Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
24/02/2023 às 19h28min - Atualizada em 24/02/2023 às 19h11min

Com pandemia silenciada nas ruas de Salvador, foliões respiram o mesmo ar e se abraçam sem medo

Mais de 3 milhões de pessoas criaram um mar de gente nos circuitos do Carnaval de Salvador, expurgaram o vírus e quaisquer resquícios de pandemia

Camila Queiroz - Editado por Nicole Bueno
Setur-Ba
Foi um verdadeiro “chame, chame, chame, chame gente”, como diz a música do saudoso Moraes Moreira. De tantos que são, dá para pular em cima dos números dos Carnaval de Salvador, divulgados pela Secretaria de Turismo do Estado da Bahia. Mais de R$1 milhão de turistas foram à capital baiana para curtir a maior festa popular do mundo. Apenas em um dia de folia, a prefeitura de Salvador registrou 368 mil pessoas que utilizaram o transporte público ou táxis para ir para os circuitos. Ao final da folia, a administração municipal registrou 3,2 milhões de foliões que utilizaram o metrô e os serviços de ônibus.

Quem teve pique aproveitou 10 dias de festa, mais de 2,6 mil horas de música e cerca de 1 mil atrações. Só para percorrer os dois principais circuitos, Dodô e Osmar, foi preciso ter resistência para quase 10 km de uma maratona intensa, regada a uma energia que contagia, música, trio elétrico, muito calor humano, um tanto de empurra-empurra, algumas rodinhas, abraços, beijos e tantas outras coisas que acontecem no carnaval.
Com tanta gente e aglomeração, nem parece que estamos falando de um carnaval após um hiato de dois anos sem os festejos devido a pandemia do coronavírus e suas variantes.
                  
Quem foi esse tal de Covid-19? Delta? Ômicron? Eles colocaram o mundo distanciado por quase três anos, vitimaram cerca de 700 mil pessoas só no Brasil, segundo dados da OMS, destruíram formas de viver e de obter recursos, trouxeram pânico, medo, insegurança, desespero, aumentaram as desigualdades sociais, mas, ao que parece, não tiraram a vontade do povo de festejar.

Com o número de casos em queda e o de novos casos estáveis, a turma que gosta da festa decidiu que estava tudo em ordem, voltando ao normal e podia, sim, curtir o carnaval com segurança. A folia carnavalesca era esperada loucamente por muitos brasileiros, baianos e turistas internacionais. Os números não mentem.

 
“A sensação que eu tive foi de que não existiu pandemia. O coronavírus tirou dois carnavais e a população voltou com muita intensidade, com sede de festa. A preocupação com a pandemia, com o contato com o outro foi zero. Nem as pessoas que estavam doentes usavam máscaras. Só as máscaras de fantasia. A pandemia passou e não deixou lição nenhuma”, contou o administrador de empresas, Marcos Magno, que também percorreu as ruas de Salvador vivenciando a festa.
  

E como temos que buscar alguma coisa que expresse pandemia no carnaval, pois 700 mil mortos têm que representar algo e todo aquele discurso de novo normal e de que a pandemia veio para ensinar algo a humanidade precisa prevalecer, encontrei os dados da prefeitura de Salvador, que traz a alarmante informação de que durante os seis principais dias do Carnaval, apenas 82 pessoas buscaram voluntariamente a tenda de testagem para Covid-19, localizada em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), no bairro dos Barris, local próximo aos circuitos. Sendo que, desse total, quatro exames apresentaram resultado positivo para a doença, representando menos de 5% do total de testes. Se comparamos o número de pessoas que fizeram os testes nos seis dias de festa ao público que foi à avenida em apenas um dia, se traduz em menos de 0,5% de pessoas.

A fotografia que fica é daquele mar de gente, o povo envolvido, conectado, próximo, sem medo de respirar o mesmo ar, sem medo de se tocar e dando um novo marco para a história da humanidade. A pandemia pode até estar em declínio, isso é o que os números dizem, mas para quem esteve em Salvador, houve uma constatação de que a pandemia acabou. O carnaval foi tão desejado, tão esperado, que o corpo e a alma dos foliões deram um basta ao vírus bem no meio da avenida.

Nos circuitos, só alegria, diversão e um pouco de violência devido a aglomeração. Nada mais, pelo menos é o que diz o assessor parlamentar Arthur Lacerda.
“Ninguém falava ou pensava em pandemia. A única coisa que se passava pela cabeça era a música de Léo Santana”, disse.
Os desfiles dos blocos seguiam com animação de sempre e mais um pouquinho. As fantasias tinham cunho político ou só diversão, mas nada relacionado a pandemia e suas consequências. Um bloco famoso, os Filhos de Gandhi, conhecido por deixar a imagem de um tapete branco ao passar e destacar aspectos como paz, união, pediu um minuto de silêncio em nome dos associados que tiveram a vida interrompida pelo coronavírus. No segundo minuto, era só cantoria, dança e alegria.



Realmente, 2023 começou de fato em Salvador. O Carnaval veio e com ele um novo decreto. A pandemia foi esmagada, pisoteada, talvez enterrada entre a lama, a cerveja, um pouco de xixi pelo chão. A vida retoma com força total, muita alegria, diversão e desleixo também. O carnaval trouxe uma nova lição: não importa o que o mundo traga de desastres e tragédias, a população sempre encontrará motivos para celebrar, mesmo que depois, os casos aumentem. 

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »