José Falero nasceu em 1987, em Porto Alegre. Foi servente de pedreiro, supridor de supermercado e auxiliar de cozinha. Não gostava de ler até que, depois de tanta insistência da irmã, ele leu uma das obras de Bertolt Brecht. Em entrevista — reproduzida da Revista Trip — ele contou que passou a pensar: “Se ler é tão bacana e eu fiquei a vida toda pensando o contrário, quantas outras coisas bacanas devem existir, coisas ao meu alcance, e que até agora eu não experimentei?”.
Assim, Falero passou a devorar os livros e, disciplinadamente, a escrever. Em 2019, de forma independente, lançou o elogiadíssimo livro de contos, Vila Sapo, que explora o cotidiano da comunidade em que cresceu, na Lomba do Pinheiro. E em novembro de 2020, José Falero lançou, pela editora Todavia, o seu primeiro romance: Os Supridores.
O livro conta a história dos amigos Pedro e Marques, funcionários da rede de mercados Fênix, que decidem vender maconha com o intuito de melhorar suas vidas, mostrando uma representação da realidade do Brasil desigual. No livro, os conceitos de Karl Mark são apresentando quando um dos personagens principais dialoga com o outro sobre as questões de classe, trabalho, exploração e outros assuntos, tudo de forma simples e clara.
“A ideia veio do seguinte: em primeiro lugar, minha irmã, após ler um romance de ficção especulativa que eu andava escrevendo, disse que gostou da minha escrita, mas que eu precisava escrever algo que tivesse mais a ver com o mundo real de modo geral e com a nossa experiência social em particular; em segundo lugar, o momento da minha vida em que comecei a ter contato com o pensamento marxista coincidiu com a minha entrada no primeiro supermercado em que trabalhei como supridor”, contou o autor em entrevista à Revista Trip.
“Os Supridores” é um livro da literatura marginal, nascida por volta de 1970 é caracterizada pela exposição de ideias e da realidade periférica através do meio literário. Violência, pobreza, precariedade urbana e relações trabalhistas, são alguns temas da literatura marginal. Entre os principais autores podemos destacar: Paulo Lins, com o livro “Cidade de Deus”; Férrez, com “Capão Pecado” e Sergio Vaz, com “O colecionador de Pedra”.
Foi a partir de um post em uma rede social, uma história ambientada fora da zona central da cidade, que teve muitos compartilhamentos e comentários, que Falero entendeu que estava inserido na literatura marginal. “As pessoas começaram a marcar amigos, e assim, de repente, conheci uma 'pá' de gente igual a mim. Gente que já publicava há muito tempo, da chamada literatura marginal, e outros que ainda não haviam conseguido expor seu trabalho. Eu fazia parte de uma rede, mas ainda não sabia”, contou José Falero em entrevista no GZH.
Para o autor não existe nada de “fantástico em escrever um livro”. Em entrevista à Revista Trip, ele disse ter horror aos sistemas de distinção que imperam na nossa sociedade. “Eu penso que a gente tem que arrancar a literatura do altar burguês em que ela foi metida. Eu acredito que a literatura deve pertencer ao povo”, relatou o escritor.