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18/10/2021 às 00h00min - Atualizada em 18/10/2021 às 00h01min

A proposta para retratar as Mulheres na Mídia

Novo Guia tem a missão de melhorar a abordagem jornalística sobre o feminino, amplificando as vozes das mulheres

Bruna Villela - Editado por Júlio Sousa
Guía de Equilíbrio de Género

A desigualdade de gênero se faz presente nos mais diversos ambientes sociais e, com ela, um dos lados sai prejudicado, o da mulher. No meio jornalístico, por exemplo, a discrepância acontece desde a atuação profissional e distribuição de cargos até à natureza da cobertura de determinados temas. 

O cenário político atual - em meio a negacionistas, teorias da conspiração e fanatismo  - revela um momento desfavorável à profissão de um modo geral. A credibilidade e a confiança são, algumas vezes, questionadas, no entanto para as mulheres foi sempre assim/já era assim antes.

    Por esta razão, a organização Women in the News Network (WINN) e a Associação Mundial de Editores de Jornais (WAN-IFRA) disponibilizaram a versão do Guia de Equilíbrio de Gênero para a Mídia em espanhol. O documento já contava com a publicação em cinco idiomas antes do latino. 

O lançamento virtual contou com uma conversa entre a jornalista chilena Paula Escobar e a colombiana Jineth Bedoya. Esta última é ativista e criou a campanha “Não é hora de calar a boca”, após passar pela experiência de ter sido sequestrada, torturada e violentada em represália à sua atuação jornalística. Além do trauma, Bedoya teve de lidar com o silenciamento, pois “virou notícia''. 

    O guia contém 6 seções que abordam a importância e os estereótipos em relação à questão de gênero, ações e estratégias para alcançar o objetivo de equidade, bem como, o monitoramento do progresso e exemplos de sucesso pelo mundo. Ademais, em cada módulo apresenta um questionário para os profissionais da mídia avaliarem seu conhecimento a respeito da causa. 

Olhar de especialista

   Para nos ajudar a entender essa realidade, a Doutora em Comunicação, Raquel Dornelas, mostra sua opinião enquanto pesquisadora da temática “Crimes Sexuais em Narrativas Jornalísticas” e aponta que o contexto de disparidade "nada mais é do que o reflexo do que somos enquanto seres históricos e culturais”.
 

“Estamos longe de um patamar de igualdade. Há nações no Oriente em que esse tema sequer é tratado. E mesmo nos países democráticos, a questão ainda está longe de formatar um problema público que diga respeito a uma coletividade” 

     Raquel nos conta que historicamente a sociedade se apoiou na dominação masculina, enquanto o lado feminino sempre foi colocado à margem. Hoje em dia, apesar dos inegáveis avanços, repete-se a lógica patriarcal, revelando um limite dessa evolução.

Pensando, então, no âmbito da profissão, ela afirma que não é uma esfera à parte da sociedade, mas sim uma das várias práticas e falas da vida em conjunto. Por isso, o jornalismo - ou “os muitos jornalismo que temos” - acabam sendo atravessados pela lógica de desigualdade de gênero.
 

“O jornalismo ainda ocupa um local de fala autorizada na sociedade. Qualificar as narrativas produzidas nas redações ajuda a trazer novos conceitos e combater ideias preconceituosas”

Raquel também diz que iniciativas “como o guia são louváveis e merecem ser replicadas o máximo possível", assim como workshops, palestras com consultores e reciclagem profissional para minimizar abordagens desiguais. Fora das redações, “a conscientização nas escolas e na sociedade em geral (por meio de políticas públicas) são ações que se fazem urgentes na contemporaneidade”, finaliza. 

Jornalistas de amanhã

O Guia de Equilíbrio de Gênero para a Mídia - para além da educação à respeito da abordagem das mulheres na mídia, notoriamente no que se refere a temas delicados - estabelece a necessidade de incluir mais vozes femininas como fontes e opiniões nas matérias produzidas, além de superar a falta de jornalistas mulheres em posições de liderança. 

Nesse contexto, para além de melhorar o trabalho que já é feito é preciso focar no futuro, ou melhor, nos profissionais do futuro. Capacitar e promover a discussão sobre o assunto desde cedo é o primeiro passo para perceber a mudança na prática lá na frente.

A estudante de Jornalismo Sofia Cunha diz que “é impossível negar a disparidade de gênero no jornalismo, principalmente quando falamos no ramo esportivo; seja no reconhecimento, no salário, no treinamento e nas oportunidades”. Expondo a segmentação que acontece na área atrelada ao estereótipo da mulher (não) abordar determinados assuntos. 

“Quantas vezes vemos e ouvimos homens se manifestando, por exemplo, contra mulheres narrando partidas de futebol usando o argumento de ser ruim/chato? Se o homem ligasse, de fato, para a qualidade, metade dos narradores não estariam na ativa. Não é ruim. É apenas preconceito”

Para a estudante, atualmente as mídias mais influentes e tradicionais estão cada vez mais abertas às profissionais mulheres, seja por realmente acreditarem na causa ou por pressão da sociedade. Porém, “nem sempre foi assim: quando criança, me recordo apenas de duas figuras femininas no esporte na televisão: Fernanda Gentil e Glenda Kozlowski”, conta.


 

“Falar em igualdade é um tanto quanto utópico, pois a mulher será sempre vista com desconfiança, independente da profissão. Felizmente a mídia tem avançado nessas questões necessárias e busca incluir mais mulheres no quadro de funcionários”

Enquanto futura profissional, Sofia diz que pretende alcançar seu espaço, além de continuar levantando essa pauta para inspirar outras mulheres e, consequentemente, ajudar na progressão do pensamento coletivo. E declara que se sente feliz em ver tantas mulheres conseguindo espaço, mas não deixa de reconhecer “o grande caminho que ainda falta para conseguirmos ficar”. 

Ela também comenta que está sempre falando sobre desigualdade de gênero na faculdade, em casa, e em qualquer lugar onde estiver. Isso porque a discrepância de gênero na mídia “é algo que precisa mudar e que faz parte da minha vida. É importante não ficar calada ao perceber injustiças”, afirma.


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