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11/12/2020 às 21h54min - Atualizada em 11/12/2020 às 21h52min

A distância de aprender

Os desafios do ensino remoto imposto pela pandemia para estudante

Aila Beatriz da Silva Inete - labdicasjornalismo.com
Photo by Ali Yahya on Unsplash.
Acordar às 5h00 da manhã para ir à universidade fazia parte da minha rotina há 2 anos. Mesmo sendo cansativa, se adaptar a essa rotina não foi muito difícil, já que eu precisava acordar nesse horário para ir para escola desde o ensino médio. Ir para a universidade era como ir para outro mundo, trocar conhecimento e experiência foi algo que me marcou, pois me tirou da minha "bolha" e cada aula e disciplina era uma experiência diferente (às vezes, não tão boa).

A pandemia da Covid-19 nos trouxe mudanças em todos os setores da sociedade. As escolas, universidades e faculdades tiveram que fechar e com isso, empurraram para os alunos um EaD (Ensino a Distância), na maioria dos casos, mal planejado e excludente. Agora, os alunos tentam se adaptar ao um novo sistema de ensino e lidar com os problemas de estrutura e, em muitos casos, instabilidade emocional e financeira.

Fernanda Duarte, estudante do 5° semestre de Serviço social na Universidade Federal do Pará, me conta que é muito difícil se concentrar na aula, principalmente, no convívio familiar. “Sinto dificuldade em organizar meu tempo, porque minhas aulas são no horário da manhã e eu que fiquei responsável em cuidar da casa, arrumar, fazer almoço, entre outras coisas. Acabo não conseguindo conciliar isso tudo para me dedicar da forma que eu deveria aos estudos”, relata Fernanda.

A faculdade de Serviço Social optou em ofertar apenas algumas matérias, práticas e teóricas, sendo feitas uma de cada vez, com aulas síncronas e assíncronas. Mesmo possuindo internet em computador em casa, Fernanda não tem um lugar adequado para estudar, fazer trabalhos e assistir aulas, assim, ela perde o foco rápido e não consegue se concentrar apenas na aula.

Edivani Jaster, de 20 anos, é bolsista do ProUni em uma faculdade particular no Pará, no 6° semestre de Psicologia. Antes da pandemia, ela tinha uma rotina bem cansativa para ir para a faculdade, tendo que, assim como eu, pegar barco e ônibus. Com a pandemia, ela ficou cerca de um mês sem aula até a faculdade anunciar que as aulas retornaram de forma online. “Eles deram as instruções do que nós deveríamos fazer para ter acesso às disciplinas online, mas suporte mesmo, nenhum. As matérias continuam as mesmas da grade curricular, as práticas, dificilmente teve, por exemplo, nesse semestre teríamos uma prática, mas o local que seria feito permaneceu fechado e quando abriu, a gente teve uma visita. Então, praticamente, não teve”, conta Edivani Jaster.

Ela ressalta que passou a vida toda estudando de forma presencial, agora, no segundo semestre nessa modalidade, ela diz que ainda não se adaptou e que ainda é bem complexo. Além disso, ela conta que não consegue absorver todos os conteúdos, e que com a pandemia “foi um banho de água fria”, pois algumas disciplinas que ela estava ansiosa para fazer, acabaram não sendo “tão prazerosas”.

Falta de estrutura: de acordo com o estudo “Acesso Domiciliar à Internet e Ensino Remoto Durante a Pandemia”, feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) cerca de seis milhões de estudantes, desde a pré-escola até a pós-graduação, não têm acesso à internet banda larga ou 3G/4G em casa, no Brasil.

Desses, 5,8 milhões são alunos de instituições públicas de ensino. No início, Edivani teve que lidar com a falta de estrutura (falta de internet, computador, etc). Morando no interior, ela tinha que sair de casa, ir para cidade e voltar só nos finais de semana, até ser instalada uma internet – que não atendia as necessidades. Outro problema era espaço, com a casa cheia, ela tinha que lidar com barulho, trabalho doméstico e não conseguir ficar 100% nas aulas.

Quando nós olhamos para o ensino remoto das escolas municipais e estaduais, a situação é mais complicada. Aqui no Pará, alguns municípios produziram apostilas – sem conteúdos, apenas com atividades – para os estudantes resolverem e levarem até a escola, eles disponibilizaram um aplicativo e site, mas de acordo com os relatos, eles não ajudam. Larissa, de 15 anos, de Barcarena (PA), está tendo que “se virar” para estudar, ou melhor, resolver as apostilas. Ela diz que “está sendo horrível”.

“Eles (escola) estão dando um caderno com mais de 100 atividades com um prazo muito curto para entregar. É muito ruim, a escola não disponibiliza nada para ajudar a gente, não consigo ter acesso às aulas onlines porque nem o aplicativo e o site não funcionam”, afirma a estudante do 9º ano do ensino fundamental.

Some todos os problemas estruturais, mais os problemas pessoais. Fernanda diz que durante esse período, parece que “tudo agravou”. “Me sinto pressionada, principalmente, por ter tantas coisas para fazer, tanto em casa, como nos estudos, os trabalhos, que são passados, um em cima do outro. Já me sentia assim antes da pandemia e agora parece que agravou, isso tudo afeta de alguma forma o meu psicológico”, relata a estudante.

Assim como as meninas, eu também estou tentando me adaptar (e estou falhando) ao EAD ou ERE (Ensino Remoto Emergencial), como a Universidade onde eu estudo chamou. Para a minha sorte, a instituição deixou as medidas flexíveis e quem não quisesse fazer o ERE não ficaria reprovado, mas ainda sim, houve falta de planejamento e instrução, até mesmo para os professores. O futuro ainda parece muito incerto. Será que estaremos seguros para voltar? Se não, vamos ficar mais um semestre atrasado? Então, muitos estudantes decidiram (quem pode escolher) fazer o ensino remoto, mesmo não tendo estruturas. É como dar um passo no escuro.

Referências

Correio Braziliense. 3, setembro, 2020. Educação Basica. Acesso em 07, dezembro, 2020. Disponível em: https://www.correiobraziliense.com.br/euestudante/educacao-basica/2020/09/4873174-cerca-de-seis-milhoes-de-alunos-brasileiros-nao-tem-acesso-a-internet.html

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