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13/03/2023 às 20h03min - Atualizada em 13/03/2023 às 20h01min

Governo Lula pretende trazer de volta o respeito internacional ao Brasil

Mudança de governo ressuscita acordos de comércio e relações internacionais

Carlos Henrique Pianta - Editado por Ynara Mattos
Ricardo Stuckert

Lula faz discurso pela paz em evento internacional - Ricardo Stuckert

 

Um novo Brasil diante do mundo. É o que pretende, pelo menos, o presidente Lula no início do seu terceiro mandato como Chefe de Estado. O governo se empenha em retomar parcerias diplomáticas e comerciais com o Mercosul, abandonadas na gestão anterior, e refazer a imagem internacional deixada pelo antigo governo, que foram marcadas por conflitos, na maioria, muito rasos, mas com potencial danoso elevado. 

 

O Brasil enfrentou crises geradas pelas ofensas do ex-presidente Bolsonaro à aparência da esposa do mandatário francês, Emmanuel Macron, em agosto de 2019, xingamentos que foram repetidos pelo ex-ministro da Economia, Paulo Guedes, em evento na cidade de Fortaleza, um mês depois. Eduardo Bolsonaro, quando ainda pleiteava, junto ao pai, o cargo de embaixador, fez ofensas à China, maior parceiro comercial do Brasil, pelo menos duas vezes em 2020, em março quando disse que o país asiático era o culpado pela pandemia do Novo Coronavírus e em novembro quando compartilhou um tweet racista contra o povo chinês. 

 

China arremata mais espaço na economia sul americana

 

Enquanto os membros do governo se empenharam em atacar a China, as exportações para o país só aumentaram. Em 2022 o gigante asiático arrematou, de acordo com matéria da revista Forbes, mais de 30% das exportações tupiniquins, um crescimento cinco vezes maior em relação ao resto do mundo.

 

“Depender de uma grande potência não é o melhor caminho”, é o que afirma o Doutor em Ciência Política e professor do curso de Relações Internacionais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Marcio Voigt. Para o especialista, a China tem aumentado muito a sua influência no mundo, em uma clara disputa com os Estados Unidos. A melhor saída para o Brasil seria diversificar seus parceiros econômicos de forma pragmática e estratégica. 

 

O aumento da influência chinesa no Brasil cresce à medida que o comércio com os outros países da América do Sul diminui. Desde que Lula deixou a Presidência da República, em 2011, as exportações para os países vizinhos caíram 24,7%, conforme aponta pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Ainda de acordo com a entidade, os principais produtos que o Brasil deixou de vender aos países, sul americanos são carros, autopeças, maquinário agrícola e outros produtos de alto valor agregado. Quem tem avançado por essa fatia importante do mercado é a China, que hoje é o maior parceiro comercial da região. 

 

Preocupado com a perda de espaço do Brasil ao longo dos últimos anos, o presidente Lula se reuniu com os líderes do Mercosul para reorganizar o comércio no Continente. O principal desafio é o Uruguai, na tentativa de frear o avanço chinês, o presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram em comitiva ao país vizinho negociar com o mandatário uruguaio, Lacalle Pou. 

 

 “o ex-presidente e seu ministro da Economia dificultaram muito as relações intra-bloco”
  

A guerra entre Rússia e Ucrânia e a posição do Brasil no cenário mundial

 

Iniciada em fevereiro de 2022, com a invasão das tropas russas ao território ucraniano, a guerra no leste europeu é uma das frentes pela qual o governo brasileiro também pretende atuar para elevar a influência do país perante o mundo. Resistente às pressões do bloco europeu e dos Estados Unidos para municiar a Ucrânia, o presidente Lula tem buscado uma solução pacífica para o conflito.

 

Desde antes de assumir, Lula tem procurado apresentar saídas para o conflito. Ambos os presidentes, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky, dizem estar abertos à proposta brasileira, mas nenhuma negociação efetiva se iniciou até o momento. 

 

Para Voigt, “pode-se interpretar que essa mediação como uma maneira de dizer que o Brasil pode sim, propor soluções a conflitos complexos no mundo”, embora considere pouco provável que a mediação brasileira ponha fim à guerra. De acordo com o especialista, “No momento, Rússia, Ucrânia, OTAN e União Europeia parecem distantes de um cessar fogo. A guerra deve seguir por mais tempo a um custo de vidas muito alto. Espero sinceramente que esteja errado em relação a isso”.

 

Diante da posição brasileira de neutralidade, surge à sombra uma ameaça de sanções ao Brasil, mesmo que nada tenha sido feito efetivamente, a possibilidade pode ser uma forma da União Europeia pressionar o governo para um alinhamento com Zelensky. Sobre isso, o professor afirma que não acredita em retaliações graves, segundo ele “toda manifestação desse tipo tem riscos. A Rússia não recebeu a manifestação de Lula como oposição, tampouco os países da OTAN manifestaram, até o momento, a intenção de colocar sanções severas ou isolar o país”.

 

Amazônia é ativo importante na economia brasileira

 

A maior floresta tropical do mundo foi vítima de processos de invasão, incêndio e crescente desmatamento nos últimos quatro anos. Segundo dados do Observatório do Clima, no governo Bolsonaro o desmatamento na região foi 60% maior que nos quatro anos anteriores. O desmatamento na Amazônia foi, junto com as ofensas produzidas a outros chefes de estado, o principal motivo para as críticas ao Brasil no cenário internacional entre 2019 e 2023. De acordo com Voigt, “Na gestão de Bolsonaro, alguns países do bloco europeu afirmaram que não avançariam na negociação se a política ambiental do Brasil não fosse mais responsável. A França foi o país que deixou essa crítica mais clara”.

 

Com o início do governo Lula, a mudança de postura com relação à preservação da natureza e a nomeação de Marina Silva para o ministério do Meio Ambiente, as pressões internacionais se transformaram em discursos de apoio e aportes financeiros. Até o momento, Estados Unidos, França e Espanha já manifestaram o interesse em contribuir para o Fundo Amazônia. Além destes estados, entidades não governamentais e empresas também se aproximam do novo governo. A fundação do ator Leonardo Dicaprio e o dono da Amazon, Jeff Bezos, já demonstraram interesse em doar para o fundo. 

 

Mas a importância da floresta amazônica para o Brasil não está só nos benefícios da sua preservação e das populações que habitam a região, a floresta é também um vetor de comércio internacional. Não é de hoje que as preocupações com o futuro do planeta estão presentes nas mesas de negociação do comércio mundial, mas, cada ano que passa e pouco se faz a respeito, a emergência climática global passa a ser um perigo ainda mais constante.“Será um desafio conciliar preservação e interesses econômicos na Amazônia, mas essa parece ser uma das estratégias da atual diplomacia. Mostrar que o Brasil pode ser um país confiável e propositivo é a intenção”, finalizou o professor.


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