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22/09/2023 às 09h31min - Atualizada em 15/09/2023 às 20h00min

A relação Homem versus Máquina

A abordagem da relação homem versus máquina presente em obras de ficção científica e seu impacto na realidade

Elaine S. Lima - Edição por Mayane Humeniuk
Vivemos em uma realidade onde o mundo encontra-se na palma das nossas mãos e a tecnologia está presente em tudo que fazemos. Podemos dizer que a era dos carros voadores e robôs de IA descritos nos livros de ficção científica está cada vez mais próxima da nossa realidade. Mas afinal, o que isso impacta na sociedade?  

A relação homem versus máquina baseada nos interesses individuais

Uma das principais discussões acerca do futuro encontrado em obras de ficção científica é sobre a relação homem versus máquina. Na maioria das vezes, essa relação é retratada de maneira negativa e sempre vem acompanhada de algum conflito entre as máquinas e a humanidade. É estranho e muito comum ao mesmo tempo, não deveríamos esperar pelo famoso clichê ficcional onde uma hora os robôs vão se rebelar contra seus criadores, mas é esperado que uma hora aconteça. Esse “clichê” que esperamos acontecer nas obras de ficção científica nos faz refletir sobre a maneira como os homens vêm lidando com a tecnologia. Se esperamos sempre pela revolta das máquinas, significa que não estamos lidando muito bem com elas.

A tecnologia vem moldando a humanidade e a maneira com que nos relacionamos. Pensar nela de uma maneira positiva é inevitável, pois ela está tão presente no nosso cotidiano que a vemos como uma grande amiga. O que não podemos negar, a tecnologia é uma aliada e não tem a intenção de nos machucar. Mas pensar no modo que lidamos com ela desperta o questionamento: a tecnologia é uma aliada da humanidade, mas quem a utiliza também é? 
A relação homem versus máquina vem sendo moldada pelos interesses individuais dos humanos. Nós a usamos com base naquilo que queremos naquele momento, seja pesquisar a previsão do tempo ou fazer compras online. Hoje em dia, possuímos um amplo campo de tecnologias desenvolvidas pelos humanos, dentre elas, podemos citar a Inteligência Artificial

A Inteligência Artificial (IA) é uma área da ciência da computação que mira no desenvolvimento de sistemas capazes de realizar tarefas que até então eram destinadas apenas a humanos. Existem muitos tipos de Inteligências Artificiais presentes no nosso cotidiano e elas vêm sendo utilizadas pelas mais diversas empresas, como canais de pesquisa, sites de compras, serviços de streaming, etc. É difícil encontrar alguém que nunca tenha feito uso de alguma IA, já que o reconhecimento facial do celular, a assistente de voz e até o corretor ortográfico são exemplos de IAs. Pode parecer inofensivo, mas a IA é extremamente perigosa se manuseada de forma irresponsável. O uso dela para a divulgação de fake news é um bom exemplo de como é problemático o contexto no qual ela está inserida, já que ela não possui um filtro capaz de detectar o que é verdade ou não, como, possivelmente, a mente humana faria. Por mais que a Inteligência Artifical tenha sido criada para ajudar positivamente, ainda existem pessoas capazes de usá-la para fins ilegais e prejudiciais. 

A IA é uma das tecnologias mais usadas hoje em dia, mas é claro que ela é um dos vários detalhes no meio dessa relação. O interesse que nós depositamos na tecnologia é o maior dos problemas. Além do mais, existem outros meios em que as pessoas podem fazer o uso da tecnologia para o mal, como nas redes sociais, por exemplo. Atualmente, as redes sociais têm se tornado um diário de vida onde as pessoas postam sobre seus dias e se conectam com o mundo. É normal nos depararmos com publicações de algum conhecido que está viajando e decidiu compartilhar o momento nas suas redes, não deveria ser perigoso, mas da mesma forma que as pessoas usam as redes sociais para se conectarem com o mundo, existem outras pessoas que só a utilizam para escolher a próxima vítima.

Desde sua invenção até o constante aprimoramento feito pelos humanos, as redes sociais são uma das tecnologias mais utilizadas no mundo. De uma perspectiva sociológica, nossas relações sociais mudaram após a tecnologia, principalmente as redes sociais. A facilidade em se comunicar que fez com que alguém que mora do outro lado do mundo se tornasse nosso vizinho, também encurtou as dinâmicas sociais entre as pessoas. Por mais que as relações virtuais estejam cada vez mais presentes, o laço afetivo presencial está cada vez mais escasso, por isso a sensação de isolamento e não pertencimento acontece mesmo quando se está rodeado de pessoas nas redes sociais. A bolha isoladora na qual fomos introduzidos nos aproxima e nos afasta na mesma proporção.

Robôs e humanos: Podemos ser substituídos?  

Ao criar uma máquina, os humanos depositam nela um objetivo, seja auxiliar os humanos nas tarefas domésticas ou nas indústrias. Aliás, um dos maiores medos da humanidade é de um dia sermos substituídos pelos famosos robôs. 

