Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
22/11/2023 às 17h07min - Atualizada em 22/11/2023 às 15h31min

Identificação é a palavra chave: conheça a magia por trás dos primeiros álbuns da banda The Lumineers

As canções de cada álbum da banda, juntas, formam histórias que não só nos emocionam como geram grande identificação.

Gabrielly Leopold - Revisado por Danielle Carvalho
Registro da passagem da Brigthside Tour por Madrid. (Reprodução: Rachel Deeb - Instagram)

 

The Lumineers é uma banda de Folk Rock norte-americana que surgiu em 2005, co-criada por Wesley Schultz e Jeremiah Fraites. Na época, ambos precisavam se virar com empregos secundários já que a música não lhes dava o suficiente para sobreviver, mas em 2012 assinaram com a Dualtone Records e o hit “Ho Hey” entrou nas paradas de sucesso, como o pontapé inicial para uma jornada muito bem sucedida que até hoje nos traz músicas extraordinárias.



Atualmente, além de Wesley e Jeremiah, a banda também é composta por Lauren Jacobson, Stelth Ulvang, Brandon Miller e Byron Isaacs. Mas além da sonoridade impecável dos seus álbuns, que contempla da bateria ao violino, combinados à inesquecível voz de Wesley Schultz, por que as canções da banda são tão marcantes? Cada álbum da discografia do The Lumineers tem uma história diferente, suas músicas são obras de arte que nos cativam quando escutadas individualmente, mas todas fazem parte de um produto maior e se completam de alguma forma, então as faixas de cada álbum são como capítulos de um livro.  

Nessa matéria, vamos falar sobre os álbuns “The Lumineers” e “Cleopatra”, os dois primeiros lançamentos da banda. Logo você vai poder acompanhar a parte 2 sobre o restante da discografia!

 

The Lumineers: onde tudo começou

O primeiro álbum, que leva o nome da banda, é conhecido por canções como “Ho Hey” e “Flowers In Your Hair”. Apesar de não ter uma história 100% confirmada pela banda, como temos em “The Ballad of Cleopatra” e “III”, seus lançamentos posteriores, quando prestamos atenção nas letras e melodias do disco de estreia, é fácil especular que ele fala sobre amor em um modo geral, mas não somente de romance, sobre o amor da família, entre amigos e a importância das relações humanas que vamos construindo ao longo da nossa vida.

A primeira faixa do álbum é “Flowers In Your Hair”, que nos transporta para as lembranças da inocência de um amor jovem, quando acreditamos em tudo e temos certeza de que sabemos de todas as coisas. Já com “Classy Girl” nos divertimos com a tentativa frustrada de um flerte que rende uma canção de versos memoráveis como: “Garotas de classe não beijam em bares, seu tolo”. A terceira canção tem uma melodia alegre e contagiante para uma letra que dá margem para muitas interpretações, essa é “Submarines”. Os fãs contam que a música é sobre o avô de Wesley Schultz, conhecido por contar muitas histórias e não ser levado a sério. Uma das mais clássicas era sobre ter visto um submarino numa espécie de rio local, mas todos desacreditarem dele. Anos depois de seu falecimento, alguns registros comprovaram que estava certo.

As batidas alegres e mais agitadas são substituídas por acordes mais calmos nas 3 próximas canções, todas elas falam sobre romance e diferentes fases de um relacionamento. A começar por “Dead Sea”, aquela que faz você ter vontade de se casar desde o primeiro verso e que, em seus shows, a banda inclusive recomenda a canção para esse tipo de momento, afinal, a música descreve a conexão singular de duas almas gêmeas e mostra como um relacionamento deve ser construído com base no suporte de uma pessoa à outra, como cantam nos versos a seguir:

“Você me disse que eu era como o mar morto

Você nunca vai afundar quando estiver comigo”

As canções que seguem o álbum já mostram um lado mais delicado do relacionamento, são elas “Ho Hey” e “Slow It Down”, sendo a primeira muitas vezes confundida com uma música feliz, quando na verdade trata-se de um arrependimento pós término, enquanto a outra é um convite para desacelerar um pouco a nossa vida, viver menos no automático e aproveitando mais. Continuando a festa do álbum, seguimos para mais duas canções alegres e dançantes: “Stubborn Love”, sobre uma amada inesquecível mas de personalidade complexa e “Big Parade” que pode ser tanto uma metáfora sobre a política norte-americana como uma leve canção de amor e glória.

