Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
21/10/2023 às 22h29min - Atualizada em 21/10/2023 às 21h49min

The Dark Side of the Moon: a face obscura do ser humano

Uma análise de um dos álbuns mais famosos da história da música

Elaine S. Lima - Editado por Fernando Azevêdo
The Dark Side of the Moon por Pink Floyd
Imagem: Reprodução/Discogs

Pink Floyd é, sem dúvidas, uma das maiores bandas de rock de todos os tempos. Com composições únicas e uma estética audiovisual atemporal, a banda britânica surgiu na década de 60, junto com outras bandas, como The Who, The Doors e Rolling Stones. 

 

Um pouco diferente e até mesmo engraçado, o nome da banda se deu por influência de dois músicos de blues, Pink Anderson e Floyd Council. O estilo musical da banda possui referências ao blues e ao music hall — estilo musical de origem britânica —, com um misto de psicodelia. No início, a banda contava com quatro integrantes, Syd Barrett (guitarrista), Rogers Waters (baixista e vocalista),  Richard Wright (tecladista e vocalista) e Nick Mason (baterista).

 

Apesar de ter surgido em uma época com grandes influências musicais, a banda se tornou um marco na história da música e do rock progressivo, destacando-se com suas músicas que fugiam do padrão da época. Seu primeiro álbum de estúdio foi lançado em 1967, "The Piper at the Gates of Dawn", possuindo 11 faixas criativas que falam sobre os mais diversos assuntos. Desde bruxas até gnomos, o álbum de estréia e que nos apresentou o estilo pouco comum do Pink Floyd foi sucesso nas paradas e chegou a se tornar o sexto álbum mais vendido do Reino Unido.  Ele foi o único lançado sob a liderança de Syd Barrett, já que, no ano seguinte, ele deixaria a banda por abuso de drogas, e David Gilmour assumiria seu posto de guitarrista na banda. 

 

Após a saída de Syd, outros álbuns foram lançados até chegarmos no tão aclamado "The Dark Side of the Moon". Sucesso no mundo todo, o álbum vendeu mais discos que Beatles e Led Zeppelin, outros grandes nomes da música. Representando uma nova fase da banda, "The Dark Side of the Moon" é considerado uma das maiores obras de rock progressivo existentes, mas, com certeza, os números são os menores dos fatores importantes acerca desse álbum histórico. Ele, que completou 50 anos em março de 2023, fala sobre a crueza do ser humano em meio às questões que nos acometem no decorrer da vida. 

 

The Dark Side of the Moon: a face obscura do ser humano 

 

"The Dark Side of the Moon", em tradução livre, O Lado Obscuro da Lua, foi o oitavo álbum de estúdio da banda de rock progressivo Pink Floyd. Lançado em 1973, ele possui dez faixas que nos fazem refletir sobre a obscuridade que o ser humano carrega dentro de si. Quando falamos de "The Dark Side of the Moon", não falamos apenas de música, mas sim daquilo que nem a arte no seu ápice de subjetividade consegue descrever: o ser humano

 

A faixa inicial do disco, "Speak To Me", atua em conjunto com "Breathe" (In the Air). Somos recepcionados com um instrumental muito bem construído e formidável que parece nos convidar para uma viagem além daquilo que podemos enxergar. Nos primeiros segundos, conseguimos notar o soar de batimentos cardíacos acompanhados de outros ruídos, como o tique-taque de um relógio, ruídos de um contador de notas e uma máquina de escrever, e uma risada corriqueira psicodélica. Pode parecer só mais um amontoado de sons que não fazem o menor sentido, mas no decorrer do álbum cada um desses sons passa a ter um significado. O desabafo de um homem que, enlouquecido, relata estar furioso e no limite há um bom tempo, preenche nossos ouvidos na faixa "Speak To Me". 
 

"Eu estive louco durante muitos anos

Malditos anos, estive no limite por uma eternidade

Trabalhei com bandas por tanto tempo

(Eu sempre estive louco, eu sei que eu estive louco

Como a maioria de nós

Muito difícil de explicar o porquê de se estar louco

Até mesmo se você não estiver louco)"

 

Já em "Breathe (In the Air)", existe uma reflexão sobre como a independência e a liberdade para seguir seu próprio caminho são necessárias para qualquer pessoa. 
 

"Respire, respire o ar

Não tenha medo de se importar

Vá, mas não me deixe

Olhe em volta

E escolha seu próprio chão

Por muito tempo você viverá e alto voará

E sorrisos você dará e lágrimas você chorará

E tudo que você toca e tudo que você vê

É tudo o que a sua vida sempre será"

 

A próxima faixa do álbum, "On the Run", é um instrumental de um conjunto de movimentos. O som de passos acompanhados do tique-taque dos relógios nos remete a uma pessoa que está de partida ou parece estar correndo ou fugindo de algo.

 

Em "Time" — uma das principais faixas do álbum —, nos deparamos com uma proposta de reflexão sobre a maneira que o tempo passa e vivemos nossa vida. Nós estamos tão acostumados a deixar o futuro definir nosso presente, que quando menos esperamos, anos se passaram e a vida parece ter ficado para trás. A vida acontece quando nascemos, devemos vivê-la durante nossa ilustre passagem pela Terra.

