Peter Pan e Wendy | Resenha

Dia 28 de abril de 2023 foi lançado o longa adaptado da famosa história sobre as crianças que nunca crescem. Peter Pan e Wendy é uma adaptação da peça de teatro de 1904 de J. M. Barrie, a narrativa que se passa em Londres relata o episódio fictício onde Wendy e seus irmãos são levados pelo menino mitológico que nunca cresce até a “Terra do Nunca”, onde vivem aventuras.


A aventura já foi enumeras vezes para as telas, com diversas abordagens. A mais recente adaptação é a terceira da gigante do Mickey, sendo a primeira animação em 1953 e a sequência em 2001. As animações clássicas são responsáveis por exemplo, por eternizar a imagem da fadinha TinkerBell (Sininho), que recebeu sua própria franquia de filmes e integra a imagem da empresa tanto quanto o Mickey.

Diante desses fatos podemos entender o quanto esse live-action é importante para imagem da empresa, uma vez que reescreve símbolos clássicos da história da Disney, mas será que foi isso que aconteceu?

Para responder essa pergunta vamos destacar o que houve de positivo e negativo nessa nova adaptação.

Aspectos Positivos:

- Direção de arte

Fonte Newsmonkey / Reprodução; Google

O novo Peter Pan e Wendy certamente é de encher os olhos, o figurino, o cenário e até os movimentos de câmera traduzem muito bem toda fantasia, época e características da história, além de trazer alguns detalhes da animação, seja em cenas específicas, seja nos figurinos.

- Diversidade

Se tem algo que a Disney tem se preocupado em suas produções é em trazer varias perspectivas sobre personagens antigos, incluindo perspectivas étnicas, isso inclui os meninos e agora também, meninas perdidas, a sininho que agora é negra e a presença de um personagem com Síndrome de Down. Essa representatividade é importante para um olhar mais naturalizado acerca das diferenças para com a nova geração, embora haja ressalvas sobre como isso tem sido conduzido, ressalvas que comentarei mais a frente.

Aspectos Negativos:

- Roteiro 

Fonte: The Wom / Reprodução: Google

Fonte: TV Brasil - EBC

Fonte: MUBI / Reprodução: gOOGLE

Peter Pan já recebeu muitas adaptações onde a história original é modificada, recriada e inspirada em outros livros, existem muitas adaptações sobre como a rivalidade entre ele e o Capitão Gancho começaram, por exemplo. No entanto nenhuma ganhou o mesmo destaque que animação de 1951 ou o longa de 2003 da Columbia filmes, fidelidade é algo que os fãs apreciam. Mas existe liberdade artística na hora de conduzir as tramas, tanto que nenhuma foi cem por cento fiel, o problema está em como essa liberdade compromete a “alma” do filme.

Pois bem, a história que antes era sobre crianças em crise acerca do seu crescimento, relações imaturas, irreverentes e até um tanto selvagens, se tornou dessa vez madura de mais. A impressão que fica no telespectador é que o filme o tempo inteiro está tentando provar algo, provar que crescer vale a pena, provar que é diverso, provar que Peter deveria querer crescer, a história anulou assim toda profundidade e complexidade que tornavam tanto Wendy como Peter divertidos, curiosos e instigantes. Além do excesso de seriedade o ritmo da trama é mal montado, mal piscamos e a personalidade dos personagens mudam, quando ousam a mostrar alguma personalidade.

- Cenas de Voo 

Fonte: AQUI TEM DIVERSÃO / Reprodução: Google

A história famosa pela mágica habilidade de voar, foi empobrecida pelas inexploradas cenas de vôo, tanto das demais crianças, como do próprio Peter Pan, e quando ocorriam (especialmente em cenas de luta), eram pobres e engessadas, a baixa exploração de movimentos prejudicou o realismo das cenas e das lutas, além de muitas vezes esfriarem a emoção, quando ela parecia surgir em tela.

- Descaracterização
A grande chamada desse no longa certamente foi a diversidade do estrelato, aspecto que por si só é louvável, mas não poderia ter sido mais mal explorado.