Uma enorme discussão acerca desse tema vem sendo travada há décadas. É notável que a tecnologia já evoluiu o suficiente para criar robôs capazes de executar tarefas humanas. Inclusive, eles vêm transitando por aí e talvez você nem tenha percebido. Veja só, o aspirador de pó inteligente que você usa é um robô, a câmera de segurança que você instalou para supervisionar a sua casa é um robô, talvez um pouco diferente das imagens que a gente costuma idealizar com base nas obras de ficção científica, mas é nossa nova realidade e a robótica já é parte dela.

Em muitas obras de ficção científica, as máquinas são vistas como inimigas, como em Duna, por exemplo. O romance de ficção científica escrito pelo autor Frank Herbert descreve um futuro distópico e tecnófobo. O futuro em Duna pode parecer até um pouco arcaico, já que não há presença de computadores ou máquinas de IA. Um conflito entre as máquinas e os humanos foi o grande responsável pela repulsa dos humanos pela tecnologia e pela necessidade de desenvolver os famigerados “computadores humanos” - seres com a capacidade mental semelhantes ao de uma máquina -, na obra de Frank Herbert. Por mais negativa que seja a relação dos homens com as máquinas refletida no livro Duna, ela nos diz muito sobre esse medo constante de sermos substituídos um dia. 

 
"Não criarás uma máquina à semelhança da mente de um homem", clássica citação do livro Duna.

Em uma conversa com o estudante de Tecnologia da Informação (TI), Bruno Costa, ele opinou sobre esse medo que a população vem nutrindo pela Tecnologia.
 
“Existe o mundo antes e depois da tecnologia, o crescimento exponencial dela gerou um novo estilo de vida a nível global. É comum encontrarmos máquinas na linha de frente de setores industriais, setores de informação e até no lazer cotidiano. Partindo do princípio onde as máquinas vêm crescendo de maneira avassaladora e influenciando a indústria, acredito que a palavra correta a se usar seria auxiliar. A tecnologia reformulou o sistema industrial, por mais que as máquinas estejam na linha de frente, elas sempre necessitarão da mão humana, seja para a criação ou manutenção destas”, afirmou Bruno.

É muito difícil que, um dia, os humanos consigam criar uma máquina à nossa semelhança. A mente humana ainda é objeto de estudos para os cientistas, pensar que um dia alguma máquina possa substituí-la é um medo válido se pararmos para olhar nosso cenário atual, mas não deixa de ser só teoria, já que a maioria dos profissionais da área da tecnologia afirmam que as máquinas sempre terão como objetivo auxiliar os humanos.
 
“A indústria se tornou mais prática e funcional depois dos avanços tecnológicos, além de que o seu impacto no setor da informação é extremamente considerável, temos acesso à informações de uma maneira muito mais fácil e rápida que antes”, acrescentou Bruno. 

Eu, Robô: clássico da ficção científica nos faz refletir sobre como a relação homem versus máquina também pode ser harmoniosa 

O clássico da ficção científica escrito pelo autor Isaac Asimov nos remete a uma realidade onde a convivência com os robôs pode ser harmoniosa. Os nove contos presentes no livro Eu, Robô abordam a relação homem versus máquina de uma perspectiva positiva, na qual as máquinas sempre estão posicionadas como grandes aliadas dos humanos. O livro acompanha três leis da robótica necessárias para a boa convivência dos humanos com os robôs, são elas: 

 
LEI I: Um robô não pode ferir um ser humano ou, por inação, permitir que um ser humano venha a ser ferido.

LEI II: Um robô deve obedecer às ordens dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens entrem em conflito com a Primeira Lei.

LEI III: Um robô deve proteger a sua própria existência, desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou com a Segunda Lei.

Robbie, primeiro conto presente no livro, narra a história de Glória, uma garotinha que tem como babá um robô chamado Robbie. No decorrer da história podemos acompanhar a relação genuína entre Glória e Robbie que, apesar de ser um robô, desempenha com excelência o objetivo de proteger a garota. 
 
"Se o conhecimento oferecer perigo, a solução seria a ignorância. Sempre me pareceu que a solução tinha de ser a sabedoria. Não se deveria deixar de olhar para o perigo; ao contrário, deveria-se aprender a lidar cautelosamente com ele. Afinal, para começar, esse tem sido o desafio desde que certo grupo de primatas tornou-se humano. Qualquer avanço tecnológico pode ser perigoso. O fogo era perigoso no princípio, assim como (e até mais) a fala - ambos ainda são perigosos nos dias de hoje -, mas os seres humanos não seriam humanos sem eles", menção de Isaac Asimov sobre nossa relação com a tecnologia.

Nós não somos os mesmos depois da tecnologia. Tudo mudou e continua mudando. Assim como Asimov disse, por mais perigosa que seja, não devemos ignorar a tecnologia ou travar uma guerra com ela porque os aspectos negativos parecem sobrepor os positivos. Nós não seríamos quem somos sem ela e é uma verdade universal que a tecnologia é a nossa maior aliada no momento. Buscar o equilíbrio e a boa convivência com as máquinas é fundamental, a conscientização sobre o modo que lidamos com ela é necessária e, assim como nas obras de ficção científica, é muito importante equilibrar os nossos interesses em relação à tecnologia e ter uma boa relação com ela.

Referências 

HERBERT, Frank. Duna, Editora Aleph; 2ª edição (28 de abril de 2017) 
ASIMOV, Isaac. Eu, Robô, Editora Aleph; 1ª edição (24 de novembro de 2014)

 

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