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09/10/2020 às 09h23min - Atualizada em 09/10/2020 às 09h07min

"Gênio dos Quadrinhos": Quino e sua maior obra-prima

Criador de Mafalda falece aos 88 anos de idade

Adélia Fernanda Lima Sá Machado - Editado por Bruna Araújo
E-biografia; G1 notícias; BBC
Arte produzida por colaboradora
 "Que importa a idade? O que realmente importa é perceber que, no fim das contas, a melhor idade da vida é estar vivo", já dizia a pequena Mafalda.

No dia 30 de setembro, o mundo foi surpreendido com a perda de Joaquim Salgado Lavado, o Quino, um dos cartunistas mais conhecidos e irreverentes já visto no mundo das tirinhas. Ficou conhecido por ser criador, ou melhor, o pai da querida, inteligente e astuta criança Mafalda.

Mas de fato, qual foi a trajetória de Quino? Como tudo começou? E quais foram suas criações?

Nasceu no dia 17 de julho de 1932, em Mendoza, na Argentina, e logo cedo ficou órfão de pai e mãe, ambos eram imigrantes espanhóis. Sempre mostrou grande desenvolvimento e vocação no mundo do desenho, com isso, foi matriculado na Escola de Belas Artes de Mendoza. Logo em seguida, iniciou os estudos na Faculdade de Belas Artes da cidade de Mendoza.

A partir de 1949, quando decide abandonar a faculdade, Quino começa de fato sua trajetória rumo ao conhecimento de seu trabalho, que não foi nada fácil. Pois foi só em 1954 que ele conseguiu vender seu primeiro desenho, oferecido para um jornal argentino.

Após três anos da primeira venda do seu desenho, em 1963, foi lançado o seu primeiro livro humorístico, tendo como título “Mundo Quino”. O álbum humorístico é uma compilação dos desenhos de humor gráfico sem a presença de texto e com o prólogo de Miguel Brascó, um escritor, poeta e tradutor argentino.



E foi em 1964 que o cartunista veio a criar sua maior obra-prima, a personagem que fez o cartunista ficar conhecido para além da Argentina. A pequena Mafalda começava a ganhar vida, mas não para o mundo dos quadrinhos que ela foi inicialmente criada, e sim para uma campanha publicitária da empresa de eletrodomésticos Mansfield, mas que não vingou.

Dessa forma, por não ter sucesso no mundo publicitário, Mafalda começou a aparecer em tirinhas nos jornais, a sua primeira aparição foi no dia 29 de setembro de 1964. Neste período, a Argentina estava passando por golpes militares, ou melhor, entre 1962 e 1976, o país passou por três golpes militares, a pequena e recém criada Mafalda foi utilizada como o reflexo da população e principalmente, dos pensamentos de seu criador.

Com humor, perspicácia e resistência Quino transferia seus pensamentos e posicionamentos frente ao cenário do país a criança de 6 anos, que logo depois começou a ganhar mais personagens na sua composição, como seus pais e amigos (Miguelito, Monolito, na sua composição, como seus pais e amigos (Miguelito, Monolito, Filipe, Susanita e a Liberdade), mas de fato, a protagonista em seus traços é Mafalda. 

Apesar de muito criança, Mafaldinha possui pensamentos com enormes críticas sociais. Em suas tirinhas destaca-se assuntos como: questões raciais, de política, gênero, consumismo, desemprego, alienação, dentre tantos outros com um toque de humor e sátira, que são pertinentes até os dias atuais.

As tirinhas de Quino foram traduzidas para mais de trinta idiomas, conseguindo ultrapassar as barreiras da Argentina, que inclusive, em 1974, chegou no Brasil através da Revista Patota, da Editora Arte Nova. Neste período, o país tropical estava passando pela Ditadura Militar, o mesmo cenário da Argentina.

Em 1977, todo o mundo já conhecia os traços de Quino, e neste mesmo ano, suas tirinhas ilustraram a Edição Internacional da Campanha Mundial de Declaração dos Direitos da Criança, a pedido da UNICEF. Passando-se três anos, Mafalda, suas críticas e sua turma foram parar na telinha, como desenho animado.

Joaquim recebeu muitos prêmios por seu talento, humor e traços, dentre eles destaca-se o “Prêmio das Astúrias de Comunicação e Humanidades”, que recebeu na Espanha, no de ano de 2014, mas antes disso, em 1982, ele foi eleito o “Desenhista do ano”, no mesmo período da publicação dos três primeiros livros de Mafalda no Brasil.

Com sua morte no final de setembro deste ano, muitos artistas brasileiros usaram as redes sociais para prestar a solidariedade à família. Dentre eles, Maurício de Sousa, lamentou a grande perca e ressaltou que criou a Mônica e sua turma no mesmo ano que Quino deu vida a Mafalda, demonstrando amizade, admiração e carinho entre os artistas.

"O amigo Quino está agora desenhando pelo universo com aqueles traços lindos e com um humor certeiro como sempre fez. Criou sua Mafalda, hoje de todos nós, no mesmo ano em que eu criei a Mônica, em 1963. Por isso, nos tornamos irmãos latino-americanos para desbravar o mundo dos quadrinhos. Estive com ele em 2015, em Buenos Aires, no Centro Cultural Brasil-Argentina, onde o presenteei com uma Mônica ao lado da Mafalda na comemoração dos 50 anos das duas personagens. Uma pessoa dócil e um dos maiores desenhistas de humor de todos os tempos. Quino vive agora mais forte dentro de nós."



De fato, Joaquim Salgado Lavado deixou seu legado através dos seus traços, no meio da repressão encontrou refúgio na boca e no espaço da menina de 6 anos, a sua inteligência e olhar em relação ao mundo, invadiu casas, corações e representou milhares de argentinos, que logo depois ultrapassou países.

Descanse em paz, Mestre Quino.
 


 
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