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31/10/2023 às 21h02min - Atualizada em 31/10/2023 às 19h16min

Os Simpsons: muito mais que um desenho animado, por Matt Groening

Paulo Marques Pinto - Edição por Mayane Humeniuk
https://simpsons.fandom.com

Você já viu criaturas de pele amarela, olhos esbugalhados e pouco comportados? Assim é a minha família. Eles parecem tão gentis, bastante unidos, mas experimente visitá-los um dia: é cada maluquice que eu nem conto.

Há quase 35 anos, nossa casa é um campo de guerra aos olhos de multidões em todo o planeta. Tudo na vida é motivo para piadas absurdas e, ao mesmo tempo, inteligentes. Mais que apenas 30 minutos, os homens da Fox nos ajudaram a mudar o entretenimento na televisão. Eu sou Matt Groening e apresento a vocês, brasileiros, direto de Springfield, Os Simpsons!

 

Tudo começou na sala de espera
 

Enquanto esperava me reunir com um produtor de TV, eu comecei a fazer alguns rabiscos aleatórios. Mal sabia da intenção de caçoar da vida urbana no meu país, os Estados Unidos. 

A família inventada por mim passa longe daqueles velhos clichês e, mesmo assim, tem muito amor para compartilhar. Eles moram na cidade de Springfield, onde tudo o que nosso fiel admirador imaginar pode acontecer. Springfield, para nós, é o cenário perfeito para situações absurdas e personagens excêntricos com que as pessoas se identificam facilmente.

Os protagonistas da minha série reúnem características distintas. Homer, o patriarca, é atrapalhado, desajustado, mas também possui uma sabedoria autêntica. Marge, minha mãe, é quem segura as pontas enquanto papai cumpre suas obrigações na Usina Nuclear municipal. Ao contrário dele, é  amável, cuidadosa, prudente e generosa.

Agora pense em um garoto que dá prejuízo para a família: faz travessuras, tira notas baixas na escola, desobedece, responde aos pais com estupidez e ainda se orgulha disso. Bart Simpson sou eu, o primogênito decepcionante. 

Lisa é minha irmã e também o meu oposto: ela é inteligente, estudiosa, cultiva uma espiritualidade muito forte e procura se engajar em causas edificantes para o homem. Como é que ela consegue se dar bem em uma família tão controversa quanto a nossa? Confesso que não sei.

Ah, também tenho outra irmã, chamada Maggie. Ela vive o tempo todo com a chupeta na boca, tropeça quando tenta ficar em pé e fala comigo com o olhar e os gestos. De toda a minha família, ela é a única que realmente gosta de mim.

 

Campeões mundiais de audiência e criatividade
 

Fui até a sala do Sr. James L. Brooks e mostrei aquele rabisco tosco, rústico e bizarro. Ele adorou! Tanto que, em 1987, os meus Simpsons apareceram pela primeira vez no programa independente da atriz Tracey Ullman - uma pena que poucos brasileiros a conheçam - em curtas e animadas transições entre uma cena e outra. Mas, em 1989, a Rede Fox nos deu de presente de Natal um programa de trinta minutos no horário nobre de domingo.

A partir daí, conquistamos sucesso imediato na audiência, fomos elogiados pela crítica especializada, conquistamos dez prêmios Emmy como o "melhor programa de animação" e temos dois registros no Guinness Book: série de TV com mais convidados especiais e seriado de animado há mais tempo no horário nobre. Com isso, caiu por terra aquela ideia de que "desenho animado é só para crianças".

Desde o primeiro episódio, usamos o humor inteligente, o sarcasmo e a crítica social como elementos fundamentais para abordar os temas atuais. Falamos de política, religião, tecnologia, educação, família, esporte e meio ambiente sem medo de censura. Para enriquecer nosso repertório, absorvemos as mais variadas referências culturais como música, cinema, literatura, televisão, ciência e desenhos animados. Aproveitamos toda a liberdade artística e criativa para debochar dos programas da Rede Fox e dos homens que a comandam, o que representa a controversa influência da mídia na sociedade.

Alcançamos o prestígio popular por outro motivo inusitado: o dom da profecia. Por exemplo, antecipamos a ascensão de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos e sua consegue negligência administrativa. Imaginamos um vírus respiratório se espalhar pela Ásia e, depois, atingir outras nações.

Em plena década de 1990, lançamos tecnologias como smartwatch, realidade virtual, chamadas em vídeo e corretor automático. Avisamos sobre os perigos da espionagem do governo, das falhas da urna eletrônica e ainda especulamos o recente conflito geopolítico entre Rússia e Ucrânia. Essas previsões foram cumpridas anos mais tarde, o que muito nos surpreende, uma vez que esse tipo de abordagem é apenas um instrumento de sátira frequente em nossos roteiros. 

