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10/02/2022 às 16h40min - Atualizada em 10/02/2022 às 16h37min

O legado de Joan Didion que revolucionou o jornalismo literário

Dona de uma forma única de enxergar o cotidiano, foi a partir daí que Joan Didion nos fez experimentar aquilo que hoje chamamos de jornalismo literário.

Vitoria Fontes - Editado por Larissa Bispo
Créditos/Reprodução: New Yorker

A maneira como escrevia sobre o cotidiano da Califórnia se transformou na sua verdadeira marca. Joan Didion falava sobre a desordem social da maneira mais pessoal e incomum que as mídias sociais da sua época e dos dias de hoje já viram.

 

Foi graças a esse olhar peculiar que Joan Didion teve a oportunidade de vivenciar momentos que todo jornalista sonha, momentos esses que não eram só de felicidade, mas também de angústia. Foi através da crítica social e da escrita pessoal que Didion deixou um legado exponencial para àqueles que gostam de jornalismo e um legado curioso para os demais.


O início do legado
 

A jornalista deu indícios de seu estilo ensaísta e romancista logo na infância. Aos 5 anos, ganhou um caderno de sua mãe para que ali escrevesse sobre seus sentimentos, ao invés de choramingar pelas circunstâncias.

 

E foi nesse caderno que Joan escreveu pela primeira vez. Contou a história de uma mulher que acreditava fielmente que morreria congelada no Ártico, até que ao amanhecer descobriu que estava no deserto do Saara e ali morreria de calor.

 

E é com essa primeira história escrita por Didion, apenas aos 5 anos de idade, que conseguimos ver tamanha sensibilidade e senso exótico que ela tinha mesmo tão nova. Crianças de sua mesma idade eram acostumadas a escrever sobre a magia dos desenhos animados. Joan não; Joan tinha dentro de si algo que lá na frente a tornaria a pioneira do Jornalismo literário.

 

Joan viveu a maior parte de sua vida na Califórnia e, apesar disso, não conseguia se sentir ligada aquela cidade. Califórnia parecia ser um verdadeiro enigma.

A Vogue

Em seu último ano na faculdade, Joan Didion viu a oportunidade de trabalhar na Vogue através de uma competição: o "Prix de Paris”. Com 20 anos, venceu e se mudou para trabalhar na Vogue de Nova York. A conexão com a cidade foi surpreendente; Nova York transformaria a vida de Joan Didion dali pra frente.

 

O primeiro trabalho escrito pelas mãos de Joan para a Vogue foi "Self-respect: Its source, its power" - em português “Amor-próprio: sua origem, seu poder” - em 1 de agosto de 1961.

 

“Embora ser levado de volta a si mesmo seja, na melhor das hipóteses, um assunto desconfortável, mais ou menos como tentar cruzar uma fronteira com credenciais emprestadas, parece-me agora a única condição necessária para o início do verdadeiro respeito próprio. Apesar da maioria de nossos chavões, o autoengano continua sendo o engano mais difícil. Os encantos que funcionam com os outros não contam para nada naquele beco devastadoramente bem iluminado onde se mantém encontros consigo mesmo: nenhum sorriso cativante serve aqui, nenhuma lista lindamente desenhada de boas intenções.”


Essa escrita com características pessoais e sensíveis era algo incomum para a Vogue, foi a partir daí que Joan Didion apresentou uma nova forma de escrita para os Estados Unidos. 
 

O primeiro livro publicado

Foi com o término da faculdade e a rotina de trabalho na Vogue que Joan Didion decidiu finalmente por em prática uma vontade que vinha nutrindo a muito tempo: a vontade de escrever um romance.

Não sabia muito bem como iniciar o desenvolvimento de um livro, então, começou escrevendo partes dele e colando na parede de seu quarto, assim, conseguia visualizar melhor o encaixe das partes de sua história.

Seu primeiro romance levou o nome de "Run River" e foram publicados cerca de 10 cópias somente. O irmão de Joan foi um dos leitores da obra e disse:

"Não foi o seu melhor romance, mas foi o seu primeiro e a historia falava sobre pessoas que conhecíamos. Era uma história sobre Sacramento, a cidade onde nascemos".


Em Run Runer, Didion conta a história do casamento entre Everett McClellan Lily Knight McClellan, que termina em traição e assassinato. Como Didion estava em Nova York quando escreveu o livro, sua inspiração veio da saudade que sentia da sua vida na Califórnia. Ali, ela contava uma falsa história, uma história que só era verdadeira aos seus olhos.

O surgimento de um novo jornalismo

O jornalismo que conhecemos é o fato da realidade, uma forma de se comunicar e informar à massa de maneira clara e transparente. Por sua vez, o jornalismo literário também segue essas arestas, porém, conta com a somatização da literatura, assim, proporcionando um sabor algumas vezes fictícios, mas com uma bagagem excepcional quando falamos de vocabulário, estrutura e aprofundamento da narração.

E é esse aprofundamente que permite que o jornalismo literário traga detalhes minuciosos da cada narrativa que se propõe contar. Além de informar, o jornalismo literário quebra barreiras sociais, economicas e políticas. É através dele que passamos a enxergar o caos social com outros olhos. E foi exatamente isso que Joan Didion fez antes mesmo de se quer saber que estava dando início a uma nova era do jornalismo.

