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05/04/2019 às 11h48min - Atualizada em 05/04/2019 às 11h48min

Afinal, o livro é sempre melhor que o filme?

Cecile Mendonça
Pixabay
Uma história pode ser contada de formas variadas. Por isso, um fenômeno muito comum são as migrações de suporte. A transferência do livro para o audiovisual é uma delas, e já acontece desde os primórdios do cinema, ao contrário do que muitos acreditam se tratar de um fenômeno recente. A lista de filmes baseados em livros é bem vasta. Certos títulos já são comumente reconhecidos por advirem da literatura, como a série Harry Potter, de J. K. Rowling, e Crepúsculo, de Stephanie Meyer, mas existem certos filmes que, apesar de muito conhecidos e aclamados pela crítica, passa despercebido o fato de terem sido baseados em uma obra literária. Títulos como 101 dálmatas, Forest gump, Shrek e Apollo 13, são exemplos disso. Mas, então, diante de contínuos lançamentos, quase sempre surge o debate de que o filme não segue o livro que deu origem à produção audiovisual fielmente, e até mesmo acontece críticas de que o livro é muito melhor e mais detalhado. Porém, até que ponto essa discussão é legítima? 

Comparar o livro com o filme se tornou um comportamento muito comum, porém trata-se de uma discussão equivocada. A realidade da escrita é completamente diferente da realidade do audiovisual. A adaptação feita utiliza o livro apenas como base, ou seja, sua participação é secundária – apesar da ideia da história da película carregar massificadamente o que está contido no livro. Contudo, o que é preciso entender é que a produção audiovisual parte de algo que foi consolidado pela escrita. Ou seja, o filme somente é uma releitura de algo que já foi posto previamente. Logo, mudanças naturalmente acontecem; o detalhamento não pode ser o mesmo do livro, devido ao tempo de exibição do filme. Além disso, partes da história são retiradas ou acrescentadas para melhor adaptação à imagem, na visão de quem está produzindo; dentre outras modificações que são realizadas a partir da necessidade do que está sendo construído. 

É compreensível o porquê de rotineiramente acharem a obra literária quase sempre é superior a adaptação cinematográfica, já que o livro tem uma conexão mais íntima com o leitor, permitindo-o trabalhar seu imaginário por meio do detalhamento. Contudo, retirar do imaginário para real merece bastante reconhecimento, pois fazer a transferência da construção memorial constituída pela leitura do livro, algo completamente insólito, para a concretude de uma representação direta de ações e imagens, demonstra grande talento. 

Portanto, assim como as obras literárias têm o poder de personalizar o entendimento e a interpretação, conseguindo trazer ao leitor o poder de transformar a leitura para que parte dela seja de acordo com a sua personalização, a película também possui seu valor, já que transformar a sua visão em uma obra que será coletiva a um público não é nada fácil. Conquistar o espectador que mantém sua postura passiva, por estar diante de um resultado mais visual, necessita de uma construção de imagem muito rica. Logo, conclui-se que tanto livros, quanto filmes, possuem as suas peculiaridades e, por se tratarem de produções diferenciadas, não devem ser sobrepostas uma a outra.

 
Editado por Leonardo Benedito. 

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