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17/01/2022 às 11h31min - Atualizada em 14/01/2022 às 21h48min

Vida de vestibulando: da preparação à aprovação

Como alunos lidam com seus anseios e angústias durante essa fase da vida

Heloisa Nogueira - Editado por Larissa Bispo
Reprodução: Google
Desde pequenas, as crianças estão cercadas de premissas que acabam norteando suas vidas, sendo uma das principais: “Se você estudar muito, será alguém na vida”.  Com este ideal incutido na mente, aliado à vontade de vencer e “ser alguém na vida”, a rotina do jovem passa a ser pautada por verbos no infinitivo: estudar, dedicar, perseverar, abdicar (do lazer e do tempo livre, por exemplo), esperar, esperançar etc. Esses são apenas alguns dentre tantos outros verbos que passam a ser características do cotidiano do vestibulando.Como se não bastassem toda dedicação e empenho durante a preparação para o Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), o resultado é dado apenas no início do ano seguinte e, assim, passa a ser atrelado à expectativa do “ano novo, vida nova”, aumentando a ansiedade pela aprovação.

A estudante Laís Kelly Morais, que prestou o ENEM visando cursar Medicina, afirmou que tenta uma vaga pela terceira vez e tem uma autocobrança. Ainda, ela relatou como se sente durante o período de espera pelo resultado. "E
stou bastante ansiosa para o resultado, que só sai dia 11 de fevereiro, mas [estou] ainda mais ansiosa para o Sisu, que é apenas no final do mês. Esses dias entre prova e resultado são angustiantes; não dá para ter certeza se irei passar, porque a nota de corte muda todo ano”, ela relata.

Já Alice Abreu escolheu o curso de Relações Internacionais e tenta o ENEM pela segunda vez. A vestibulanda, então, afirmou que sempre teve problemas com a autocobrança excessiva, mas pontuou que tem uma estratégia para lidar com isso: "Passamos mais de dois meses ansiosos pelo resultado, então a melhor estratégia é tentar focar em outras áreas da minha vida e relaxar (ou pelo menos tentar) nessas férias".
 

O que você vai ser quando crescer?

Caso alguém fizesse tal pergunta para Laís quando ela ainda era uma criança, certamente ela responderia, sem medo de errar: ser médica! “Minha vontade de cuidar, diretamente, das pessoas e o contato que eu sempre tive com a enfermidade ao longo da vida (meus avós velhinhos e meu pai com problemas de saúde), me fizeram querer seguir a Medicina no intuito de aliviar o sofrimento de quem eu puder”, declarou Laís Morais.

No entanto, outros não carregam consigo essa certeza desde a infância; cada um segue no seu ritmo o processo de amadurecimento. Como, por exemplo, o caso da Alice, que só se sentiu segura em escolher Relações Internacionais após pesquisar muito o que se estuda no curso e por qual caminho a carreira internacionalista pode levá-la.

Rotina de estudos

Laís saiu de uma pequena cidade do interior de Minas Gerais para cursar o ensino médio em Belo Horizonte, já que, segundo ela, sua cidade natal possui apenas uma escola pública com um ensino muito defasado.

Diferente de Laís, Alice nasceu e foi criada na capital mineira, o que pode ser visto como um ponto positivo. Por outro lado, ela só teve acesso ao ensino público, e tudo isso deve ser colocado em uma balança para que se “pesem” as desigualdades e se apliquem a isonomia de maneira mais assertiva.

Um estudo da Consultoria IDados, baseado na Pnad Contínua do IBGE, apontou que, em 2019, o número de jovens entre 19 e 24 anos que trabalha e estuda estava em 48,3%, ou seja, houve um aumento de 2,6 milhões em relação à pesquisa anterior, realizada em 2016.

“Sou privilegiada por não precisar trabalhar enquanto faço pré-vestibular. Com isso, tive o ano todo livre e focada especificamente para a preparação, treinar estratégias de prova ao longo do ano e fazer inúmeros simulados no cursinho e em casa”, reconheceu Laís Morais.

O ENEM 2021

Além das dificuldades consideradas comuns (como preparação, deslocamento, rotina de estudos), o ENEM 2021 veio com um agravante: a pandemia da Covid-19. Com isso, houve a necessidade de reaplicação da prova para os alunos que contraíram a doença na data original, para aqueles que perderam um familiar para a pandemia e também para as pessoas privadas de liberdade (PPL).

O resultado de todas essas barreiras educacionais refletiu no número de inscritos no maior vestibular do Brasil. De acordo com Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), pouco mais de 3 milhões de pessoas tiveram a inscrição confirmada, o menor número desde 2005. Os vestibulandos esperam, criam expectativas e temem pelo dia do exame para o qual tanto se prepararam.

“A prova desse ano me surpreendeu em muitos aspectos, o tema da redação foi o principal e minha maior dificuldade é [gerenciar] o tempo para realizar o segundo dia de prova”, declarou Alice Abreu.

“Duas provas me surpreenderam um pouco: a de Ciências Humanas eu achei pouco conteudista e muito interpretativa, já a prova de Ciências Naturais achei muito conteudista e específica, principalmente a parte de biologia, que caíram conteúdos complexos com bastante recorrência, como botânica e sistema nervoso”, pontuou Laís.

Como você imagina a vida de universitária?

Laís Morais: Imagino que deva ser difícil, muitas mudanças ao mesmo tempo, ter que se adaptar a uma nova rotina é sempre complicado, mas acho que não deve ter sensação melhor, uma sensação de dever cumprido e gratidão. Fico ansiosa, com medo de não gostar do curso ou algo do tipo, mas acredito que isso não irá acontecer. Além disso, os boatos de que na faculdade existe muita competição me assusta um pouco também, não gosto nem um pouco.

Alice Abreu: Para ser sincera, eu não me imagino muito como universitária, tenho sim ansiedade e curiosidade em descobrir como tudo funciona, mas não consigo me imaginar fora da fase de vestibulanda.

Para você, qual é a importância do Enem?

Alice Abreu: Qualquer área do mercado de trabalho requer um conhecimento mais aprofundado, que se é obtido na faculdade e o ENEM passa a ter uma extrema importância, pois é a maior ferramenta para o estudante contemporâneo ingressar no meio universitário.

Laís Morais: O ENEM é o principal meio de entrada dos estudantes para as faculdades federais do país, muitas delas, como a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), utiliza a nota do ENEM como único meio de ingresso, então, acredito que seja extremamente importante e necessário. Acho também que o Enem serve para mostrar como a educação brasileira caminha e para avaliar se os estudantes estão recebendo, de fato, o ensino que precisam.


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