Quando “Charlie Boy” começa, você sabe que será uma das mais tristes do álbum, mas assim que entende o seu significado ela se torna mais dolorosa: se trata da dor do jovem que deixou a família e os planos futuros para servir ao seu país na guerra. Na versão ao vivo da música, disponível no Spotify, Schultz conta que Charlie era o irmão mais velho de seu pai. Enquanto você se recupera dos efeitos dessa canção, a sequência das próximas 3 músicas traz um misto de sensações e explora diferentes momentos que quase todos nós já passamos: “Flapper Girl” é mais “adocicada” e leve de se ouvir, sobre uma garota melindrosa e inesquecível, já “Morning Song” retrata a terrível superação de um término, gerando identificação em qualquer pessoa que já teve seu coração partido, enquanto “Ain’t Nobody’s Problem” é um grito de liberdade e uma reflexão sobre não ter medo de viver a própria vida devido ao que os outros podem pensar. Já "This Must Be The Place - Naive Melody" é uma canção com a melodia suave cuja letra é leve e romântica, falando sobre o conforto que algumas pessoas podem nos transmitir com coisas tão simples, explicando o verdadeiro conceito de lar: onde e com quem te faz sentir à vontade e em paz consigo mesmo.

A versão deluxe do álbum de estreia da banda ainda traz mais 2 músicas carregadas de sentimento e reflexão: “Eloise” fala sobre o término de um relacionamento complicado, em que, apesar das complexidades, ainda havia muito amor e respeito mesmo com o fim. Para fechar com chave de ouro, a música “Darlene” retrata uma admiração que não é correspondida na mesma intensidade, por isso o relacionamento do narrador com a moça chamada Darlene não é tão saudável ou duradouro.

Cleopatra: uma grande reflexão sobre a vida e todos os seus caminhos

É impossível falar sobre as narrativas criadas pela banda sem mencionar o álbum que mais se encaixa nisso. “Cleopatra” conta a vida inteira da personagem com o mesmo nome, nos fazendo refletir sobre como uma pequena escolha é capaz de alterar todo o curso da nossa vida, criando mil possibilidades de como as coisas poderiam ter sido. Além das letras serem um complemento umas das outras, no Youtube a história é contada na íntegra com a união dos clipes de cada canção, formando o curta “The Ballad Of Cleopatra”.

Ophelia é a primeira música e permite à banda refletir sobre o sucesso e toda a pressão atrelada a ele, mas tudo isso de forma metafórica, como se estivesse contando a história do relacionamento de Ophelia — então sim, ela também pode ser uma canção sobre amor. Eles ilustram isso em versos como:

 “Eu tenho um pouco de um salário

Você tem grandes planos e precisa se mexer”

No clipe, ao final de Ophelia, Wesley Schultz está caminhando à noite em uma rua pouco movimentada até entrar em um táxi cuja motorista é Cleopatra, uma senhora aparentemente na casa dos seus 50/60 anos. Dessa música em diante vamos conhecer um pouco mais sobre a vida da mulher. Curiosamente, Wesley já revelou em entrevistas que o álbum foi mesmo inspirado numa conversa intensa com uma motorista de táxi, por isso a referência no clipe. Cleopatra é uma canção que reflete sobre os “e se”, mas a protagonista não se mostra totalmente arrependida, apenas nostálgica e contemplativa, ela sabe que no final esse era o curso que a sua vida precisava ter tomado.

