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23/04/2021 às 12h08min - Atualizada em 23/04/2021 às 11h54min

Alfredo Bosi: uma vida dedicada à literatura e aos direitos humanos

“O poeta é o doador de sentido”, frase dita por Alfredo Bosi, ex-professor da USP que faleceu recentemente vítima da Covid-19

Jennifer Valverde - Editado por Gustavo Henrique Araújo
Foto: Alfredo Bosi | Reprodução: UOL
 

“Eu sou um usuário de uma sociedade que tem objetos extraordinários e que eu não compreendo por causa da extrema especialização da ciência e da técnica.” 

No dia 07 de abril de 2021, o Brasil perdeu um de seus mais importantes críticos literários, Alfredo Bosi, paulistano, descendente de italianos, aos 84 anos, que faleceu em decorrência da Covid-19.

Alfredo foi professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciência Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), crítico, escritor, historiador literário e sétimo ocupante da cadeira nº 12 da Acadêmia Brasileira de Letras desde 2003. 

 

Iniciou seus estudos em letras neolatinas na Universidade de São Paulo em 1955 e em 1958 se especializou em literatura brasileira; quando estava pronto para lecionar ganhou uma bolsa para estudar na Itália, onde passou dois anos estudando estética e filosofia da renascença na Universidade de Florença.

De 1963 a 1970, retomou o ensino de literatura na USP, local onde dedicou praticamente toda a sua vida. Alfredo publicou mais de 20 obras sobre cultura e literatura, dentre elas estão os livros “História Concisa da Literatura Brasileira” (1970); “Dialética da Colonização” (1992), que ganhou o prêmio Jabuti de 1993, o prêmio Casa Grande & Senzala de 1993 e o prêmio APCA de 1992. 


Além de sua vida acadêmica e literária, Bosi também participou de movimentos e projetos sociais; dentre esses, lutou pela aprovação de um projeto contra as usinas poluidoras na cidade de Cotia que eram as grandes responsáveis por problemas respiratórios dos moradores da região. 

 

Alfredo acreditava na cultura que vai além da forma de expressão, na cultura da experiência, em que tudo era cultural. Em um seminário de 2015, o professor diz:
 

 

“É muito difícil definir cultura, a medida em que a palavra, hoje, adquiriu uma menção, uma latitude. Fala-se de tudo. Tudo é cultura!”

Ele ressalta que a cultura está ligada diretamente ao ato de adquirir experiência e de pensá-las, vivê-las em nosso cotidiano.
 

“Cultura está ligada à experiência. Só existe cultura realmente quando tivemos determinadas experiências, quando o nosso cotidiano é pensado. Cultura de uma maneira genérica é a experiência pensada, a vida pensada”, expõe e concluí dizendo: “Um homem culto, dentro dessa ordem de ideias, seria aquele que além de viver espontaneamente, tem aquele momento de reflexão.”

Alfredo era viúvo de Ecléa Bosi, que foi professora emérita do Instituto de Psicologia da USP, falecida em 2017. Teve dois filhos: Viviana Bosi, também professora da FFLCH-USP, e José Alfredo Bosi.  
 

O escritor deixa um legado extenso para a literatura e a cultura brasileira que continuará a ser apreciado por várias gerações. Nas palavras de Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP: “O Brasil perde uma de suas mais relevantes referências culturais e um dos grandes homens entre os que dedicaram a vida à defesa da democracia e dos direitos humanos. Mais do que nunca, o país precisa de personalidades como Bosi; sua falta será sentida”, afirma.
 


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