O caos da década de 60

Um época repleta de confusão, os Estados Unidas vivia um momento conturbado: a sociedade estava em colapso, a crise economica caminhava para a falência e assassinatos eram cada vez mais comuns - porque passaram a ser banalizados. Ninguém mais se impactava com o noticiário; o caos era tamanho que parecia que a população havia perdido a sensibilidade.

O uso de drogas era assustador, familias eram sequestradas, adolescentes pareciam verdadeiros peregrinos andando de um caos para o outro. Nesse momento, Joan começou a cobrir os acontecimentos da maneira pessoal e incomum que só ela tinha. Todo esse período conturbado a deixou muito sensiblizada, afinal, a realidade dos Estados Unidos eram crianças tendo acesso às drogas e Joan tinha uma filha com a idade da maioras das outras crianças que estavam naquela situação lamentável.

Quando perguntada sobre a sensação de ver uma criança lambuzada por LSD, a resposta de Joan foi uma só:

 
"Foi uma oportunidade, você vive por moimentos como este se você estiver escrevendo um artigo".

O estilo de vida inglês era super conservador e, por conta disso, a invasão do estilo hippie em 1967 os fizeram se apaixonar. Porém, foi depois do artigo "Slouching Towards", escrito por Joan Didion, que todas as pessoas passaram a ver verdadeiramente o estado deplorável em que as coisas estavam.

O Jonalismo literário para ver beleza na desordem, para conseguir extrair o melhor de uma situação que aos nossos olhos já nçao tem mais jeito, não tem mais solução e essa característca fez Joan Didion representar tudo o que ela representa para o jornalismo literário!

 

As principais obras de Didion

Precursora do jornalismo literário nos Estados Unidos, a célebre jornalista romancista marcou gerações com seus textos sobre política, cultura e movimentos sociais, tudo sob um olhar sensível e incomum.

Joan escreveu 13 livros entre ficção e não-ficção. Seu trabalho também foi compartilhado com grandes mídias socias, como: The Saturdy Evening Post, Holiday, Life, Esqueri e o grande The New York Times.

Rastejando até Belém (1968)


"É uma história de amor e morte sobre a terra de ouro.” É assim que Joan Didion descreve Los Angeles, que será tema de uma coletânea de 20 ensaios neste clássico da literatura americana. Seu olhar aguçado e o texto guiam os leitores pelas mudanças sociais, políticas e culturais da época, intercaladas com observações filosóficas e a beleza geográfica da paisagem. Rastejar até Belém é uma mistura de sonhos e sentimentos que você vivencia com sobriedade.


Play It as It Lays (1970) 
O romance, não traduzido para o português, coloca a plasticidade da vida de Los Angeles no centro através das experiências e problemas de uma jovem. Nomeado pelo The New York Times como um dos 100 melhores romances em inglês de 1923 a 2005, seja o comportamento de uma geração cheia de desejos e esperanças, mas perdida entre suas muitas possibilidades.

O Álbum Branco (1979)

Este livro reúne 20 textos em cinco partes cobrindo eventos relevantes no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 - inclusive Charles Manson. Do cenário da música underground aos incêndios florestais que se espalham pelo noticiário, passando por movimentos sociais e perfis de artistas de destaque, O Álbum Branco mergulha em um dos períodos mais vibrantes da cultura pop do mundo.

O ano do pensamento mágico (2005)
Talvez o livro mais famoso e respeitado da autora em um relato profundamente pessoal do impacto da morte de seu marido e colega escritor John Gregory Dunne. Com emoção e honestidade. Casados ​​há 40 anos e tendo uma filha, Quintana, eles têm uma troca emocional e intelectual tão inerente que faz o autor se perguntar como será a partir de então. Em seu trabalho, ela também fala sobre os altos e baixos do casamento, da maternidade e de uma vida que terminou abruptamente. Impossível não se emocionar.

Let Me Tell You What I Mean (2021)
Último livro publicado por sua autoria, Let Me Tell You What I Mean reúne 20 ensaios nunca antes publicados que colocam o leitor de Joan em contato com o seu processo criativo. Os textos são, em sua maioria, da primeira fase de sua longa carreira de 50 anos, e incluem percepções sobre os veteranos de guerra em Los Angeles, uma visita a San Simeon , Nancy Reagan, Martha Stewart e mais. Política, pautas feministas, escrita e jornalismo – temáticas recorrentes na obra de Joan – reforçam a potência e importância da autora para a história literária
.

 

O legado de Joan Didion

Joan Didion dedicou toda a sua via à contar história do seu cotidiano, reinventou aquilo que chamaos hoje de jornalismo literário e nos proporcionou uma perspectiva intensa e sensível sobre o lado bom e ruim da vida.

Joan e sua jornada nos mostra que é fácil enxergar o início e difícil enxergar o fim das coisas, com seus livros nos ensina que coisas boas ficam ruins uma hora e que apesar disso é possível encontrar uma perspectiva nova sob o caos e compartilhar sensibilidade com aqueles que pensam que o jornalismo é apenas atrocidades.

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