estar disposta a mudar de opinião caso uma explicação mais lógica surja”, falou.
Você pode estar se vendo na história da Inessa, da Mellany ou da Laura. O importante é que o seu caminho com a fé é único, particular e merece, acima de tudo, ser respeitado. E que nós possamos, um dia, ceder espaço apenas para a convivência harmônica entre as muitas “fés” presentes num só Brasil!

 
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