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15/10/2021 às 17h16min - Atualizada em 15/10/2021 às 16h45min

Adaptando histórias: como a literatura é preservada por meio das adaptações

Alegrias e desafios no processo de adaptação de histórias e de seus personagens

Fernando Azevêdo - Editado por Larissa Bispo
(Foto: Unsplash)
 

Cenários, luz, cores, movimentos, interações e outros tantos elementos enriquecem ainda mais a experiência de conhecer uma história. Seja imaginada ou esteja a sua frente, em forma de figuras ou em vídeo, a imagem de personagens queridos carrega a possibilidade de imersão em um novo mundo.

 

O universo das adaptações - "traduções" de obras -  é recheado desses aspectos que incrementam as produções originais, dando a seus leitores e espectadores a oportunidade de ampliar o carinho que eles sentem pela obra que embasa tais adaptações. É como um voo ainda mais alto pela imaginação e criatividade que aquele livro ou história em quadrinhos, por exemplo, carrega. Um voo rumo ao entretenimento, a uma preservação das obras, e ao enriquecimento de narrativas. 

 

As adaptações podem dispor de muitos recursos que as tornam interessantes. Às vezes, você pode estar lendo aquele livro e imaginando - com o auxílio das descrições do autor - a aparência, personalidade, jeito de vestir e de ver o mundo dos personagens. Enquanto um filme, a ser lançado depois, vai trazer alguém que provavelmente cumpra esses quesitos. Por mais que imaginar seja muito positivo, às vezes você pode querer ver uma história de uma forma mais leve, já que o filme traria algo mais "pronto".

 

Muitos aspectos das adaptações trazem uma ideia de incerteza. Grupos de fãs de uma série de livros podem ficar apreensivos quanto a uma adaptação desses, por exemplo. Será fiel? Preservará a identidade dos personagens? Os cenários serão bem planejados? Uma série de questões podem surgir, e é um alívio que elas sejam o mais bem respondidas possível. 

 

As "traduções" de obras dão chances verdadeiramente positivas para histórias, no entanto. Elas são, como o nome "adaptação" indica, uma releitura de alguma peça, da qual o suporte seja alterado. Um livro pode virar um filme ou série. Um livro pode virar uma história em quadrinhos (HQ). Uma HQ, por sua vez, pode se tornar um livro ou uma série. Há muitas formas de adaptação literária.

 

Um pouco mais sobre isso: relatos

 

E essa versatilidade traz com ela uma pluralidade de opiniões. Esta matéria ouviu algumas delas. Há quem prefira a versão original de uma história, quem prefira a adaptação, quem não tenha preferência e quem ache que ambas são igualmente prováveis de dar certo. 

 

Rafael Cruz, 22 anos, estudante de Jornalismo, está entre os que preferem obras originais. "É tudo bem linear, sem enrolação e [sem] algo vago... É ruim quando você conhece o quadrinho e vê que a adaptação deixa espaços abertos", diz.

 

As histórias em quadrinhos apresentam as ações em uma linguagem bem própria, com elementos exclusivos. Há balões, quadros, onomatopeias e as ilustrações sempre acompanham a narrativa, em ordem temporal. Há também diferenças nos quadros - quanto maiores, mais importantes na história. Elas oferecem muito ao leitor, que tem a sua disposição sensações também únicas. 

 

Nesse sentido, talvez por isso as adaptações cinematográficas de HQs sejam muito aplaudidas ou duramente criticadas. Há décadas, a leitura desse gênero é popular. Séries de gibis marcaram a infância de muitas pessoas, como a Turma da Mônica, no Brasil, e várias séries de heróis ao redor do mundo, por exemplo. Trair uma história assim - adicionar demais ou subtrair muito - é bem arriscado. 

 

Em seu relato, Rafael diz que algumas adaptações pecam na falta de fidelidade. Para isso, cita exemplos de HQs que viraram séries ou filmes. A série "Orphan Black" continha a maior parte do que estava nos quadrinhos, mas os filmes de super heróis que Rafael assistiu traziam diferenças em relação às HQs. "Eu ficava um pouco frustrado, pois eu, que acompanhei aquela obra pela HQs, pensava que o filme seria melhor se fosse fiel à HQ".

 

Às vezes, como no filme "Viúva Negra", até há muitos pontos da obra refletidos na adaptação, mas ainda assim o estudante se diz frustrado, enquanto outros aspectos também importantes estão de fora. Ele esperava bem mais desse filme.

 

 

Gustavo Mateus Rodrigues Menezes, 21, estudante de Jornalismo, também usa exemplos de histórias em quadrinhos em sua fala. As adaptações que ele mais cita são adaptações de livros em HQs, por mais que também cite outras formas de ler ou assistir. Ele fala que gosta das adaptações de "Moby Dick" e das atemporais obras de George Orwell. Além disso, declara sua afinidade com os "universos"  Marvel e DC.

 

 

Sobre esses universos, Gustavo fala de aspectos positivos dos personagens que vão para as adaptações. "Agregando, até dando um ar novo, uma característica nova pro personagem, deixando os detalhes bem mais interessantes".

 

O estudante acredita no poder de as traduções de obras enriquecerem elas, adicionando detalhes, trazendo ambientes de uma forma mais atraente que as versões originais... Ele também diz que é imparcial quanto à escolha "original ou adaptação?". Vai de caso por caso.

 

Há adaptações ainda melhores que as versões originais? Pode acontecer! Para Gustavo, a HQ "O Coração das Trevas" superou a narrativa do livro original e tornou os detalhes ainda mais agradáveis. 

 

 

Gleyce Rauanny, 21, estudante de Enfermagem, ama a adaptação cinematográfica de Harry Potter, que passou do status de série de livros para fenômeno adaptado também nas telinhas. Ela diz que acha que os filmes retratam a realidade dos livros. A estudante gosta muito desse formato de conteúdo. “Se eu for falar de várias adaptações que eu gosto, eu vou passar o dia todinho aqui, falando”.
 

 

Gleyce diz que tinha uma noção de que os livros sempre seriam melhores que suas adaptações, mas que foi desconstruindo isso. Algumas leituras não cativam, são monótonas, mas assistir à história na telinha torna tudo mais satisfatório. Ela dá o exemplo do livro “Simplesmente Acontece”, no qual isso seria perceptível.

 

A jovem fala sobre como essa reviravolta pode ocorrer: “A adaptação se supera, pega pontos do livro que você nunca nem pensou, transforma algumas coisas que eram necessárias transformar; e a adaptação se torna mil vezes melhor do que o livro”. Ainda assim, geralmente ela prefere a leitura. Nem todas as adaptações cinematográficas conseguem conquistá-la. Até porque, pontua, algumas delas fogem da essência do livro.

 

    Há fatores que a estudante considera benéficos e fatores perigosos no processo de construção dessas adaptações. É benéfico que elas sejam fiéis ao conteúdo original e que os autores das histórias participem desse processo. Então, ela fala sobre expectativas. A partir do momento que você lê uma história, tem algumas coisas na sua imaginação, então você espera de alguma forma que o filme preencha tudo aquilo. Quando a expectativa não é correspondida, fica difícil gostar do que assiste. Gleyce também considera perigoso que modifiquem demais o conteúdo, para se adequar ao contexto presente, para atrair mais público. Mudar uma história conhecida pode desapontar seus fãs. A ameaça aqui é a fuga da história.


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