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31/07/2020 às 19h25min - Atualizada em 31/07/2020 às 19h07min

"Só tem um remédio: boa educação"

Biblioteca do Paiaiá inicia ciclo de lives para dar continuidade a atividade interna, incentivando a leitura

Laisa Gama - Revisado por Renata Rodrigues

Com a Pandemia da Covid-19, muitos locais tiveram que fechar suas portas para que assim tentassem diminuir a curva de contágio. Foi o que aconteceu com a Biblioteca do Paiaiá, no município de Nova Soure, do Sertão da Bahia. Seu principal diferencial quando falamos em questão de bibliotecas se deve pelo fato de se localizar num pequeno povoado com cerca de 600 habitantes, constando com um total de 130 mil livros. O local foi idealizado e produzido por Geraldo Prado, formado em História pela USP e Mestre e PHD em Ciências Aplicadas pela UFRRJ. Com o isolamento social, ele resolveu voltar para casa e para não deixar a biblioteca parada e continuar com seu trabalho na comunidade, criou o Ciclo de Lives do Sertão Conectado. Sua última live aconteceu no dia 25 de julho com o tema de: "A pobreza no campo e a importância das políticas pública: A previdência Social."

Dicas Jornalismo: O que motivou o senhor a começar esse Ciclo de Live Sertão Conectado ?

Geraldo Prado: A gente tinha uma atividade na biblioteca  e com essa situação do corona  não podemos realizar. Era uma atividade de leitura com crianças e adolescentes, mas a biblioteca está fechada, por causa da pandemia. Não fica aberta como antes, que vinham grupos de crianças e adolescentes e ficavam aqui, pegavam livros, liam ou iam pra sala de jogos. Isso no momento não é possível. Então pra não ficar a biblioteca parada nós pensamos em como a live é uma tecnologia nova,  e que ano passado quando fizemos um evento não tínhamos tanta disponibilidade como agora, então pensamos em apresentar alguma coisa, pegar alguns temas importantes.
 

Como se deu o processo de produção dele? Contou com a ajuda de quem?

Geraldo: Eu e o Arivaldo basicamente, que é o presidente da associação da biblioteca. Eu fico na organização e ele na produção. Na hora que vamos apresentar ele que comanda a live pelo computador e eu apresento as pessoas. A primeira live foi com a questão do idoso. Fizemos mais outros, temos uma programação em agosto, mais intensiva. Queríamos fazer uma live por semana. mas tem semana que  fazemos duas ou três. Mas também se botar muitas lives fica cansativo, as pessoas não se interessam. Estamos procurando ver temas que chamam realmente a atenção do público. 

Por quanto tempo o senhor imagina que as lives continuarão? Depois que pandemia acabar pretende continuar ?

Geraldo: Tenho sim a ideia de continuar. Mas não assim, nessa intensidade que estamos fazendo no final desse mês e no mês que vem, então, a partir de setembro. Só temos uma live confirmada que é sobre Paulo Freire no dia de seu centenário em  19 de setembro. Estamos programando também uma live com crianças. Mas ainda não conseguimos fechar porque só temos uma disponível, as outras não querem. E eu faço questão de realizar a live com duas crianças uma daqui e outra de fora. E daí pra frente, se outubro a situação melhorar e eu poder viajar tenho que ir para o Rio de Janeiro, pois estou com o apartamento fechado. Se não melhorar eu tenho que ficar aqui. E assim, pretendo fazer sempre uma live, mas não tem uma programação de quantas por mês.

 

Qual a importância que o senhor dá para o incentivo da leitura, principalmente tendo em vista o cenário atual?

Geraldo: A leitura pode ser diversão né, porque a criança não tem a capacidade de leitura reflexiva, mas o adolescente sim. Então, é desenvolver esse estilo de leitura, por faixa etária, a criança lê os livros de literatura infantil e os adolescentes também, mas eles já podem ser discutidas questões mais críticas criativas daquilo que ele lê. O adulto daqui do interior não lê, é um caso sério, não lê mesmo. Eu poderia generalizar até em todo o brasil, exceto nas grandes cidades, acadêmicos etcs. Mas o público em geral, o povão, principalmente público da periferia não tem esse incentivo da leitura, não leêm. Com o advento das bibliotecas comunitárias isso melhorou um pouco de uns 10 anos pra cá, mas ainda é muito pouco. Aqui no sertão a situação é mais grave, porque aqui o professor não lê, o padre não lê, militar não lê. Não faz isso no sentido de refletir, de pegar o livro estudar, analisar. E esse livro pode ser através da técnica online sendo que ele é mais difícil de ser trabalhado. Quando a pessoa pega um texto eletrônico na internet, mesmo que seja em computador com a  tela grande ele não tem a mesma concentração que tem num livro impresso, que leva mais atenção do que um texto eletrônico.
 

Tem algo a fazer para melhorar esse cenário?
Geraldo: Só tem um remédio: boa educação. Paulo Freire na veia. Mas isso não vai acontecer, principalmente hoje, com o desgoverno que temos. O
Brasil nunca teve uma politica de leitura, você entra na sala de aula e lê um texto. Na minha época, você tinha que decorar e dar lição para a professora, nada de interpretação. Hoje claro que mudou, mas ainda continua frágil. Se você voltar pra o ensino fundamental e médio, principalmente da rede pública, encontra raramente uma experiência  interessante da leitura nessa perspectiva da reflexão, que eu chamo de crítico-criativa. Isso não só no sertão, mas no brasil inteiro, tudo. E isso é mais forte, claro, no meio rural, nas pequena e médias cidades e nas periferias dos grandes centros urbanos. Por exemplo, você pega São Paulo, a maior capital do Brasil, sempre foi considerada como a pior educação pública do país. Mas o nível da educação pública de lá que se concentra basicamente na periferia e nos bairros de classe média baixa, é muito ruim. É preciso ter uma politica séria,de governo federal, estadual na formação principalmente do professor, na instrumentalização das escolas,em suas melhorias e nas das bibliotecas públicas.

 

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