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28/10/2021 às 23h10min - Atualizada em 28/10/2021 às 22h01min

A trajetória da bailarina e ativista Ingrid Silva 

A bailarina brasileira conta à revista Vogue sua tragetória no balé de Nova York, além de suas experiências com movimentos sociais e a importância deles para as novas gerações

Emily Prata - Editado por Talyta Brito
Reprodução: Negrê

Eleita uma das 100 pessoas negras abaixo dos 40 anos mais influentes no mundo pela Mipad 2020, Ingrid Silva tem 32 anos, nasceu no Rio de Janeiro e foi a primeira brasileira na Harvard Lead Conference. Neste ano, além de fundadora de dois importantes projetos sociais, o Empow’Her NY e cofundadora do Blacks in Ballet, a artista conseguiu conquistar ainda mais o público com o seu livro “A Sapatilha que mudou meu mundo” e o documentário “Making Space: A visual Poetry Journey”.
 

Em entrevista à revista Vogue, Ingrid conta que escreveu sobre a sua jornada desde a infância em um projeto social que leva aulas de balé para as comunidades carentes do Rio de Janeiro, até chegar no “Dance Theatre of Harlem''. "Eu já passei por muitas coisas que realmente me fazem ter o peso de entender a importância da minha jornada, eu acho que isso é muito especial”, afirma.

 

Ela conta ainda sobre sua experiência com a maternidade e fala sobre a importância de lutar por um mundo mais representativo para sua filha: “Tive medo no começo, mas o meu maior incentivo é saber que essa criança vai nascer numa realidade completamente diferente do que foi a minha. Ela vai poder ser o que quiser”. 


JORNADA
 

Ingrid nasceu no Rio de Janeiro e iniciou sua história no ballet aos 8 anos, no projeto Dançando Para Não Dançar. Continuou seus estudos na Escola de Dança Maria de Olenewa e no Centro de Movimento Debora Colker, com bolsa integral. No ano de 2007, aos 18 anos, ganhou uma bolsa de estudos para o Dance Theatre of Harlem School, e esse foi o começo de uma carreira brilhante e uma jornada inspiradora. 

 

Com o Dance Theatre of Harlem, a bailarina teve oportunidade de se apresentar em vários papéis, e somente como solista Ingrid brilhou em Alvin Ailey's Lark Ascending, Donald Byrd’s Contested Space, Francesca Harper’s System, Darrel Grand’s Moultrie Vessels e Dianne McIntyre’s Change.

 

O ballet proporcionou a ela ainda mais experiências longe dos palcos. Foi embaixadora cultural para os Estados Unidos ao dar workshops na Jamaica, em Honduras e em Israel, participando ainda do BrazilFoundation Gala em 2014, no Lincoln Center. Recentemente também recebeu grande destaque nas revistas Vogue e Glamour Brasil. Em setembro de 2020, sua sapatilha pintada para combinar com o tom de sua pele, símbolo de sua luta contra o racismo, foi exposta no Smithsonian National Museum of African American History & Culture em Washington D.C.

 

ATIVISMO

 

A partir de sua experiência no ballet e nos ciclos em que foi incluída através dele, Ingrid viveu e presenciou situações marcantes de racismo e machismo, o que a levou a se dedicar intensamente a causas sociais. Em 2017, ela fundou o Empow’Her New York, e o objetivo da plataforma é criar um ambiente seguro para que as pessoas possam compartilhar suas histórias em uma zona segura, livre de julgamentos e encorajando sempre o diálogo. 

 

Além disso, ela também é co-fundadora do Blacks in Ballet, que tem como objetivo destacar bailarinos negros, contando suas histórias, suas diferentes formações e objetivos, compartilhando isso com o mundo. O intuito desses projetos, é acima de tudo, trazer maior representatividade negra para os companhias de dança, principalmente no Brasil, onde o bailarino negro possui pouquíssimo espaço, ou até mesmo nenhum.

 

“Eu acredito no mundo mais igualitário onde todos nós todas as etnias, principalmente os que não são brancos. Acredito em um mundo com muitas oportunidades para todas as meninas. Acredito que o palco deve refletir todo mundo”, conta Ingrid à revista Vogue. 

 

LIVRO
 

A autobiografia de Ingrid Silva, denominada “A sapatilha que mudou meu mundo”, traz a trajetória de vida e profissional da bailarina, seus traumas, obstáculos e preconceitos que sofreu, dentro de um ambiente majoritariamente branco e elitizado. Falando sobre sua experiência na comunidade em que nasceu, no Rio de Janeiro, a importância do projeto social em sua vida e o divisor de águas que foi conhecer o ballet, além dos traumas trazidos pela rigidez da prática e a importância da saúde mental.

 

O livro traz também um tópico inédito da vida de Ingrid: a maternidade, uma experiência recente e tão transformadora na vida da bailarina. Momento inédito não só na vida da bailarina, como também da Dance Theatre of Harlem, que tem em Ingrid a primeira pessoa da companhia a engravidar. 

A carioca aproveita ainda para falar sobre a pouca representatividade no meio da dança e cobrar mudanças no mercado. “Temos instituições de dança respeitadas no Brasil e podemos contar nos dedos quantos negros já participaram delas. A dança no Brasil ainda é muito branca e isso precisa mudar. Trago bastante essa reflexão sobre o racismo estrutural no meu livro”, afirma Ingrid à Vogue.

 

O livro, que era sonho antigo da bailarina, é uma forma de aproximar o público dela, para que a conheçam melhor e entendam a sua jornada pessoal e profissional, já que as pessoas sabiam pouco sobre sua vida - apenas pequenas partes faladas em entrevistas. Ingrid afirma ainda que foi uma experiência “prazerosa, pura e honesta”, além de reforçar a importância da sua jornada e o quanto o apoio de sua família e do projeto social foram essenciais em sua vida. 

 

CANNES

 

Porém, a maternidade e se tornar autora não foram as únicas novidades para Ingrid. Durante a pandemia, a bailarina, em parceria com a agência The Block e seu projeto Empow’Her, desenvolveram um documentário a partir de um experimento social. O filme que mostra as injustiças raciais do sistema de saúde norte-americano foi premiado no festival de Cannes e se chama “The Call”. Nas redes sociais, Ingrid fala sobre o documentário e afirma: “Quando se trata de obter cuidados de saúde adequados, não se deve importar qual é o seu nome ou como você soa”. 

 

Mas a experiência de Ingrid Silva em Cannes não parou por aí. Sua animação em curta metragem SkinDeep também foi premiada, um trabalho muito significativo e repleto de representatividade e aproximação para as mulheres negras. “Para ajudar a estabelecer o estresse traumático baseado em raça como um contribuinte debilitante para a saúde mental em mulheres negras que têm uma resposta emocional e psicológica a encontros raciais negativos”, explicou em suas redes sociais.

 

A bailarina participou ainda do painel de divulgação de seu documentário, Making Space: A Visual Poetry Journey, que também conta sua história pessoal e profissional, mostrando como a jovem garota do Rio de Janeiro tornou-se referência no cenário da dança internacional. Ingrid Silva não se tornou apenas uma referência de ballet, mas também de ativismo e exemplo para jovens, principalmente bailarinas, que se sentem vistas e representadas ao assistirem Ingrid e ao conhecerem sua história. 

 

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