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26/02/2021 às 10h31min - Atualizada em 26/02/2021 às 10h26min

Polícia e MP dizem que áudios permitem reabrir investigação sobre Padre Robson de Oliveira

Segundo o Secretario de Segurança de Goiás, os conteúdos das mensagens, e-mails e as gravações são o suficiente para justificar o destrancamento da ação e para que essas pessoas sejam investigadas

Julia Wellmann - Editor: Ronerson Pinheiro
Padre Robson durante uma celebração - Foto: Afipe/Reprodução
 
Em 2017, o Padre Robson de Oliveira, sacerdote da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade, Goiás, prestou queixa na polícia após sofrer extorsões por um hacker que havia invadido o seu computador e estava ameaçando expor as informações encontradas. Após a prisão do hacker, uma série de chantagens foi desencadeada.

As investigações constataram que o Padre havia pagado dois milhões de reais ao hacker, dinheiro retirado da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe), criada pelo presbítero, que recebiam doações de fiéis e empresas para a construção da nova basílica de Trindade, que está em obras desde 2012. Ao causar estranhamento, o Ministério Público de Goiás iniciou uma investigação para descobrir para onde ia tanto dinheiro, e a partir das apurações, encontraram transações imobiliárias suspeitas e saques milionários de dinheiro em espécie, fazendo com que o Padre, de principal vítima se tornasse réu em diversos crimes, como lavagem de dinheiro, apropriação indébita e falsidade ideológica.

A quantia suspeita, segundo os investigadores, seriam dois bilhões de reais movimentados em dez anos, incluindo fazendas, um avião e uma casa de praia na Bahia. Em agosto do ano passado, foram apreendidos na operação Vendilhões, que investigava o desvio de R$120 milhões de reais das doações de fiéis, mensagens de texto, documentos e gravações que o próprio sacerdote fazia durante as reuniões que participava. Em outubro, o Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), decidiu trancar a investigação por falta de provas.
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Os áudios

Todas as mensagens de voz, de texto e as gravações das reuniões passaram por uma perícia técnica e foi confirmado que nenhuma delas possui alterações, a voz pertence ao Padre Robson de Oliveira.

Responsável por investigar o caso de extorsão que o sacerdote estava sofrendo de uma jornalista e seu marido, a Delegada de Trindade, Renata Vieira da Silva, se mostrou íntima do Padre nas mensagens trocadas. Em uma delas, o sacerdote afirma que ele mesmo irá dar um jeito em Ubiracimar dos Santos, conhecido como Ubira, marido da jornalista. “Eu vou levar um policial e uma pessoa armada pra me proteger, a gente vai fazer isso tudo fora do padrão legal. Nós vamos dar um chega nesse caboclo lá, mas vai ser na base do ‘faroeste caboclo”, comenta o padre. “É um caso extremo, né? Se for preciso criar uma história em cima disso aí, você tá junto comigo. Você me libera dessa situação se acontecer o extremo ali” complementa, pedindo ajuda da delegada.

Chegando ao local combinado, Padre Robson grava tudo, Ubira pede 500 mil reais, o Padre faz uma contraproposta de 200 mil e pede pra ele pensar melhor. Ambos se despedem, sem tiros e nem troca de dinheiro.

Em 2019, a Afipe comprou uma grande fazenda em Goiás, mas foi processada pelo dono. Segundo ele, a associação deixou de pagar 15 milhões de reais. A entidade perdeu a ação movida pelo dono da fazenda, mas conseguiu reverter à sentença na segunda instância. Segundo a investigação, isso teve um preço - o Padre possuía “portas abertas” com desembargadores no Tribunal de Justiça de Goiás, e em um dos áudios gravados, o religioso discutia sobre o suborno com o advogado Claudio Pinho. “Ele tá dizendo que para ganhar no tribunal, ele comprou pessoas”, comenta o advogado. “O senhor se comprometeu com 750 mil lá, só pro senhor ter noção, dos três desembargadores, 500 pra um e o resto é dividido pra dois”, completou.

Em uma das reuniões, o Padre comenta com dois advogados sobre estratégias que queria implantar em alguns processos. Ao ser perguntado o que era para fazer com Anderson Fernandes, diretor jurídico da Afipe, que já vinha tendo desavenças com o padre por possível medo do avanço das investigações, o religioso fala para dar um jeito nele. “Se você pudesse matar ele pra mim eu achava uma benção, acaba com esse cara, pra mim até hoje foi atraso”, responde Padre Robson.

Em várias mensagens de texto é possível ver a relação próxima entre o Padre Robson e a delegada Renata. Segundo os investigadores, no inquérito que apurava a extorsão, o sacerdote não prestou depoimento. Ele teria escrito e mandado para a delegada por e-mail. “Renata, mandei pra você aí, é uma coisa bem laica, mesmo. Eu fiz da minha cabeça aqui, se você quiser mudar também, muda tá?”, falou Padre Robson em um dos áudios. Renata então corrigiu e pediu para ele entregá-la lacrado dentro de uma caixa. “Bem lacrado, viu?”, alertou.

A delegada passava informações sigilosas da polícia para o sacerdote nas mensagens de texto, informava onde os delegados estariam e como estava o andamento do caso dele. Ela também pedia favores a ele, e em uma mensagem, conta que achou uma passagem em conta para a Bahia e pergunta para o Padre se a casa que ele ofereceu para ela estava disponível.

Segundo o Secretário de Segurança de Goiás, Rodney Miranda, os conteúdos das mensagens, e-mails e as gravações são o suficiente para justificar o destrancamento da ação e para que essas pessoas sejam investigadas.

A defesa

Em nota, a delegada Renata Vieira diz que é amiga de Padre Robson desde 2009, diz também que presidiu a investigação de eventual crime de extorsão em que o sacerdote era vítima e que obedeceu às normas da lei.

O advogado Claudio Pinho afirma que o suborno nunca aconteceu e que o áudio investigado é possivelmente uma montagem.


A presidência do Tribunal de Justiça de Goiás, afirma que não se pode presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente.

Em nota, a defesa do Padre Robson de Oliveira disse que desconhece o conteúdo das mensagens, ao mesmo tempo, afirmou que elas são “frutos de montagens e adulterações feitas por pessoas inescrupulosas”, acrescentou ainda que o sacerdote é vítima de extorsão e perseguição.

Anderson Fernandes afirma que no episódio em que o Padre diz que queria mata-lo era claramente uma brincadeira, disse que o padre falava isso brincando com frequência, inclusive na frente dele, afirma ainda que a gravação é uma montagem e que está sendo usada de forma descontextualizada e erronia.

O Supremo Tribunal de Justiça está analisando o destrancamento dessa ação penal, mas outras medidas estão sendo tomadas. A delegada Renata Vieira foi afastada do cargo na sexta-feira, e está passando por uma correção, já o material segue sendo analisado pela própria corregedoria.


Editora-chefe: Lavínia Carvalho. 

 
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