Peter Pan

Fonte: CinePOP Cinema / Reprodução: Google

 
O protagonista principal perdeu toda sua essência misteriosa e mitológica, protagonizou lutas rasas sem emoção dialogo ou ação, não era possível ver brilho ou encanto na jovem criança, desprendido de emoções parecia sentir algo apenas em relação a sua história com Capitão Gancho, não demonstrando laços afetivos com Wendy, nem sequer com sua fada companheira, o roteiro parecia usar Peter para encaixar um ato no outro esvaziando a trama de toda sua magia.

TinkerBell

Fonte: Disney Word / Reprodução: Google

A fadinha mais famosa do cinema, poderia ter sido a rainha dessa nova adaptação, mas enquanto o anuncio do longa chamava atenção para etnia da personagem, o roteiro a tornou praticamente invisível, tão robótica quanto Peter, em emoções, expressões ou relações profundas de erro e aprendizado que ela sempre viveu em suas primeiras adaptações, todo potencial da atriz Melissa McCarthy, foi engolido por usa narrativa vazia que se preocupava mais em ser “menos travessa” para o publico infantil do que em ser elaborada na forma de ensinar sobre essas “travessuras”.

Wendy

Fonte: TechTudo / Reprodução: Google

 
A jovem foi a protagonista mais relevante durante a trama, certamente com mais tempo de tela, o filme inclusive poderia ter sido apenas sobre ela, apesar de a Disney não ter apostado em tal estratégia narrativa (que não seria problema algum), tentou colocar o roteiro nas costas da personagem que na verdade é coprotagonista dos filmes, uma vez que ela e Peter são essenciais. Tal caminho narrativo, no entanto atrapalhou mais do que ajudou, Wendy que também vivia o dilema de crescer e não crescer, insistia em ter pressa de mais pela vida adulta, o roteiro parece ter usado ela para “concertar” e não “integrar”, a Terra do Nunca, fazendo a menina apenas transitar entre os atos em busca de problemas a serem resolvidos, com quase nenhum encanto por onde ela estava, e com quase nenhuma relação amigável com Peter Pan, apenas uma sequencia de discussões do início ao fim.

Princesa Tigrinha

Fonte: Twitter / Reprodução: Google

 
Essa sem dúvidas foi a personagem mais abstrata dessa trama, a impressão que transmitiu foi da tentativa de ser um easter egg de Pocahontas, outra personagem indígena do estúdio, seja pela caracterização física, seja por algumas falas, além do mais, ela não é criança, sendo adulta tem uma relação menos próxima emocionalmente das crianças e muito menos vulnerável também, mas nada fica claro sobre ela, apenas que ela ajuda o protagonista quando ele precisa.

Capitão Gancho

De todos os personagens, o vilão foi o que mais demonstrou a complexidade e a amargura característica dele, no entanto a reconciliação com Peter descaracterizam o aspecto tão atrativo da rivalidade entre eles, além de gerar uma empatia desnecessária e mal conduzida para com personagem.

As crianças perdidas

Fonte: Daily Mail / Reprodução: Google

 
Esses personagens não tem muita complexidade em si,  foram razoavelmente bem traduzidos em sua diversidade, mas, como próprio dessa proposta mais “educativa” da trama, faltou mais liberdade, travessura e “selvageria”, nas crianças que originalmente nem se lembram direito do seu lar e vivem como crianças que não receberam educação nem orientações na vida.

Sabemos que junto com os tempos a nossa concepção sobre muitas realidades mudam e é natural que as produções culturais acompanhem essa mudança, ela, porém peca quando se esquece de acompanhar os aspectos existenciais junto com os sociais, sem a subjetividade, por mais que um personagem seja socialmente mais justo ele se torna pobre e raso na tela, desfazendo toda a identificação do público com aquela representação.

Por fim, Peter Pan e Wendy de 2023, parece mais uma história sobre crianças que tentam ser adultas, do que sobre crianças que não querem ser adultas, faltou coerência, inocência, fantasia, encanto, emoção e travessura. A beleza da diversidade foi ofuscada pela descaracterização do protagonismo e da pouca valorização dessa diversidade, levando ao telespectador a se sentir vendo uma história que “pisava em ovos” e que tinha medo de deixar crianças serem apenas crianças.