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13/02/2020 às 09h16min - Atualizada em 13/02/2020 às 09h16min

A mulher por trás das palavras: Suicídio de Sylvia Plath completa 57 anos

Poetisa, contista e romancista do século 20 levava uma vida atormentada pela depressão. Quase seis décadas depois, sua obra reafirma a morte do corpo e o nascimento do mito.

Letícia Franck - Editado por Rafael Campos
Sylvia Plath no início da vida adulta. A mesma foto ilustra a segunda edição de seus diários (1950-1962), publicado pela Biblioteca Azul em 2017.
Nascida em Boston no dia 27 de outubro de 1932, Sylvia Plath já demonstrava a facilidade em trabalhar com palavras, quando aos 08 anos de idade publicou seu poema em Winthrop, na sessão infantil do jornal diário Boston Herald.
 
Tendo perdido o pai em decorrência de uma complicação com diabetes, Plath trabalhou como editora convidada na revista Mademoiselle três anos após ingressar na faculdade. A experiência foi muito aquém do esperado e motivou uma visão mais introspectiva de Sylvia a respeito da vida e de si mesma. Grande parte dos eventos ocorridos naquele verão em Nova Iorque inspiraram A Redoma de Vidro (1963), seu único romance, já contendo nítidos traços autobiográficos.
 
A autora, que tentou suicídio pela primeira vez após ingerir uma grande quantidade de narcóticos, esteve internada em uma clínica psiquiátrica, onde recebeu tratamento com eletrochoques. Segundo alguns sites, Sylvia atentou contra a vida em outras oportunidades, documentadas ou não em seus boletins médicos, mas relatados em suas crônicas.
 
Em 1955, Plath conclui os estudos em Smith College, onde por seu desempenho consegue uma bolsa integral na Universidade de Cambridge, onde continuou a escrever poesia, ocasião em que conheceu seu primeiro e único marido, o também poeta Ted Hughes, com o qual se casaria em junho do mesmo ano, em uma cerimônia simples e intimista. Desta união, nasceram Frieda e Nicholas, não deixemos de mencionar também o filho abortado, que mais tarde se tornaria um dos temas principais de seus poemas.
 
De uma vida camuflada e angustiante, nasceu sob o pseudônimo de Victoria Lucas, o clássico The Bell Jar, que relata assuntos verídicos da vida da autora, e encanta por sua forma realista de passar todo um conhecimento -ainda que de forma um tanto lírica - a respeito da depressão, uma doença que acomete cerca de 15,5% da população, de acordo com estudo epidemiológico ao longo da vida no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a prevalência da doença é o 4º índice mais alto do mundo em níveis de suicídio. 
 
“Para a pessoa dentro da redoma de vidro, vazia e imóvel como um bebê morto, o mundo inteiro é um sonho ruim. Talvez o esquecimento, como uma nevasca suave, pudesse entorpecer e esconder aquilo tudo. Mas aquilo tudo era parte de mim. Era a minha paisagem”  (Sylvia Plath, em A Redoma de Vidro, 1963).
 
Dizem que em 11 de fevereiro de 1963 foi à noite mais fria do ano, em Londres. Sylvia deitou os filhos no quarto do 1º andar, esperou eles adormecerem, deixou abertas as janelas da peça onde descansavam, vedou completamente a porta do quarto das crianças com toalhas molhadas e deixou pão com manteiga e leite na mesa de cabeceira. Nesta mesma noite, desceu até a cozinha, pôs a cabeça no forno do fogão e abriu o gás. Sylvia Plath, 30 anos, dois filhos, muitas obras elogiadas. A mesma Sylvia que mascarava a solidão e cantarolava para ninar a dor, decidiu fazê-la dormir para sempre.
 
Cerca de vinte anos depois, os diários escritos por Plath desde os 11 anos de idade, foram editados por Frances McCullough e publicados pela primeira vez. Já em 1982, Smith College recuperou os diários que faltavam, e Ted Hughes os selou até 11 de fevereiro de 2013, quando completavam 50 anos da morte de Sylvia.
 
Integram dentre suas obras The Colossus and Other Poems (1960), primeira coletânea de poemas escritos por Sylvia; seguido de Ariel_(1965) e Crossing the Water (1971), além dos inéditos encontrados em The Collected Poems (1981); e Johnny Pannic and the Bible of Dreams (1977), livro de prosa e contos.
 
Décadas se passaram. 57 anos depois, aqui no Brasil faz verão. É quente, ilumina, como suas palavras. “Devemos nos encontrar em outra vida, devemos nos encontrar no ar, eu e você”. Esteja bem, Sylvia.



 
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