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24/01/2022 às 00h00min - Atualizada em 24/01/2022 às 00h01min

Janeiro Roxo: Mês do Combate e Prevenção da Hanseníase

O estigma e preconceito com a hanseníase, uma doença infecciosa que tem cura e tratamento, é um obstáculo no combate à doença

Juliana Valillo - Editado por Júlio Sousa
UOL; Estudo da UNIFESP; Jornal Brasília; Canal Tech; Notícias do Governo Federal; FHEMIG; SBD; SBCM
Apoio a campanha Janeiro Roxo | Fonte: Pixabay
O mês de janeiro é dedicado à conscientização sobre a doença que tem tratamento e cura. O Dia Mundial de Combate e Prevenção da Hanseníase é no 30/01 com o tema da campanha “Precisamos falar sobre hanseníase”. O símbolo do Janeiro Roxo visa chamar a atenção das pessoas acerca do assunto. O preconceito até então é uma das maiores adversidades no combate da doença.
 
A hanseníase é uma doença infecciosa ocasionada pela bactéria Mycobacterium Leprae, denominada popularmente como bacilo de Hansen (homenagem à Gerhard Hansen, médico e bacteriologista norueguês que a descobriu em 1873). Segundo os estudos da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), a reprodução do bacilo é lenta e, normalmente, o período médio de incubação e do surgimento dos sintomas é de cinco anos
 
Os sinais começam com algumas manchas na pele, ocasionando lesões e perda de sensibilidade na área que foi afetada. Além disso, pode ocorrer fraqueza muscular e a sensação de formigamento nas regiões das mãos e dos pés. Quando a pessoa não busca o tratamento adequado no início dos sinais, a doença pode provocar sequelas progressivas e até permanentes, incluindo deformidades, mutilações, além da redução na mobilidade dos membros e cegueira.
 
Segundo Artur Custódio, coordenador Nacional do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morhan), em uma entrevista para UOL:
"A gente tem problemas de diagnóstico precoce da hanseníase, ou seja, os profissionais de saúde não estão conseguindo identificar a doença no início. Outro problema grave, que ocorreu no ano retrasado, foi a falta de medicamentos. A gente precisa ter a fabricação desses medicamentos no país para não ficar vulnerável a qualquer problema externo. Também precisamos ter pesquisa para novos fármacos para a hanseníase, assim como para testes novos para o diagnóstico precoce. Também temos o problema das sequelas da doença. Então necessitamos de um sistema de reabilitação que aceite as pessoas, que não tenha preconceito, que possa cumprir com o papel de reabilitar aqueles que ficaram com alguma sequela da hanseníase. E por último, temos que enfrentar o estigma da doença. O estigma é subestimado, ele está aí, ele é estrutural e gera uma série de problemas, inclusive do ponto de vista institucional."
 
Os dados da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia) revelam que cerca de 30 mil novos casos são identificados todos os anos no Brasil. E são constatados cerca de 210 mil novos casos anualmente no mundo, dos quais 15 mil são de crianças. De acordo com a Opas, a hanseníase pode ser detectada em 127 países. Os dados de 2018 mostram que 80% dos casos ocorrem na Índia, Indonésia e Brasil.
 
Sandra Durães, coordenadora do Departamento de Hanseníase da SBD, diz que a hanseníase se encontra identificada entre as doenças negligenciadas, em que atingem uma população com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Ela explica:
"O Brasil, apesar de estar entre as grandes economias mundiais, apresenta grande desigualdade social. Nas periferias de suas metrópoles existem grandes bolsões de pobreza".
 
A coordenadora também destaca que grande parte da população é resistente à doença, mas há uma pequena porcentagem de indivíduos que são mais vulneráveis:
"Nessas pessoas, a doença varia muito conforme a resistência que elas apresentam à doença. Temos dois tipos básicos de pacientes, aqueles com uma ótima resistência e que apresentam poucas lesões na pele, poucos nervos periféricos acometidos e pequena carga bacilar. Por outro lado, temos pacientes que apresentam grande carga bacilar, grande número de lesões cutâneas e grande número de nervos periféricos acometidos. O tratamento desses pacientes é diferente. Os que apresentam poucas lesões fazem tratamento com administração de antibióticos por seis meses. Os pacientes com grande carga bacilar fazem tratamento por 12 meses. O tratamento é feito no posto de saúde onde o paciente, uma vez por mês, toma uma medicação, e as outras medicações são tomadas em casa"
 
A hanseníase é transmitida pelo ar, principalmente nas situações em que o contato é próximo entre as pessoas. Uma grande parte da população tem defesas naturais contra essa bactéria, em torno de 10% da população não tem esses mecanismos de defesa e podem adoecer.
 
Quando o tratamento se inicia com os antibióticos adequados, a doença deixa de ser transmissível, por essa razão é importante diagnosticá-la no início dos sinais. Entretanto, o tratamento com antibióticos não reverte danos neurais e as sequelas que foram causadas pela identificação tardia. Se houver um diagnóstico positivo, as pessoas que convivem muito com o infectado também devem procurar o sistema de saúde e o auxílio médico.
 
A OMS (Organização Mundial da Saúde) usa uma estratégia denominada “Rumo à Zero Hanseníase” que se concentra em reduzir a detecção de novos casos, incapacidades físicas (em especial entre crianças), além do estigma e preconceito. Os portadores da doença eram afastados do convívio social e transferidos para um confinamento em colônias até a década de 1970 no Brasil.
 
O Artur Custódio explica que
"No passado, a gente tinha uma política de segregação, higienista, de limpeza do Estado brasileiro, em que vinha a polícia sanitária, capturava a pessoa e levava para uma colônia de isolamento. Essa prática, apesar da descoberta da cura na década de 40, persistiu no Brasil oficialmente até 1976 e, na prática, tivemos episódios até 1986. A criação da Lei 11.520/2007, que estabeleceu indenização, pelo crime de Estado, àquelas pessoas que foram segregadas. E a gente luta para ter o reconhecimento dos filhos que foram tirados dos pais na época da segregação. Existe um projeto de lei nesse sentido, que infelizmente foi tirado da pauta na última votação do ano. Então é importante que ele volte para a pauta na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e saia da CCJ da Câmara e vá para o Senado" e também que "o Brasil é um dos países que acabou com todas as leis discriminatórias na década de 1990, e que avançou para a criação de reparação", além de acrescentar "O Brasil já indenizou cerca de 10 mil pessoas até hoje", acrescentou.
 
É esclarecido por Sandra Durães que as informações para a população são fundamentais.
"Para que ela esteja ciente, conheça os sinais e sintomas da doença, possa procurar assistência médica o mais precocemente possível e para que o diagnóstico e o tratamento sejam precoces, evitando assim o dano neurológico e a incapacidade do paciente. E, ainda, contribuir para a diminuição do estigma que existe em relação à doença, que é infecciosa e potencialmente curável”

O desconhecimento sobre esta doença só faz surgir preconceitos que dificultam o controle adequado da hanseníase. A procura por ajuda médica é muito importante se desconfiar ou aparecer os sintomas da doença. É disponibilizado o tratamento e remédios de forma gratuita pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

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