Lab Dicas Jornalismo Publicidade 728x90
12/02/2021 às 10h18min - Atualizada em 12/02/2021 às 10h05min

"Babenco - Alguém precisa ouvir o coração e dizer: parou" é uma reflexão sobre a vida e a morte

Filme reconta trajetória do diretor Héctor Babenco e seus últimos momentos no hospital

João Wesley - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto: Reprodução/Cidade Biz
Quando você descobre que tem uma doença sem cura e tem a certeza de que vai morrer, não espera por mais nada além do momento em que a morte lhe chegará. Héctor Babenco não sabia qual desejo lhe vinha primeiro: fazer um filme ou estar vivo. Ele, que passou parte da vida fugindo da morte, foi diretor dos filmes “Pixote, a lei dos mais fracos" (1980) e “Carandiru" (2003), nasceu na Argentina e naturalizou-se brasileiro em 1977. Quando terminou as filmagens de “O beijo da mulher aranha”, em 1984, foi diagnosticado com câncer linfático. Tornou-se paciente e amigo do Doutor Dráuzio Varella, que certa vez lhe disse: “você tem de quatro a cinco meses de vida”. Depois disso, Babenco dirigiu outros seis filmes. Alguns dos que vieram depois do diagnóstico trouxeram um ar de autobiografia, como se fossem o último de sua carreira. O diretor morreu em 2016.

Os últimos momentos da sua vida foram registrados de perto em “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou”. O primeiro filme dirigido pela atriz Bárbara Paz é um tributo a vida e sua finitude. Além disso, é um documentário mosaico sobre a obra de Héctor Babenco, com quem a atriz foi casada. No filme, Babenco fez da câmera de Bárbara Paz um confessionário. Sua maior dor era o fato de que sua relação com ‘fazer coisas’ era difícil. Ele refletia em como o imaginar e o fazer estavam distantes um do outro, como o tempo é curto. Tinha a “sensação de que a [sua] grande obra não foi feita."


Com isso em mente, decidiu fazer um filme sobre sua morte. Na verdade, ele já havia vivido a sua morte, só faltava fazer o filme. Acredito que todos nós já imaginamos como será nossa morte e o que acontecerá depois dela. Héctor Babenco queria que muitas pessoas sentissem sua falta. Também imaginava como gostaria que fosse o seu último dia de vida: uma reunião domiciliar com amigos, comida e caipirinha. “No dia da minha morte tem que ter um médico. Alguém que ouça o coração, certo? E dizer: parou.”

O filme de Bárbara Paz faz com que a morte pareça um sonho. Não digo sonho como um desejo a ser alcançado, mas sim o próprio ato de dormir e sonhar. As tomadas do filme, do início ao fim, trazem uma escala de cinza brilhosa e se intercalam entre Héctor Babenco no hospital, narrando sua condição de saúde para a esposa e os médicos, e momentos de sua trajetória como diretor, intercaladas com imagens de seus filmes.

“A ideia do fim é insuportável”, Babenco diz. É insuportável tanto para você, sabido de que vai morrer, tanto para quem está ao redor, sabido de que por mais que você tente, não é possível controlar a morte. “Babenco – Alguém tem que ouvir o coração e dizer: parou” foi escolhido pela Academia Brasileira como representante do Brasil nas categorias Melhor Filme Internacional e Melhor Documentário do Oscar 2021, mas não foi selecionado na lista final de indicados.

Link
Notícias Relacionadas »
Comentários »