A maneira como escrevia sobre o cotidiano da Califórnia se transformou na sua verdadeira marca. Joan Didion falava sobre a desordem social da maneira mais pessoal e incomum que as mídias sociais da sua época e dos dias de hoje já viram.
Foi graças a esse olhar peculiar que Joan Didion teve a oportunidade de vivenciar momentos que todo jornalista sonha, momentos esses que não eram só de felicidade, mas também de angústia. Foi através da crítica social e da escrita pessoal que Didion deixou um legado exponencial para àqueles que gostam de jornalismo e um legado curioso para os demais.
A jornalista deu indícios de seu estilo ensaísta e romancista logo na infância. Aos 5 anos, ganhou um caderno de sua mãe para que ali escrevesse sobre seus sentimentos, ao invés de choramingar pelas circunstâncias.
E foi nesse caderno que Joan escreveu pela primeira vez. Contou a história de uma mulher que acreditava fielmente que morreria congelada no Ártico, até que ao amanhecer descobriu que estava no deserto do Saara e ali morreria de calor.
E é com essa primeira história escrita por Didion, apenas aos 5 anos de idade, que conseguimos ver tamanha sensibilidade e senso exótico que ela tinha mesmo tão nova. Crianças de sua mesma idade eram acostumadas a escrever sobre a magia dos desenhos animados. Joan não; Joan tinha dentro de si algo que lá na frente a tornaria a pioneira do Jornalismo literário.
Joan viveu a maior parte de sua vida na Califórnia e, apesar disso, não conseguia se sentir ligada aquela cidade. Califórnia parecia ser um verdadeiro enigma.
Em seu último ano na faculdade, Joan Didion viu a oportunidade de trabalhar na Vogue através de uma competição: o "Prix de Paris”. Com 20 anos, venceu e se mudou para trabalhar na Vogue de Nova York. A conexão com a cidade foi surpreendente; Nova York transformaria a vida de Joan Didion dali pra frente.
O primeiro trabalho escrito pelas mãos de Joan para a Vogue foi "Self-respect: Its source, its power" - em português “Amor-próprio: sua origem, seu poder” - em 1 de agosto de 1961.
“Embora ser levado de volta a si mesmo seja, na melhor das hipóteses, um assunto desconfortável, mais ou menos como tentar cruzar uma fronteira com credenciais emprestadas, parece-me agora a única condição necessária para o início do verdadeiro respeito próprio. Apesar da maioria de nossos chavões, o autoengano continua sendo o engano mais difícil. Os encantos que funcionam com os outros não contam para nada naquele beco devastadoramente bem iluminado onde se mantém encontros consigo mesmo: nenhum sorriso cativante serve aqui, nenhuma lista lindamente desenhada de boas intenções.”
Essa escrita com características pessoais e sensíveis era algo incomum para a Vogue, foi a partir daí que Joan Didion apresentou uma nova forma de escrita para os Estados Unidos.
Foi com o término da faculdade e a rotina de trabalho na Vogue que Joan Didion decidiu finalmente por em prática uma vontade que vinha nutrindo a muito tempo: a vontade de escrever um romance.
Não sabia muito bem como iniciar o desenvolvimento de um livro, então, começou escrevendo partes dele e colando na parede de seu quarto, assim, conseguia visualizar melhor o encaixe das partes de sua história.
Seu primeiro romance levou o nome de "Run River" e foram publicados cerca de 10 cópias somente. O irmão de Joan foi um dos leitores da obra e disse:
"Não foi o seu melhor romance, mas foi o seu primeiro e a historia falava sobre pessoas que conhecíamos. Era uma história sobre Sacramento, a cidade onde nascemos".
Em Run Runer, Didion conta a história do casamento entre Everett McClellan Lily Knight McClellan, que termina em traição e assassinato. Como Didion estava em Nova York quando escreveu o livro, sua inspiração veio da saudade que sentia da sua vida na Califórnia. Ali, ela contava uma falsa história, uma história que só era verdadeira aos seus olhos.
"Foi uma oportunidade, você vive por moimentos como este se você estiver escrevendo um artigo".
Precursora do jornalismo literário nos Estados Unidos, a célebre jornalista romancista marcou gerações com seus textos sobre política, cultura e movimentos sociais, tudo sob um olhar sensível e incomum.
Joan escreveu 13 livros entre ficção e não-ficção. Seu trabalho também foi compartilhado com grandes mídias socias, como: The Saturdy Evening Post, Holiday, Life, Esqueri e o grande The New York Times.
Rastejando até Belém (1968)
"É uma história de amor e morte sobre a terra de ouro.” É assim que Joan Didion descreve Los Angeles, que será tema de uma coletânea de 20 ensaios neste clássico da literatura americana. Seu olhar aguçado e o texto guiam os leitores pelas mudanças sociais, políticas e culturais da época, intercaladas com observações filosóficas e a beleza geográfica da paisagem. Rastejar até Belém é uma mistura de sonhos e sentimentos que você vivencia com sobriedade.
Play It as It Lays (1970)
O romance, não traduzido para o português, coloca a plasticidade da vida de Los Angeles no centro através das experiências e problemas de uma jovem. Nomeado pelo The New York Times como um dos 100 melhores romances em inglês de 1923 a 2005, seja o comportamento de uma geração cheia de desejos e esperanças, mas perdida entre suas muitas possibilidades.
O Álbum Branco (1979)
Este livro reúne 20 textos em cinco partes cobrindo eventos relevantes no final dos anos 1960 e início dos anos 1970 - inclusive Charles Manson. Do cenário da música underground aos incêndios florestais que se espalham pelo noticiário, passando por movimentos sociais e perfis de artistas de destaque, O Álbum Branco mergulha em um dos períodos mais vibrantes da cultura pop do mundo.
O ano do pensamento mágico (2005)
Talvez o livro mais famoso e respeitado da autora em um relato profundamente pessoal do impacto da morte de seu marido e colega escritor John Gregory Dunne. Com emoção e honestidade. Casados há 40 anos e tendo uma filha, Quintana, eles têm uma troca emocional e intelectual tão inerente que faz o autor se perguntar como será a partir de então. Em seu trabalho, ela também fala sobre os altos e baixos do casamento, da maternidade e de uma vida que terminou abruptamente. Impossível não se emocionar.
Let Me Tell You What I Mean (2021)
Último livro publicado por sua autoria, Let Me Tell You What I Mean reúne 20 ensaios nunca antes publicados que colocam o leitor de Joan em contato com o seu processo criativo. Os textos são, em sua maioria, da primeira fase de sua longa carreira de 50 anos, e incluem percepções sobre os veteranos de guerra em Los Angeles, uma visita a San Simeon , Nancy Reagan, Martha Stewart e mais. Política, pautas feministas, escrita e jornalismo – temáticas recorrentes na obra de Joan – reforçam a potência e importância da autora para a história literária.