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26/06/2020 às 10h45min - Atualizada em 26/06/2020 às 10h33min

Falar sobre feminismo é a Coisa Mais Linda

A segunda temporada da série Coisa Mais Linda acabou de estrear na Netflix e já deixou os fãs complemente emocionados c

Maria Luiza Machado - Editado por Letícia Agata
Netflix
Na última sexta (16), a segunda temporada da série brasileira Coisa Mais Linda (Girls From Ipanema), produzida pela plataforma de streaming Netflix, finalmente estreou. A temporada anterior foi capaz de cativar muitos fãs ao mostrar a importância do empoderamento feminino e racial.
 
A primeira temporada conseguiu o feito de ser classificada como um “tomate fresco” no site de críticas Rotten Tomatoes e no IMDB adquiriu nota 7,9 em um total de 10.

Apesar de ser ambientada na década 60, ainda consegue ser bastante atual em suas críticas, retratando a realidade enfrentada por mulheres no ambiente profissional e pessoal. A semelhança com a nossa realidade é muito clara e mostra como a luta feminista é importante e necessária, porém muito difícil.
 
Cada personagem vem de um lugar diferente, cada uma com seus privilégios ou falta deles, cada uma com suas histórias, que são resultado do lugar que chegaram e como chegaram, mesmo tendo que carregar suas respectivas cruzes.
 
A NARRATIVA COM A REALIDADE
 
A protagonista Malú (Maria Casadevall), é caracterizada como uma mulher mimada criada em família rica. A personagem sempre utilizou de seus privilégios e sempre possuiu tudo que desejava. Porém, quando o marido a abandona com o filho, Maria Luiza se vê desamparada e se muda de São Paulo para o Rio de Janeiro, saindo completamente de sua zona de conforto para seguir seus sonhos. A personagem se vê pela primeira vez enfrentando as dificuldades reais e encara preconceitos que a maioria das mulheres dos anos 60 sofriam em seu cotidiano.

Quando decide abrir seu próprio negócio, ela descobre que precisa de um marido para assinar os papéis da compra da propriedade, já que na época mulheres eram restritas a cuidar da casa e da família e, apesar de não serem mais proibidas, não eram encorajadas a virarem empreendedoras e economicamente independentes.

Segundo Manuela de Gomes, uma das porta vozes da Resistência Feminista de São José dos Campos, essa conquista foi consequência da primeira onda feminista no Brasil e ainda fala sobre mais algumas conquistas da época: “Destaco também o direito ao voto, o acesso ao ensino, direito ao trabalho remunerado, o que retirou a mulher do ambiente restrito do lar e mais recentemente, direito ao divórcio”.

A personagem Lídia (Fernanda Vasconcellos), também cresceu em uma família rica e se casou com um homem da mesma classe social, fazendo assim com que não apenas ela, mas também outras mulheres pensassem que os dois viviam o casamento perfeito. Seu marido Augusto (Gustavo Vaz), entretanto, se mostrava controlador e agressivo em diversos momentos.

O relacionamento dos dois não era saudável desde o primeiro minuto do casal em cena. Augusto agride a esposa física e verbalmente diversas vezes. A personalidade cruel do marido acaba no pior dos males: depois de um acesso de fúria ele dá um tiro em Lídia e foge. A temporada então acaba com um infeliz femínicidio, que rege a temporada seguinte.

“As mulheres se sentem mais encorajadas a denunciar ao ver exemplos de denúncia de violência ou abuso na TV”, diz Manuela sobre a importância de retratação da agressão em programas de TV.

Adélia (Pathy Dejesus), é uma mulher negra, tendo em seu enredo não apenas o racismo que enfrenta todos os dias, mas também a importância e a diferença da vertente do feminismo negro em toda a sociedade.

A personagem inicia a trama como doméstica e sofre na mão de empregadores abusivos e racistas. Sua vida dá um salto quando decide se juntar a Malú para fundar o tão sonhado clube de música, mas em vários momentos é confundida como babá ou doméstica da protagonista, sendo raramente vista como proprietária. Afinal, se uma mulher proprietária de seu próprio negócio já era absurdo, imagine uma mulher preta!

A porta voz da resistência salienta os diferentes contextos sociais para o surgimento das várias vertentes que compõe o feminismo atual:

“Originalmente, o feminismo surgiu nos países centrais da Europa e nos EUA, logo, pensado a partir de mulheres brancas e, em sua maioria de classes média, e com o objetivo de combater o que mais as oprimia na sociedade do século XIX: o patriarcado. As demais vertentes vão surgir em diferentes contextos, conforme mulheres com outros perfis vão ganhando voz na sociedade. O feminismo marxista ganha corpo a partir da Revolução Russa de 1917. O feminismo trans, se não me engano, vai aparecer com mais força na década de 60, sobretudo após a Revolta de Stonewall”.

Thereza (Mel Lisboa), é a caracterização da mulher feminista dos anos 60. Sua personalidade livre choca os outros personagens, fazendo com que a moça seja alvo de duras críticas da família do marido, inclusive de Lídia, sua cunhada na trama.

Apesar de ter uma visão de mundo completamente diferente ela é essencial para série, pois encoraja e ensina as outras personagens sobre feminismo e liberdade sexual em diversas cenas, e seu espírito livre traz para o espectador a importância do feminismo desde sempre e que ele já existia antes mesmo de ter esse nome.

A personagem também tenta encorajar Lídia não apenas a seguir seu sonho de ser cantora, mas também de denunciar todos os abusos sofridos.

“A mídia vem cumprindo um papel importante na divulgação de algumas pautas do feminismo. Claro que isso não acontece por boa vontade dos canais de comunicação. Penso que é a influência das redes sociais, meio que forçou a TV a se adequar. De toda forma, a representação de personagens femininos fortes e com opinião é central na construção de sujeitos femininos com novos valores e que tendem a sujeitar menos à violência do machismo. Penso que o mesmo vale para filmes ou produtos voltados a mulheres adultas. Sempre que um padrão, no caso o padrão "sexo frágil " ou mulher submissa, é quebrado, gera reflexão, debate e abre caminho para possíveis mudanças. Mas veja, são efeitos diferentes dos produzidos em crianças. Na criança você gera um valor, em adultos, põe o valor em xeque", completa a ativista.

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