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16/06/2022 às 21h55min - Atualizada em 16/06/2022 às 21h38min

Uma carta de uma criança autista para sua professora

Trazendo voz a quem ainda não possui

Daniela Ramirez - Editado por Larissa Bispo

Querida professora, há muitas coisas que gostaria de te dizer, mas ainda não consigo. Eu tenho me esforçado muito para conseguir, profe, mas ainda é difícil para mim. Algumas frases e informações me parecem muito confusas, ainda mais quando você fala por muito tempo.

Quando você diz apenas frases curtas, como "sente-se", eu consigo entender, mas nem sempre é assim. As aulas são longas e muitas vezes barulhentas e, por isso, às vezes não consigo acompanhar as atividades, mas eu juro que tento. Então, deixo passar e concentro minha atenção em alguma coisa que gosto muito, afim de tentar organizar meus pensamentos.

Professora, quase sempre, quando estou na sala de aula ou no parque, fico muito confusa e agitada com tanto barulho. Como não consigo dizer isso, muitas vezes choro, mas às vezes você se irrita, e isso me faz chorar ainda mais.

Minha querida professora, na grande maioria das vezes brinco sozinha, pois as outras crianças não querem brincar comigo. E elas gritam, gritam muito para que eu fale com elas. Mas eu não consigo, e isso também me faz chorar.

Profe, eu tenho muita dificuldade em fazer amizades, pois muitas coisas que eu gosto meus coleguinhas não gostam, e acham engraçado quando eu repito a mesma brincadeira ou gesto muitas vezes. Por isso, brinco melhor sozinha.

Professora, consegue entender porque é tão difícil para mim? Por isso, não fique nervosa, eu juro que estou tentando.

...

Este relato é uma ilustração inspirada na história de uma criança autista não verbal de apenas 2 anos, que supostamente sofreu maus tratos na creche Nedy de Oliveira, localizada em Pirassununga (SP).

A mãe da criança relatou que, ao notar um comportamento atípico da criança, colocou um celular com o gravador ligado em sua mochila, com o objetivo de entender o que realmente estava acontecendo na creche. Os áudios gravados supostamente indicam que a criança foi trancada no banheiro da creche e impedida de participar das atividades diárias, além de ser hostilizada constantemente. O caso está em investigação na Polícia Civil, Ministério Público e prefeitura. A professora e duas auxiliares da creche estão afastadas

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