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19/08/2022 às 00h38min - Atualizada em 18/08/2022 às 23h47min

Pacto Brutal: O registro intimista e inquietante do caso Daniella Perez

Após 30 anos do assassinato da atriz, testemunhas, familiares e fãs relatam sobre o caso de modo mais intimista e crítico à cobertura do crime

Lívia Nogueira - Revisado por Flavia Sousa
Daniella Perez, morta com apenas 22 anos de forma brutal, era bailarina e uma atriz em ascensão (Foto: Antônio Batalha/Folhapress)

"A vida parecia uma estrada linda, aberta. A gente só via coisas boas no horizonte. Mas, de repente, tudo isso explodiu”, declara a autora Glória Perez sobre a morte de sua filha, a atriz Daniella Perez. Personagem de destaque na telenovela “De Corpo e Alma”, que era transmitida no horário de maior audiência da Rede Globo entre agosto de 1992 e março de 1993, a artista foi assassinada de forma brutal por um colega de cena e a esposa do ator. Essa adjetivação intitulou a série documental que narra acontecimentos da época e reconstrói memórias de personagens envolvidos.

Pacto Brutal: o Assassinato de Daniella Perez” reconta, além do assassinato cometido contra a atriz no dia 28 de dezembro de 1992, a história da jovem de apenas 22 anos, o cenário artístico em que estava submersa e as investigações do crime por outros ângulos. O documentário, que contém 5 episódios, foi produzido pela HBO Max, plataforma na qual pode ser acessado, e lançado no último mês de julho, quase 30 anos após o caso.


Pacto Brutal: O Assassinato de Daniella Perez | Trailer | HBO Max. (Reprodução: HBO Max - Youtube)

A princípio, é importante situar brevemente sobre o contexto e o referido crime. Naquele período, Daniella Perez participava da telenovela escrita e dirigida por sua mãe. A produção, que já ocupava o espaço de maior destaque e audiência da emissora, causava identificação e engajamento entre os telespectadores nacionalmente. Isso também explica parte da comoção pelo caso.

Daniella, na personagem de Yasmin, atuou como par romântico, até certo momento da narrativa, de Guilherme de Pádua, que interpretava o motorista Bira. Mais tarde, esse seria um dos responsáveis pela morte da jovem. Um dos motivos apontados para o assédio do ator com relação à Daniella ir para além do cenário novelístico foi exatamente o distanciamento do casal na trama, que também significava o afastamento do personagem Bira do destaque na produção.

Na noite de 28 de dezembro, após as gravações rotineiras, Guilherme e sua esposa, Paula Thomaz, levaram Daniella até um local afastado da cidade e cometeram o crime contra a atriz. A revolta atingiu níveis internacionais e o assunto destacou-se mais do que a própria renúncia do presidente do Brasil na época, que ocorreu no mesmo dia.

LEIA MAIS: Documentário sobre o caso Daniella Perez resgata a verdadeira história da vítima


 

Com relação a esse destaque, “Pacto Brutal” compromete-se durante toda a produção a desmistificar teorias e relatar o caso concretamente, a fim de estruturar uma narrativa diferente da que a mídia construiu sobre o caso e que a sociedade em geral acatou e propagou. A cobertura do crime, na época, associou o cenário novelístico que envolvia os atores e a realidade, criando uma situação de espetacularização do caso. Isso também foi agravado pelo constante espaço de fala dado aos autores do homicídio, que declararam-se às suas maneiras e edificaram as narrativas de conflito e fantasias, marcantes para o imaginário do público.

A produção vem, nesse sentido, para prestar serviço à sociedade, já que frisa a importância da sensibilidade e da criticidade aos registros e às coberturas jornalísticas em casos de tal proporção, além de relembrar à própria mídia de seu papel nessas situações.

O que existe sobre os “fatos”, a partir dos presentes no fatídico momento, ou seja, os autores do homicídio, são apenas versões. A série documental trata, inclusive, de evidenciar que a verdade por completo não foi descoberta até hoje. De acordo com familiares, amigos e autoridades de segurança, apesar de ter existido agilidade e compromisso da força policial, houveram falhas de investigação, que poderiam ter cessado as dúvidas e os possíveis equívocos de conclusão do caso, já que os envolvidos mantiveram a opção de culpar um ao outro até o momento.

Além disso, é fundamental frisar a qualidade audiovisual que “Pacto Brutal” foi capaz de oferecer, rico em registros históricos, apresentação de fontes e recursos de dramaticidade, sem perder a seriedade objetivada com a produção. Os relatos intimistas e infinitamente inquietos (e inquietantes) dos familiares, amigos e fãs que participaram do documentário também foram acolhidos e amplamente esclarecedores para o público, que tanto repercutiu positivamente nas redes sociais. 
 

Twitter de Ivan Gottardo. (Reprodução: @ivangottardo - Twitter)

Twitter de Vi. (Reprodução: @ilysgaga - Twitter)

 

A produção, ao passo que reitera o sentimento de inconclusão e revolta com tudo o que envolve o caso, consegue representar um determinado desfecho mais respeitoso e saudosista para a história de Daniella Perez.


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