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16/09/2022 às 10h00min - Atualizada em 16/09/2022 às 10h27min

O final feliz que elas merecem: uma reflexão sobre os romances sáficos na literatura, no audiovisual e na vida

Por Nathália Aguiar - Editado por Fernando Azevêdo
Foto: Unsplash

 

Há algum tempo, conversei com uma moça. Era uma entrevista, das muitas que já fiz desde a decisão de me tornar jornalista. Na profissão, você esbarra com todo tipo de gente; umas agradáveis, outras memoráveis e algumas nem tanto. Em todos os casos, porém, após as entrevistas, sempre me vi presa nos diálogos. Recordo gestos, olhares, os suspiros entre as frases e o que o entrevistado escolhe não dizer neles. Pensando na pauta da semana, retornei a conversa com a tal mulher.

Esta, lembro por ter sido fácil. Talvez uma das mais simples que já fiz. A pauta era literatura LGBTQIA+. Eu não estava nervosa e a entrevista discorreu por linhas seguras. Uma frase, que não deve ter durado mais do que cinco segundos para ser pronunciada, no entanto, me fez refletir por algumas horas.


Ela falava sobre finais felizes e quem os merece. Para mim, que fui criada ouvindo contos de fadas e acreditando em príncipes encantados e princesas corajosas, a resposta era óbvia: todos aqueles que vivem suas vidas da melhor forma possível e que para isso não precisam machucar outra pessoa, merecem um final digno dos melhores filmes da Disney.


Mas, em algumas histórias, nas quais a Disney não conta, o enredo é mais complicado, o vilão mais forte e o final distorcido por uma realidade mais cruel do que aquela dos contos de fadas: nem sempre o casal termina a narrativa junto.


Os romances sáficos são aqueles vividos entre mulheres. Nas produções audiovisuais e literárias, muitas vezes, conhecemos a face mais complicada do relacionamento — o casal precisa enfrentar situações desagradáveis durante toda narrativa para permanecerem juntos, o que nem sempre acontece, seja por um término ou, na maioria das vezes, pelo cancelamento da obra.

Estes casos não são isolados e vêm se repetindo com cada vez mais constância, o que tem levantado revolta nas redes sociais. O acontecimento mais recente foi o cancelamento inesperado de ‘First Kill’ (Primeira Morte) pela Netflix, no mês do orgulho lésbico, comemorado em agosto. A série de fantasia com casal sáfico estava em sua primeira temporada e com a audiência tão boa quanto Heartstopper, lançamento recente do streaming que apresenta um romance gay e já foi renovada para a segunda temporada. Tal fato incorporou a discussão na internet.
Confira.
 



 

 



 

 

 

 


No 29 de agosto, comemora-se o Dia Nacional da Visibilidade Lésbica. Houve nítidos avanços desde que a data foi oficializada, mas ainda há muito o que melhorar para que haja, de fato, comemoração.

 

A impressão é de que obras com romance sáfico já nascem com a sentença do fim predeterminada antes mesmo de serem lançadas. Pensar nisso como um fato sem importância é dissociar ficção de realidade, coisas que são intrinsecamente ligadas, de modo que a existência de uma se respalda e só é possível pela da outra. Os estereótipos postos em obras audiovisuais e literárias são tratados como o “normais” por determinado grupo porque são eles que alimentam e garantem que esses estereótipos continuem existindo e sendo propagados como verdade fora da ficção.

 

Outra parte da massa, no entanto, está cansada de não ser vista. As pitadas meticulosamente calculadas de diversidade nas produções não estão sendo mais o suficiente para o público. E realmente não devem ser! Os finais felizes não podem ser uma realidade apenas para os contos de fadas e casais heteronormativos, mas, sim, para todos aqueles que se amam. Afinal, mesmo que digam e tentem provar o contrário, todos merecem acreditar que o seu “felizes para sempre” é possível e, além disso, real.

 

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