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23/08/2019 às 16h44min - Atualizada em 23/08/2019 às 16h44min

Você nunca mais lerá Jane Austen da mesma forma

Por baixo dos casais apaixonados e do protagonismo feminino, havia críticas implícitas a sociedade inglesa do século XIX

Yorrana Maia - Editado por Socorro Moura
https://revistacult.uol.com.br/home/jane-austen-escondeu-criticas-em-seus-romances/ e https://revistagalileu.globo.com/Cultura/noticia/2017/07/jane-austen-11-fatos-que-voce-precisa-saber-sobre-escritora.html

 

Quem foi Jane Austen? Essa é pergunta que muitos fizeram ao longo das décadas e poucos souberam responder, ou melhor, as respostas encontradas se contrapunham, duelavam, se acusavam mutualmente de falsidade ideológica. A única resposta que se salva como verdade incontestável é de que, há mais de 200 anos, Jane Austen encanta a literatura mundial.

Mais conhecida pelas obras “Razão e Sensibilidade” (1811) e “Orgulho e Preconceito” (1813), Jane é associada a histórias de amor superficiais. Mas, sua escrita vai muito além disso. Consoante o contexto da sociedade inglesa do século XIX, nota-se que, por baixo dos casais apaixonados e do protagonismo feminino, havia críticas implícitas a sociedade inglesa do século XIX.

Até o ano de 1870, a mulher inglesa não possuía o direito à herança ou controle do dinheiro. Com a morte do patriarca da família, as filhas e a esposa não podiam receber herança e ficavam a mercê dos filhos herdeiros ou de seus maridos. Isso as deixavam em uma situação bem delicada, visto que as mulheres, se não se cassassem, só poderiam se sustentar como professoras de primário, governantas, escritoras, companhia de dama ou criadas. Esse foi o caso de Jane e sua irmã, Cassandra, que nunca se casaram.

A situação das mulheres inglesas do século XIX é retratada muito bem por Jane Austen em seus livros. E com base nesse contexto histórico, entende-se melhor a preocupação da Sra. Bennet (Orgulho e Preconceito) em casar suas filhas. O Sr. e a Sr. Bennet tiveram somente filhas, cinco ao todo, o que tornava o herdeiro legítimo um primo distante do Sr. Bennet, o Sr. William Collins. Este poderia, para o grande infortúnio da Sra. Bennet, se apropriar da casa da família e despejar a mãe e as filhas. Porém, como se nota no livros, as heroínas da autora não se interessam em casar, não se iludem ou sofrem pelo “príncipe encanto”. Elas permanecem firmes consoante as próprias vontades e sentimentos e no final (sempre feliz, por sinal) se casam exclusivamente por amor.

Cena do filme Orgulho e Preconceito (2005), (foto:divulgação)

Contudo, suas críticas não param somente na falta de direito das mulheres. Em uma entrevista à Revista Cult, a escritora de Jane: a secret radical (Jane: uma radical secreta), Helena Kelly, disse notar referências frequentes à escravidão em Mansfield Park (1814). Lord Mansfield na época era presidente do Supremo Tribunal Inglês e contribuiu para abolição da escravidão. “Seria impossível não fazer a ligação. Além disso, a Sra. Norris, vilã da história, teve o nome inspirado em Robert Norris, um infame traficante de escravos. Eu já estava convencida de que havia ligações com o tema no romance, e muitos críticos já haviam apontado isso, mas quando eu me foquei em encontrar essas referências, me pareceu clara a crítica de Austen à escravidão. Isso me deixou perplexa, porque muitas pessoas leem sua obra apenas pensando no romance e no protagonismo feminino, que de longe não são os únicos ingredientes de seus escritos”, disse Kelly em entrevista. 

Jane Austen, portanto, foi muita mais do que uma escritora de romances. Ela fez fama com suas publicações em uma época em que as mulheres não tinham direitos; ela tinha opiniões políticas e conseguiu escondê-las sutilmente entre suas palavras; e retratou em maestria o comportamento e a cultura da sua sociedade e de seu tempo.

Entretanto, os registros que podem ser estudados, para entender essa brilhante escritora, são apenas correspondências pessoais entre Jane e sua irmã. Muitas dessas cartas foram perdidas com o tempo e o restante encontra-se sobre os cuidados da família, que preza pela reputação da escritora. Dessa forma, não se sabe ao certo quem de fato escreveu Razão e sensibilidade (1811), Orgulho e preconceito (1813), Mansfield Park (1814), Emma (1815), A Abadia de Northanger (1818), Persuasão (1818) e Lady Susan (1871). Era uma radical? Ou mulher de seu tempo? Romântica e sonhadora ou realista e objetiva? Nem seu retrato pode ser tratado como verídico.

Desenho feito por Cassandra Austren (foto: divulgação)


Ilustração feita a partir do desenho de Cassandra (foto:divulgação)

O único retrato da escritora foi feito por sua irmã. Mas, o mais conhecido é uma ilustração feita a partir do retrato original com um detalhe a mais: uma aliança no dedo da jovem Jane.  A jovem escritora teve um breve romance com Tom Lefroy, filho de um oficial do exército, mas a relação entre os dois nunca passou de quatro encontros sociais - apesar do que mostra o filme Amor e Inocência (2007).

Anne Hathaway e James McAvoy como Jane Austen e Tom Lefroy em 'Amor e Inocência' (Foto: Divulgação )

Jane, que morreu aos 41 anos em 1817, é uma estranha, um enigma histórico. No entanto, Jane Austen é a figura imortal de uma das mais brilhantes escritoras da humanidade e estará sempre presente entre os clássicos da literatura.  

Yorrana Maia

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