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09/04/2021 às 03h28min - Atualizada em 09/04/2021 às 03h11min

A poesia que continua ecoando por gerações

O poeta João Cabral de Melo Neto marca com sua trajetória de vida a história da literatura brasileira

Sheyla Ferraz - Editado por Andrieli Torres
Foto/Reprodução: Revista Continente

João Cabral de Melo Neto, nome importante para a nossa literatura. Foi escritor, diplomata e poeta. Nasceu em Recife, no dia 9 de janeiro de 1920 e faleceu aos 79 anos, no dia 9 de outubro de 1999. Em 2020 comemorou-se o centenário do poeta.

Fez parte da Geração de 45, a terceira geração modernista no Brasil. Foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, recebido por José Américo, em agosto de 1968. Com seu talento em grande potencial, João Cabral viajou por diversos países levando ao conhecimento de milhares de pessoas a sua habilidade impecável de expressar e tornar inesquecíveis histórias e sentimentos em forma de poemas.

Com seu dom e talento repercutindo dentro e fora do país, o escritor e poeta foi também a República africana do Senegal, e em 1984 na cidade de Portugal foi designado para o posto de cônsul-geral.

Como consequência a tamanha visibilidade, ele recebeu vários prêmios, entre eles: Prêmio José de Anchieta, de poesia, do IV Centenário de São Paulo (1954); Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras (1955); premiação de Poesia do Instituto Nacional do Livro; Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro; Bienal Nestlé, pelo conjunto da Obra e o Prêmio da União Brasileira de Escritores, pelo livro "Crime na Calle Relator" (1988).

                                            

Boa parte de seus primeiros livros tem expressões profundas e rebuscadas, o escritor assume identidade própria ao escrever os poemas. Além de características como a objetividade, aspectos surrealistas, rigor semântico, a abordagem de temas sociais e por fim, aspectos formais da poesia e uso da metalinguagem.

João Cabral desde sua infância já amava a leitura. Exercia o hábito por prazer, tanto na escola quanto na casa da avó. Em 1941 participou do 1° Congresso de Poesia do Recife, fazendo a leitura do impresso “Considerações sobre o Poeta Dormindo”.

O escritor e pesquisador Antônio Carlos Secchim, publicou dois livros em homenagem ao poeta, o primeiro; “João Cabral, a poesia do menos” que deu origem a outro livro do escritor, chamada “João Cabral de Melo Neto” a qual resume todas as obras do poeta.  A primeira obra citada é oriunda da junção da dissertação de mestrado e de sua tese de doutorado. Durante este processo, Secchim teve a oportunidade de conhecer pessoalmente sua maior inspiração literária, em quatro de novembro de 1980.

Ele conta que se comprometeu a estudar todas as obras de João Cabral e lamenta pelo poeta não ter visto o resultado final do projeto, sendo, portanto, publicado 14 anos após sua morte. Para Antônio Carlos, João Cabral “não é um poeta do subterrâneo, é um poeta da superfície da vida, da pele da vida, do corpo, das pessoas e do corpo do mundo.”

São 20 obras ao todo, sendo “Morte vida Severina” considerada a obra que foi ponto de partida para o sucesso do poeta pernambucano. João Cabral encerrou sua passagem terrena eternizando em sua geração e nas gerações futuras o precioso valor da poesia para o acervo da literatura brasileira. Privilégio de não apenas o Brasil, mas também de outros países ouvirem e “saborearem” a forma Cabral de Melo de fazer poesia.



Morte e Vida Severina

— O meu nome é Severino,
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias. (...)
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte Severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia.


                                                   
 
Veja também a entrevista de Antônio Carlos Secchim, na íntegra, no programa Trilha de Letras da TV Brasil: https://www.youtube.com/watch?v=KaAUeH_QiqE. Secchim compartilha riquíssimos detalhes da vida pessoal e da visão de mundo que João Cabral tinha.  

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