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05/02/2021 às 22h02min - Atualizada em 05/02/2021 às 21h11min

Saiba porque você deveria entender as direitas

A ideia de homogeneidade dos atores desse espectro político mascara as diversidades de pensamento

Carlos Aquino - Editado por Ana Paula Cardoso
O presidente Jair Bolsonaro durante Ato de entrega de Títulos de Propriedade Rural. (Júlio Nascimento/PR)

Em 7 de janeiro, o presidente Jair Bolsonaro defendeu que: “Se nós não tivermos o voto impresso em 22, uma maneira de auditar voto, nós vamos ter problemas piores do que os Estados Unidos”. A fala faz referência a invasão do Capitólio dos Estados Unidos por apoiadores do então presidente Donald Trump.

Essa não é a primeira vez que o presidente brasileiro faz comentários que colocam em cheque as regras da democracia. No cenário político atual, ele representa o crescimento de grupos autoritários e conservadores no país, os quais são classificados de várias formas. Essas classificações refletem a diversidade  presente no campo político de direita.

 

Definições

Entre os termos mais utilizados, extrema direita e direita radical se destacam no conteúdo político da mídia brasileira. Inclusive, o primeiro atingiu seu pico de popularidade nas pesquisas do Google, segundo o Google Trends em outubro de 2018, mês do pleito que elegeu Jair Bolsonaro.

Para o professor de história contemporânea na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e coordenador do Observatório da Extrema Direita (OED), Odilon Caldeira Neto, a forma como essas duas categorias lidam com a democracia é o que as diferencia. “A extrema-direita é aquela que quer destruir a democracia, a direita radical é aquela que quer transformar a democracia de acordo com as suas  premissas”, define.

Para ele, essas formas de categorização auxiliam o entendimento sobre os grupos analisados, pois é possível entender suas aproximações e distanciamentos. Ernesto Bohoslavsky professor de história da América Latina na Universidad Nacional de General Sarmiento, na Argentina, não gosta das classificações adotadas por serem fotografias de um fenômeno dinâmico, pelo fato de ocorrerem muitas mudanças e incoerências ideológicas nesses grupos.

“Você pode achar caras que falam algo que é normalmente classificado como extrema direita, mas talvez 15 minutos depois ele está falando uma coisa pela qual deveria ser classificado como terraplanista”, explica Ernesto.

Brasil

Desde o começo da década de 2010 é possível notar a grande ascensão dessas direitas no país, algo que é refletido por indicadores eleitorais e de filiação. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com as eleições municipais de 2020, o PSL, importante expoente desse fenômeno, triplicou seu número de prefeituras em relação a 2016. Até setembro do ano passado o partido cresceu 60% em comparação com 2019, indo de 271,1 mil filiados para 435,8 mil. Esse movimento também aconteceu com outros partidos de mesma convergência ideológica.

Quem saiu perdendo foram os partidos tradicionais de direita, como MDB e PSDB, que diminuíram o número de prefeituras e filiados. Para Odilon, o crescimento dessas novas direitas e a perda de força da tradicional não pode ser explicado por um único fator. Mas se destacam “as crises econômicas, éticas e de popularidade relacionadas aos governos progressistas no Brasil, algo que acaba sendo um combustível para este caldo cultural, que é internacional, mas adquire uma viabilidade política mais intensa no caso brasileiro.”

Professor Odilon Caldeira Neto. (reprodução)

América Latina

O mesmo fenômeno acontece com as direitas latino-americanas, que souberam trabalhar muito bem seus discursos, principalmente em questões mais sensíveis para a população. Ernesto comenta que entre as características em comum desses países estão o uso do comunismo como inimigo público, o frequente apelo às forças armadas, o papel da religião e as relações mantidas com os Estados Unidos.
 

“O triunfo das direitas deve ser entendido como  uma tentativa de restauração das hierarquias sociais", diz Ernesto Bohoslavsky.


Outro fator com grande relevância é a forma eficiente como as direitas conseguem se comunicar com pessoas, sobretudo com os mais jovens, por meio das redes sociais. A partir dessa proximidade e a falta de destreza da esquerda, o discurso mais apelativo para o contexto social ganha aderência, como o tema da Segurança Pública. “Claramente a direita foi capaz de escutar demandas as quais a esquerda não conseguiu responder e nem falar nada inteligente”, conclui.

O presidente Jair Bolsonaro durante Ato de entrega de Títulos de Propriedade Rural. (Alan Santos/PR)




REFERÊNCIAS

GOOGLE. Google Trends. Disponível em: <https://trends.google.com.br/trends/explore?date=all&geo=BR&q=extrema%20direita> Acesso em 3 de fevereiro de 2021.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL. Repositório de dados eleitorais. Disponível em: <https://www.tse.jus.br/eleicoes/estatisticas/repositorio-de-dados-eleitorais-1/repositorio-de-dados-eleitorais> Acesso em 3 de fevereiro de 2021.

 


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