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21/11/2023 às 01h24min - Atualizada em 22/11/2023 às 18h15min

Através dos ciclos da dor, o Angra ressurge em sua melhor forma

Em seu mais novo lançamento, Cycles of Pain, a banda brasileira Angra aborda os ciclos da dor que nos constrói como indivíduos e desenvolve nosso ser

João Lameira - Revisado por Nildi Morais
A capa do Cycles of Pain traz referências a toda a discografia da banda. (Foto: Reprodução/Roadie Crew)

Um dos maiores nomes do metal nacional, com mais de 30 anos de estrada, o Angra acaba de lançar seu mais novo trabalho. “Cycles of Pain” é o décimo álbum de estúdio da banda que, em sua terceira formação, apresenta uma potente e sólida junção do power e prog metal característico, com muitas pitadas da brasilidade que marcou o som da banda desde o seu primeiro álbum, o “Angels Cry”, de 1993.

 

Com produção de Dennis Ward, que já trabalhou com a própria banda no passado, o álbum foi lançado no início de novembro, pela Atomic Fire Records. Em uma evolução natural, o Cycles of Pain mostra em seu som toda a maturidade da banda, que hoje conta com o membro fundador Rafael Bittencourt na guitarra, Felipe Andreoli no baixo, Bruno Valverde na bateria, Marcelo Barbosa na guitarra e Fabio Lione nos vocais.

 

E falando em vocais, a performance de Lione é um dos maiores destaques do álbum. Com uma voz potente e versátil, o italiano entrega em seu terceiro álbum com o Angra a sua melhor versão - com direito a utilização de cantos operísticos na décima segunda faixa do álbum, “Tears of Blood”. Além disso, o álbum conta com as participações especiais de Amanda Somerville, Lenine e Vanessa Moreno nos vocais, além de Fernanda Lira e Kiko Loureiro em uma faixa bônus na versão japonesa do álbum.

 

Os Ciclos da Dor


Seguindo uma característica da banda, o Cycles of Pain também é um álbum conceitual. Segundo Rafael Bittencourt, o principal compositor da banda, esse álbum aborda os diferentes tipos de dor que nós, seres humanos, podemos experimentar em nossas vidas. Com letras inspiradas em histórias reais, vivenciadas pelos membros da banda ou pessoas próximas, o álbum explora, além da dor, temas como fé, esperança, mudanças, guerra e morte.

 

“Nos últimos cinco anos, experimentamos dor, desafios, frustrações, glórias e sucessos em montanha-russa de emoções que se tornou um caldeirão de temas e inspirações. Estávamos isolados, atormentados, lidando com a sombra da doença e da morte diariamente. Hoje até parece surreal lembrar de tudo pelo que passamos. Como resultado, Cycles of pain é álbum denso de experiência e dor acumulada”

 

O álbum conta com 12 músicas, mais uma faixa bônus. Além do destaque dos vocais de Lione, todos os músicos de alto nível demonstram porque o Angra é conhecido por suas músicas muito técnicas que, ao mesmo tempo, conseguem ter apelo radiofônico, com poderosas melodias e refrões pegajosos (no melhor dos sentidos).

 

Ride Into the Storm

 

O álbum abre com a instrumental Cyclus Doloris, que prepara toda a atmosfera para a viagem que está por vir. Logo que somos inseridos no universo de Cycles of Pain nós caímos na acelerada Ride into the Storm, primeiro single do álbum, que nos coloca em meio a uma verdadeira tempestade sonora.

Ride Into the Storm, o primeiro single do Cycles of Pain. (Reprodução: Atomic Fire Records)

 

Após um início de tirar o fôlego, chegamos na pesada Dead Man on Display - que remete aos tempos de Temple of Shadows (2003), um dos álbuns mais aclamados do grupo. Todo o Cycles of Pain também não deixa de ser um tributo a toda a carreira do Angra, com todas as suas mudanças que houve no trajeto. E, por falar em mudanças, as próximas duas músicas são as partes I e II de Tide of Changes - essas um verdadeiro showcase do baixista Felipe Andreoli, em uma música que reflete a própria banda que nunca teve medo de mudar, sem tempo para arrependimentos.
 

"Life is a tide of changes". (Reprodução: Atomic Fire Records)


Na sexta faixa, nós chegamos a talvez o ápice do álbum. O épico Vida Seca conta com os vocais de Lenine na introdução e quem acha que isso não tem nada a ver com Angra talvez nunca tenha ouvido nada da banda. A música soa como se já existisse desde sempre, nós somente a descobrimos agora. Em sua letra, Bittencourt aborda a dor da seca e da fome.

 

A seguir, Gods of the World entrega um heavy metal clássico, com críticas às guerras e conflitos que permeiam nosso mundo. Mas é a seguir que a faixa título nos entrega uma belíssima balada, abordando temas pesados como a depressão e suas consequências. O álbum ainda conta com a ritmada Faithless Sanctuary, o power metal de Generation Warriors e a linda balada Here in the Now - que conta com duas versões, sendo uma delas a faixa bônus em que Vanessa Moreno canta integralmente.

Em Gods of the World, Bittencourt questiona os senhores da guerra que governam o mundo. (Reprodução: Atomic Fire Records)

 

A última música do álbum é a vampiresca Tears of Blood. Abordando a dor da perda de um ente querido e sobre a dificuldade de seguir em frente, a música é um dueto entre Lione e Amanda Somerville. Lione assume o personagem de um assassino que matou sua amada e agora conversa com seu espírito - cabe aqui um destaque para sua versatilidade ao apresentar aqui cantos dignos de uma apresentação de ópera.

 

Cycles of Pain traz o Angra em sua melhor forma. Uma banda que soube crescer e aprender com todas as suas constantes “dores”. Um verdadeiro tributo à própria carreira, esse álbum é um presente para os fãs e, por que não, para a própria banda, que celebra mais de 30 anos de carreira no topo do metal nacional.


 
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