Entre as idas e vindas dos passageiros do táxi, somos apresentados ao filho de Cleopatra, que desperta nela a curiosidade afetiva de saber como teriam sido as coisas se não tivesse se separado do amor de sua vida. A próxima canção é inteiramente instrumental, “Patience” mostra a versão mais jovem da protagonista no funeral de seu pai, acompanhada de alguns familiares e de seu namorado que, em um momento do clipe, sussurra: “Se você não partir agora, pode ser que nunca consiga”, fazendo uma referência aos versos da próxima música que falam a mesma coisa, "Sleep On The Floor". 

Então, ela decide seguir o conselho e o clipe da próxima canção nos transporta para uma realidade em que isso realmente aconteceu. É mostrado como seria se tivesse mesmo aceitado fugir com o seu amado e retrata as suas viagens pelo estado com nada além da roupa do corpo e sua escova de dentes, afinal, o amor bastava para os dois. Mas quando "Sleep On The Floor" termina somos transportados para a realidade novamente com a canção “Angela”, em que Cleopatra aparece grávida no clipe e em uma casa que, apesar de estável, não é considerada um lar. Esse é o caminho que a sua vida tomou, mas não é onde deseja estar.

E as luzes verdes e brancas do seu Volvo

Com as cidades nas placas

Mas você manteve o seu curso para uma guerra distante

Nos cantos da sua mente”

No clipe, novamente a jovem Cleopatra nos leva para mais uma das vidas que gostaria de ter vivido caso as coisas fossem diferentes, aquela descrita na letra. Ela dirige até um hotel na beira da estrada e se sente bem mais aliviada estando longe de tudo, o que antes a consumia. Enquanto a música "Angela" chega ao fim, a canção que conclui a história (no curta metragem, pois o álbum ainda conta com mais algumas) é “My Eyes”, com uma letra tão sincera que é difícil não ser tocado por ela. Nesse trecho do curta-metragem que representa a música, a protagonista Cleopatra já está um pouco mais velha do que no início e se encontra em um asilo compartilhando as memórias de sua vida com um enfermeiro. 

Como nos demais trechos, a vemos se separar de seu corpo uma última vez para andar pelo local contemplativa, como se quisesse se lembrar de cada detalhe e aproveitar ao máximo os seus últimos momentos. As luzes gradativamente se apagam e chegamos ao fim de sua jornada, levando no coração a leveza de Cleopatra que nos mostra como a vida precisa ser vivida intensamente, sem medo de julgamentos e, sem dúvidas, que estejamos prontos para entender que ela não é feita somente dos caminhos desejados por nós. Apesar de em uma outra realidade haver a remota possibilidade de que tudo seria diferente, devemos honrar as nossas escolhas e compreender o quanto o presente também pode ser mágico.

"The Ballad of Cleopatra" também tem mais algumas canções que não fazem parte do curta-metragem, mas apresentam reflexões profundas. “Gun Song” tem uma melodia animada acompanhada de uma provocação metafórica baseada numa experiência pessoal do vocalista que critica o uso de armas e a violência. Já “In The Light” apresenta uma letra sobre o sentimento de nostalgia e a dificuldade de nos desprendermos de certas memórias do nosso passado. “Gale Song” faz parte da trilha sonora do filme “Jogos Vorazes” e retrata o sentimento de solidão e o cansaço de batalhar por alguém que você ama e não pode ter por perto. Também temos  “Long Way From Home”, essa compartilha a agonia de ver uma pessoa querida em sofrimento e saber que ela está longe do seu lar, de onde e com quem sente conforto e paz. Por fim, “Sick In the Head” é uma crítica ao julgamento da sociedade que sempre se preocupa em contar o que lhe convém ao invés de entender quem são as pessoas de fato.

 
Curta-metragem 'The Ballad Of Cleopatra', representando os clipes do segundo álbum da banda. (Reprodução: The Lumineers - Youtube).

Link
Tags »
Notícias Relacionadas »
Comentários »