Por falar nisso, vocês sabiam que nós somos colegas do Mickey Mouse? Acreditem! Desde 2019, somos contratados da Disney, o que fortalece o nosso vínculo com a Fox e, inclusive, está nos ajudando a migrar da televisão para uma nova tela: as plataformas de streaming. Aos poucos, alcançamos novas gerações e renovamos o convívio com os nossos fiéis admiradores.

 

Os Simpsons e o povo: ninguém solta a mão de ninguém
 

Nosso show mantém o mesmo sucesso por muito tempo graças ao carinho dos fãs. Procuramos ficar mais próximos oferecendo um entretenimento genuíno. Um exemplo é o meme do meu pai, digo, do Homer se escondendo atrás da moita. Nas redes sociais, nossos fãs têm acesso exclusivo a cenas que não foram ao ar.

Mas quero aqui destacar um exemplo de como os fãs acompanham nossas aventuras. No Brasil, onde as telenovelas cativam os olhares do povo, os nossos dubladores alcançam status de celebridade. Um deles é o radialista e apresentador Carlos Alberto, que se inspirou no inesquecível Waldyr Sant'anna (1936-2018) para representar o Homer. O que mais me impressionou foi que ambos têm a voz idêntica do papai!!!

Isso prova que nem só de piadas e atualidades vivem os meus personagens, mas de toda forma de carinho que eu recebo pelo meu trabalho.

 

O mundo real é muito mais que desenho animado
 

Com o passar dos anos, o espaço de meia hora na TV se tornou insuficiente e, por isso, buscamos outros meios de contar as nossas histórias e alcançar ainda mais as atenções do povo. Começamos com as histórias em quadrinhos em 1993 e, devido ao grande sucesso, abrimos nossa própria editora.

Lançamos filme no dia 27 de julho de 2007 e arrecadamos US$ 74 milhões na primeira semana, mais US$ 530 milhões em todos os países. Investimos em um álbum que alcançou o 3° lugar nos rankings de música dos EUA. Até o Bart cantou um hit escrito pelo Rei do Pop, Michael Jackson.

Em mais de 20 jogos eletrônicos, fizemos paródias de WWE, Crazy Taxi, Tony's Hawk Pro Skater e GTA, até lançarmos nosso próprio videogame em 2007. A partir dos meus desenhos, foram lançados livros que discutem política, filosofia, psicologia, religião, sociedade e o mundo contemporâneo.

Além disso, transportamos nossa Springfield para a realidade ao abrir nosso parque temático em Orlando e Hollywood. Nossos visitantes podem se divertir no Bar do Moe, experimentar os sanduíches do Krusty Burger, as pizzas do Luigi e as rosquinhas do Lard Lad, conhecer a cerveja Duff e fazer compras no Kwik-E-Mart.

Por fim, também estamos presentes em muitas lojas, vendendo roupas, bonecos, canecas, pôsteres, cadernos, agendas, produtos alimentícios, roupas de cama, banho e mesa, brinquedos, perfumes, cosméticos e eletrônicos.

 

 

Um legado se constrói com os risos do povo
 

Na batalha para manter o mesmo sucesso da estreia, sem desgastar a imagem ou a piadas, nossos fãs alimentam a criatividade ao tomar como inspiração o meu desenho animado. 

Eles podem apresentar um outro retrato de Springfield com suas narrativas imaginárias, chamadas fanfics, elevar nosso visual a nível artístico com suas fanarts e levantar hipóteses sobrenaturais como teorias conspiratórias. Para nós, as ideias são tão fascinantes que nos motivam e inspiram a manter vivo o DNA escrachado da série. 

Desse modo, eu me sinto beneficiado, uma vez que eles conhecem minha história e querem me ajudar com suas ideias, ampliando, assim, o time de roteiristas e impulsionando ainda mais os índices de audiência do meu programa.

 

Liberte a sua imaginação, sem se importar com a multidão
 

Eu jamais imaginei que aqueles traços tão imperfeitos poderiam ganhar vida própria graças ao poder inquestionável da televisão. Os blocos dominicais de meia hora na faixa noturna da Rede Fox se tornaram mais tarde o núcleo de um multiverso colorido, psicodélico, frenético e aberto a todas as formas de expressão, sejam de estima ou de preocupação.

Sem dúvidas, o jeito Simpson de viver conquistou a aprovação imediata de milhões de pessoas, lançou um novo olhar sobre as coisas da vida e da sociedade, gerou uma revolução na indústria do entretenimento e segue se reinventando para manter sua longevidade, tanto na televisão quanto nas novas mídias.

Em nome da equipe de produtores e roteiristas a serviço da Fox e da Disney, eu peço que você continue acompanhando as aventuras dos Simpsons desde a primeira temporada, aproveite os episódios mais recentes em qualquer tela, leia os nossos quadrinhos, joguem nossos games e, se possível, visite nosso parque temático em Orlando e Hollywood.

Seu apoio é fundamental para que nossa mensagem continue ecoando por todo o planeta. Afinal, tudo o que mostramos no desenho pode ter coincidência com a sua vida. No mais, muito obrigado por sua atenção!


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