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05/02/2021 às 10h53min - Atualizada em 05/02/2021 às 10h28min

"Lolita": uma reflexão sobre a educação sexual

O ensino pode ajudar no combate aos casos de abuso?

Bruna Lima - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Fonte: Reprodução/Google

“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha virilidade. Meu pecado, minha alma. Lo-li-ta: a ponta da língua faz uma viagem de três passos pelo céu-da-boca abaixo e, no terceiro, bate nos dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã, um metro e trinta e dois a espichar dos soquetes; era Lo, apenas Lo. De calças práticas, era Lola. Na escola, era Dolly. Era Dolores na linha pontilhada onde assinava o nome. Mas nos meus braços era sempre Lolita.”

A passagem inicial da obra do russo-americano Vladimir Nabokov soa poética e erudita, assim como todas as linhas do livro “Lolita”, de 1955. As belas palavras, no entanto, soam como música para ouvidos sujos.

Para os que conhecem o exemplar de forma genérica ou assistiram somente ao filme, "Lolita" pode ter interpretações diferentes, mas há uma verdade: não existe amor. Existe obsessão e abusos sexuais sob a narração em primeira pessoa que se deixa julgar pelos leitores a todo momento.

O romance é narrado por Humbert, um homem de meia idade que reconhece sua doença, mas insiste em ignorá-la para se subordinar aos seus prazeres. Do outro lado, Dolores Haze, 12 anos, teimosa, extrovertida e com necessidade de atenção. Características habituais para uma menina em fase de desenvolvimento.

O jogo de palavras e a obscenidade pouco explícita não diminuem os feitos do narrador, que omite as perspectivas da protagonista e revela somente o que deseja. Apesar dos sentimentos não descritos de Dolores, ou Lolita, suas declarações e anseio por fuga demonstram a veracidade. Humbert não mantém sua enteada aprisionada; ela frequenta a escola, faz amigos, conversa com outrem. Tivera, em muitos momentos, a oportunidade de clamar por ajuda.

Há quem acredite que falar sobre sexo com os jovens é um tabu. Na obra de Nabokov, é impossível assumir que a educação sexual impediria o desenrolar literário, mas é uma possibilidade. 

No Brasil, os resultados da última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) apontaram que 27,5% dos estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental já tiveram relação sexual alguma vez. Ainda que muitas vezes precoce, o ciclo social e biológico é natural: descobertas, relacionamentos e relações sexuais; a ênfase se dá no esclarecimento deste contexto.

A estudante Brenda Freire relata que seu primeiro contato com o assunto foi no 7° ano do Ensino Fundamental e, posteriormente, no Ensino Médio: "Foi muito natural e explicativo, nada erotizado. Aprendi sobre prevenção, como também reconhecer que o parceiro pode estar com algo que comprometa minha saúde e vice-versa, como usar a camisinha, sobre a responsabilidade com a nossa integridade física e mental no quesito sexual."

Há registros de discussões sobre educação sexual nas instituições de ensino desde a década de 1970. O termo refere-se à instrução e aos esclarecimentos sobre os aspectos anatômicos e psicológicos da biologia sexual humana – abordar a gravidez precoce; o uso de preservativos e anticoncepcionais; Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST); o funcionamento biológico etc.

Hoje, com 18 anos, Freire reconhece a importância do aprendizado durante a juventude e defende a educação sexual desde que sua pedagogia esteja em concordância com a idade do aluno, pois "aprender é muito melhor do que espalhar doenças sexualmente transmissíveis ou engravidar precocemente por falta de informação."

Um indivíduo esclarecido reconhece situações indesejadas e/ou impróprias. Lolita não teve essa chance, mas a geração de jovens pode ter respostas e desenvolver consciência através do diálogo.
 


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