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07/08/2020 às 12h09min - Atualizada em 07/08/2020 às 11h48min

Centenário do velho safado

Charles Bukowski completaria Cem anos em 16 de Agosto de 2020

Caroline Melo - labdicasjornalismo.com
Sites: E-biografia, Homo Literatus, Pensador, Revista Bula, Cultura Genial
Imagem retirada do site Obvious Lounge

 
                                                                                 Divulgação

Para comemorar o Centenário de Bukowski, o Lab Dicas Jornalismo trouxe algumas das facetas desse autor amado e odiado, autêntico e desprezado, sensível e vulgar.

“Tudo o que era mau atraía-me: gostava de beber, era preguiçoso, não defendia nenhum deus, nenhuma opinião política, nenhuma ideia, nenhum ideal. Eu estava instalado no vazio, na inexistência, e aceitava isso. Tudo isso fazia de mim uma pessoa desinteressante. Mas eu não queria ser interessante, era muito difícil.”

Charles Bukowski

Henry Charles Bukowski Jr. nasceu em 16 de agosto de 1920 na Alemanha, mas passou a maior parte de sua vida nos Estados Unidos, e é conhecido como “o último escritor maldito da literatura norte-americana” e, sua alcunha mais conhecida, "velho safado".

O trecho inicial retrata exatamente o porquê do nome Bukowski e sua arte ter sido por tanto tempo mal vista, sua forma de retratar a própria vida é bem clara, recheada de bebidas, mulheres e subempregos, abrangendo seu dia a dia ao lidar com suas inseguranças e incertezas. Seu estilo de vida sempre foi julgado, mas eis que surge uma geração que aclama sua escrita e toda a profundida e impessoalidade deste autor.

Suas linhas trazem obscenidades, mas também a sensibilidade de um homem que tentava curar seus espinhos pela escrita, que mesmo não tendo um emprego importante e com a faculdade incompleta, expressava questões sociais e desabafos pessoais. O efeito disso tudo? Bukowski tornou-se alguém interessante aos olhos do século XXI aos ser desinteressante.

(...) de manhã
eles estão lá fora
ganhando dinheiro:
juízes, carpinteiros,
encanadores, médicos,
jornaleiros, guardas,
barbeiros, lavadores de carro,
dentistas, floristas,
garçonetes, cozinheiros,
motoristas de táxi...

e você se vira
para o lado esquerdo
pra pegar o sol
nas costas
e não
direto nos olhos."

 
Como dito anteriormente, Bukowski descrevia o cotidiano, sua vivência em empregos temporários e braçais para sustentar seu parco estilo de vida, seu trabalho nos correios de Los Angeles e, mais tarde, sua dedicação exclusiva à escrita utilizando o álcool como combustível. A reflexão sobre os trabalhadores no trecho acima é clara, dá a entender uma vida bordada no trabalho e do não gozo da vida, ou talvez este gozo seja encarado de uma forma diferenciada por Bukowski, que veemente negava-se aos padrões e valores estadunidenses ao fazer suas próprias vontades sem sentir a obrigação de escondê-las, mesmo sendo julgado pela sociedade.
 
“É este o problema com a bebida, pensei, enquanto me servia dum copo. Se acontece algo de mau, bebe-se para esquecer; se acontece algo de bom, bebe-se para celebrar, e se nada acontece, bebe-se para que aconteça qualquer coisa.”
 
A melhor forma de conhecer a profundidade e o outro lado do "velho safado", é lendo suas numerosas obras, mais de 45 publicadas, entre romances, contos e poesias, todas refletindo sua vida; uma espécie de autobiografia. Em sua literatura destaca-se:

Misto Quente: Henry Chinaski é o protagonista desta obra e alter ego de Bukowski, ele cresceu nos Estados Unidos da recessão pós-1929,  é pobre, de origem alemã, tem um grande problema com espinhas, um pai autoritário e agressivo, uma mãe passiva, o colégio vai de mal a pior e, pela frente, apenas a perspectiva rasa de trabalho e servidão, visto que o mundo não é dos problemáticos e sensíveis.

Factótum: em meio a tragos, perambulações por ruas marginais, tentativas de publicar seus escritos, vivendo da mão para a boca, o autor iniciante Henry Chinaski vive entre trabalhar informalmente e escrever, sobrevivendo nos Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial e a aclamação de seus combatentes.

Mulheres: Henry Chinaski, um cafajeste honesto, relata suas aventuras amorosas com as mais variadas mulheres, mesclando duas coisas que aprecia: mulheres e álcool, como forma de preencher seu vazio.


Queimando na água, afogando-se na chama: coletânea de poemas, escritos originalmente entre 1955 e 1973, pinta o retrato do autor como um ilustre desconhecido, no auge de seus trinta anos. Entre porres e reflexões, corridas de cavalo e amantes mesclam-se ao seu idealismo submerso.

Crônica de um amor louco: primeiro dos dois volumes da obra 'Ereções, ejaculações e exibicionismos’, este livro em forma de contos gira em torno de personagens desvalidos, quartos imundos em hotéis baratos, bares enfumaçados e o sonho americano reduzido a trapos nas ruas de Los Angeles.

Fabulário Geral do delírio Cotidiano: no segundo volume de ‘Ereções, ejaculações e exibicionismos’, Bukowski continua a revelar o anti-sonho americano - recheado de marginais, viciados, bêbados e prostitutas, pessoas tal qual na vida real, retratadas de forma triste, divertida, escatológica e universal, em toda sua vulgaridade e realidade.
 
 Bukowski é atualmente um escritor aclamado justamente pela forma obscena, para a época em que seus livros foram lançados, e coloquial. Seu sucesso atual remete à fácil identificação com os leitores, sua rebeldia e crueza, o apelo à solidão, desesperança e anti-elitista.

 
 
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