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04/10/2021 às 10h07min - Atualizada em 30/09/2021 às 23h10min

Sex Education: o que podemos aprender com ela?

Sucesso da Netflix, a série dialoga sobre o sexo com naturalidade e leveza, indo muito além dos tabus!

Letícia Aguiar - Editado por Larissa Bispo
Reprodução/Revista Subjetiva
Já era manhã quando Otis começava a sua primeira consulta, lá no banheiro abandonado da escola Moordale. Seguindo caminhos parecidos aos de sua mãe, Jean, ele passou a dar conselhos sobre sexo aos seus amigos da escola. No entanto, diferente da mãe, ele não é terapeuta sexual, só está tentando ajudar os colegas e ficar mais um tempo ao lado de Maeve, além de ganhar dinheiro, é claro.

Essa trama te lembra alguma coisa? Sim, é ela mesmo: Sex Education, a série despretensiosa que é um verdadeiro sucesso da Netflix. Criada por Laurie Nunn, a produção conversa com o telespectador sobre sexo de uma forma leve, divertida e com personagens totalmente cativantes, cobertos da realidade. Afinal, são adolescentes que como “manda o figurino”, estão passando pelos mais variados problemas.

Com todo respeito e longe dos clichês, a narrativa caminha pelos mais variados assuntos para além do sexo, como gênero, bullying, empoderamento feminino, aborto, homofobia e muitos outros que nos dão a sensação de dever cumprido, porque nenhum deles é visto como alívio cômico ou irrelevante. Todos os personagens, em suas mais variadas camadas, trazem assuntos que precisam ser falados.



Apesar de tratar do sexo, a série não exagera nas cenas de conteúdo sexual e sempre procura levantar um problema a partir delas. Otis, por exemplo, aconselhava seus colegas sobre sexo, mas tinha uma vida sexual inativa. Aimee achava que as relações sexuais não podiam ser prazerosas para as mulheres. Ela é, inclusive, uma das personagens que mais se descobre na trama.

Além dela, muitos outros nomes fazem a narrativa ser extremamente intensa, como Adam, o típico “machão”, que no decorrer da produção entende um pouco mais da sua sexualidade e passa a namorar Eric, com quem ele sempre praticou bullying, por ser gay. Assim, não há um só personagem que deixe a desejar, e todos, sem exceção, são detalhadamente construídos e mostrados por ângulos diferentes.

 

 

O TABU

Embora Sex Education trate a temática com muita naturalidade, na vida real ainda existem muitos tabus e silenciamentos sobre o assunto, o que pode resultar em experiências sexuais frustradas, gravidez precoce e a maior exposição a infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), estima-se que só no Brasil 13 milhões de garotas tenham engravidado na adolescência nas últimas duas décadas, influenciando na evasão escolar e na falta de oportunidades no mercado de trabalho.

Mais além, segundo a ONU, no mundo, a cada três minutos, uma menina entre 15 e 19 anos é infectada com o vírus do HIV. Para os meninos a taxa também é alta. De acordo com o Ministério da Saúde, houve um aumento no número de rapazes entre 20 e 24 anos com aids, sendo 133% a mais entre os anos de 2007 e 2017.

Outra questão do silêncio imposto pela sociedade está na falta de uma educação sexual, impossibilitando que muitas crianças identifiquem situações de abuso. Para o professor Alexandre Emiliano, esse tabu precisa ser quebrado e a escola tem um papel fundamental nesse aspecto. “A escola é lugar de debate, conversa e construção de conhecimento. Promover o diálogo acerca da educação sexual é muito importante, aliás, é necessário. Isso evita, por exemplo, a gravidez indesejada ou mesmo ajuda a uma criança ou adolescente a identificar quando está sendo vítima de abusos. A família também tem um papel fundamental nesse processo”, disse.

O DIÁLOGO ENTRE AS BESSAS

Em Sex Education, Jean, a mãe de Otis, procura estabelecer um diálogo com ele sobre sexo, mas o garoto quase nunca se sente confortável e os dois passam por algumas dificuldades com as palavras. Já no seriado da família Bessa, o enredo acontece de um jeito diferente.

Movidas pela troca livre de palavras e pelo amor, Adriana Bessa e Paula Bessa, mãe e filha, conseguem falar sobre sexo com muita naturalidade. Criada em uma família que não conversava sobre o assunto, Adriana não teve uma boa orientação a respeito do tema, embora a mãe tentasse, à sua maneira, dialogar com ela.



Porém, quando Paula Bessa nasceu, Adriana resolveu agir de outra maneira. “Tudo o que eu tinha eram livros, revistas adolescentes e minhas amigas. Quando chegou a minha vez de ser mãe, decidi que faria tudo diferente para que minha filha soubesse que poderia confiar em mim e tirar suas dúvidas comigo”, falou.

Nesse percurso repaginado, Paula Bessa pôde ser criada com toda a orientação da mãe. “Minha mãe seguiu no sentido contrário à criação que recebeu, e sempre fez questão de esclarecer todas as minhas dúvidas desde muito cedo. Ela nem sabia, mas já me proporcionava o que, hoje, reconhecemos como educação sexual”, explicou. Segundo a estudante de jornalismo, a vida sexual tem sido bem satisfatória, porque ela sempre foi bem orientada de como essa experiência deveria ser: natural.

Portanto, o diálogo estabelecido entre as Bessas e o proposto pela série é mais que urgente. O sexo é uma experiência que pode ser revestida de conversa, orientação e quebra de tabus. Basta nós entendermos que a resposta não está na abstinência, nem na repressão do desejo sexual ou das descobertas sobre sexualidade, mas no conhecimento e no espaço livre para a boa e velha conversa. 

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