Praça do Rosário em Itaberaba, Bahia, é um espaço de lazer para os moradores da cidade (Foto: Sofia Gunes) As praças fazem parte da cultura brasileira e são frequentadas por pessoas com diferentes faixas etárias. Seja para brincar, praticar atividade física ou passear, elas fazem parte da vida dos brasileiros, principalmente nas cidades do interior.
Desde a antiguidade as praças são locais de socialização. Na Grécia antiga, era nas ágoras onde aconteciam os debates e a promoção da democracia. Segundo o artigo “A praça como lugar da diversidade cultural”, publicado por um graduando da UNEMAT, no período medieval a praça era um local de liberdade, pois não servia a nenhuma função religiosa ou militar. Por isso, seu espaço era utilizado de diferentes formas, como comemorações, peças teatrais, feiras e entre outros. O artigo ressalta também que a praça “é, com toda certeza, o espaço comum onde se encontra e se proporciona a diversidade cultural’’.
Na contemporaneidade, percebemos como as praças ainda são espaços públicos destinados à interação social e responsáveis pela promoção da cultura local, proporcionando momentos de lazer e de entretenimento, seja com apresentações de artistas independentes ou até mesmo servindo de espaço para outros tipos de manifestações culturais.
A historiadora Edilaine dos Santos, mestra em Educação e Contemporaneidade e conselheira suplente no Conselho Municipal de Políticas Culturais no seguimento Patrimônio Material, relembra a frase do poeta Castro Alves ao falar sobre as manifestações culturais nas praças: “Vamos pensar na célebre frase do poeta Castro Alves a respeito desse tema: “A praça é do povo, como o céu é do condor”. O espaço da praça é um embrião de eventos e movimentações. É onde ocorrem as reuniões, as apresentações, os encontros. É o espaço que é público, normalmente o coração que pulsa vibrante a cidade, então é onde os artistas e os entusiastas das artes estão“.
Praça da Cultura
Apesar de muito importantes, nem sempre as praças são valorizadas, seja pela própria população e até mesmo pelas gestões municipais. Foi pensando em evidenciar as praças que surgiu o projeto “Praça da Cultura”, na cidade de Itaberaba, localizada no interior da Bahia. Realizado pelo Coletivo Candeeiro das Artes em parceria com a prefeitura, o evento é um exemplo de valorização das praças como espaço cultural e teve a sua primeira edição em novembro de 2022. No instagram, a Praça da Cultura se compromete com a “manutenção e a prática da produção cultural na cidade de Itaberaba de forma democrática e gratuita”.
A Praça da Cultura acontece quase mensalmente em diferentes praças da cidade de Itaberaba, principalmente na Praça do Rosário e na Praça JJ Seabra, as mais conhecidas da cidade. O evento conta com apresentações de música, dança, recitais de poesia e também uma feirinha com muito artesanato local. As edições do evento pensam justamente em revitalizar essas praças e apresentar o cenário artístico para a população socializar.
O poeta, cordelista e autor do livro “Poesia com Cuscuz", Davi dos Santos, já se apresentou em duas edições do evento e conta que “tem sido experiências significativas para mim enquanto escritor e apreciador da cultura e literatura popular”. Mesmo ressaltando a contribuição que a Praça da Cultura tem para os artistas, Davi ainda percebe aspectos que precisam ser melhorados, tanto no evento em questão, como também no cenário nacional. "Embora tais experiências sejam colaborativas nesse sentido, há um não reconhecimento, valorização financeira, uma vez que pagam artistas da música e não pagam artistas da literatura, como é o meu caso. Levo meus livros, coloco em uma mesa de bar, sem forro e aguardo as pessoas aparecerem para adquirirem a obra, esse é o único pagamento que tenho no evento.”
Davi, que está organizando o lançamento do seu próximo livro “Poesia com café”, compreende a visibilidade que o evento traz: “Através das postagens em redes sociais e apresentações em palcos ou em pequenas barracas com amostras de produtos, como os artesanais, por exemplo, é que os artistas vão sendo reconhecidos”, mas ressalta a importância de um reconhecimento financeiro desses artistas independentes, que são tão importantes para a cultura da cidade.
Edilaine dos Santos também reconhece a contribuição do evento para a cidade de Itaberaba: “A partir da ocorrência desse evento percebemos a movimentação e valorização não só desses espaços, mas também dos próprios artistas da terra: artesãos, músicos, escritores, atores, enfim... foi muito benéfico para a cultura da cidade e para estreitar e conhecer as culturas do município”.
Não apenas na cidade de Itaberaba, mas em várias outras localidades onde eventos como esse acontecem, podemos perceber um despertar da população para aquele espaço que era tão banal, a praça. Por isso, é necessário cuidar e investir em praças públicas, para que cada vez mais elas se tornem palcos de iniciativas como essa e perpetuem a cultura local.
