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28/01/2022 às 12h34min - Atualizada em 28/01/2022 às 12h23min

Crônica: Eu, pronome

Fernando Azevêdo - Editado por Larissa Bispo
Imagem: Fernando Azevêdo
 

Sou filho dos idiomas e assumo várias formas, grafias, flexões; apareço ou me escondo; significo várias coisas ou nada; sou muito relevante ou pouco; até indico quem é dono de alguma coisa, se eu quiser. Sou muito perspicaz e exijo que minha importância seja reconhecida.

 

Às vezes, não sou tão estudado assim - Poxa! -, mas todo mundo tem que saber quem eu sou. Egoísmo? Não. Apenas sei meu papel. Você tem que concordar direitinho comigo para se comunicar bem. Se não, gera ruído, confusão; pode até ser constrangedor. Ou violento.

 

Se me personificam - no português: eu, tu, ele, ela, nós, vós, eles, elas -, tenho de indicar quem está falando ou de quem estão falando. Seja uma pessoa ou muitas, seja de qual gênero for. Inclusive, você também pode me encontrar como ile, elu, elx ou el@. A língua é muito dinâmica, então não vem me dizer que não concorda com o jeito que me empregam. Respeite-me!

 

Agora, vou sair um pouco desse “eu, eu, eu, (eu)”, e vou contar a história de Alice. Alice é uma jovem enfermeira que trabalha muito. Ajuda muitas pessoas em situações delicadas, sabe? A Alice é uma anja, um amor! Mas a Alice sofre um pouco, vez ou outra. 

 

Ela não nasceu em um corpo no qual se sentisse confortável, sabe? Quando criança, tinha um outro nome, que a impunha um outro “eu, pronome”. Após um tempinho, ela conseguiu seu direito de mudar tudo isso. Foi uma grande conquista! Ainda assim, algumas pessoas insistem em falar o pronome diferente daquele com o qual ela se sente representada. A adjetivam errado também. Ela é talentosa, dedicada, trabalhadora, e as pessoas deveriam entender isso. 

 

Eu fico muito triste quando me colocam de um jeito equivocado, principalmente quando isso magoa pessoas. Em 2022, gente... A Alice é uma dentre muitas outras. Ela corrige quem se refere a ela errado, mas não deveria precisar. Às vezes é desgastante; cansativo. Tenho visto algumas situações em que nem tatuar “uma de minhas versões, pronomes” é suficiente. 


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