 

"Cansado de ficar deitado sob a luz do Sol

De ficar em casa para observar a chuva

E você é jovem e a vida é longa

E hoje há tempo para gastar

E então, um dia, você percebe que

Dez anos ficaram para trás

Ninguém lhe disse quando correr

Você perdeu o tiro de largada

E você corre e corre para alcançar o Sol

Mas ele está se pondo"

 

"The Great Gig in the Sky" conta com o vocal de Claire Torry e é uma das faixas mais cruas do álbum, por se tratar daquilo que é motivo de medo e negação para muitas pessoas: a morte. Nela, um homem assume não ter medo da morte, já que ela é de fato, inevitável e de se esperar por qualquer pessoa. 
 

"E eu não tenho medo de morrer

Qualquer hora serve, eu não me importo

Por que eu deveria ter medo de morrer?

Não há razão para isso, você tem que ir algum dia"

 

"Money" é uma das mais famosas do álbum. Com teor irônico, a banda critica a ostentação e o poder econômico que uma parcela da sociedade exibe. O capitalismo é a sociedade do consumo que nos instiga a acumular cada vez mais dinheiro, gerando desigualdade e miséria em uma outra parcela da população que segue sendo explorada. 

 

"Dinheiro, pegue de volta

Estou bem, cara

Tire as suas mãos da minha pilha de dinheiro

Dinheiro, é um golpe

Ah, não me venha com essa bobagem de dizer que dinheiro não compra felicidade

Estou no grupo da primeira classe e alta fidelidade

E acho que eu preciso de um jatinho

Dinheiro, é um crime

Divida-o de modo justo, mas não pegue a minha parte

Dinheiro, assim eles dizem

É a raiz de todo o mal hoje em dia"

 

A divisão da sociedade é abordada sem muitas delongas em "Us and Them". A música narra um conflito entre dois lados de uma guerra, enquanto os responsáveis pelo conflito ficam longe da zona de risco, apenas assistindo as pessoas se matarem. Atemporal e tocante, "Us and Them" fala sobre a triste realidade em que diversos jovens são mandados para morrer em uma guerra, na qual os responsáveis ficam isentos de quaisquer ataques.  

 

"Nós e eles

E, afinal de contas, somos apenas homens comuns

Eu e você

Só Deus sabe que não é o que queríamos fazer

Avançar, ele gritou da retaguarda

E a linha de frente foi dizimada

E o general sentou, e as linhas do mapa

Moveram-se de um lado para o outro"

 

Certa vez, o baixista e vocalista da banda, Roger Waters, fez um comentário — pouco comum, levando em consideração que os integrantes da banda não costumam conversar sobre os significados das suas músicas —, sobre a faixa "Any Color You Like". Segundo ele, há uma tendência de a maioria das pessoas optarem pelo azul quando postas sobre um leque de cores. O raciocínio proposto por Waters nos sugere que mesmo diante de tantas escolhas, sempre vamos optar pela melancolia e pela depressão (que o azul representa). É extremamente interessante olharmos por essa perspectiva, já que a faixa que sucede "Any Color You Like" fala exatamente sobre ceder nossa vida à melancolia.

 

"Brain Damage" é uma das faixas mais pessoais do álbum, já que foi inspirada no antigo colega de grupo, Syd Barrett, que saiu da banda após ter problemas com drogas. A música narra a trajetória de uma pessoa que passa por complicações mentais e encontra-se em um estado de inércia e loucura, lidando com a realidade imposta de que deve manter sua sanidade mental, condenando o momento que o próprio vem enfrentando. 

"O lunático está em minha cabeça

O lunático está em minha cabeça

Você ergue a lâmina, você faz a mudança

Você me rearranja até eu ficar são

Você tranca a porta e joga a chave fora

Há alguém em minha cabeça, mas não sou eu

E se a nuvem explodir, trovejar em seu ouvido

Você grita e ninguém parece ouvir

E se a banda em que você está começar a tocar melodias diferentes

Te vejo no lado escuro da Lua"

 

Na última faixa do álbum, "Eclipse", há o desfecho da complexidade reflexiva que o álbum propôs, sugerindo que não há somente um lado obscuro, o todo por si só é escuridão. Tudo que vivemos está sob o sol, mas ele foi eclipsado pela lua, deixando a escuridão sob o controle.

 

"E tudo sob o Sol está em perfeita sintonia

Mas o Sol está coberto pela Lua

(Não há um lado escuro na Lua, na verdade)

(Na verdade, é tudo escuro)"

 

Uma simples análise não é suficiente para definir o que o "The Dark Side of the Moon" representa para a sociedade. Todos os detalhes desse álbum foram pensados e executados minuciosamente para caber dentro da complexidade ali presente. Podemos dizer que "The Dark Side of the Moon" é tão abstruso quanto aquilo que ele se propõe a falar: a transcendência do ser humano. 


Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »